Durante anos, acreditei muito do que ouvia sobre os millennials – aquelas pessoas que comem torrada com abacate, são narcisistas que ainda vivem nas casas dos pais e não conseguem resolver suas próprias vidas. Então percebi algo que me surpreendeu: eu sou millennial, assim como muitas pessoas que conheço e amo.
Por muito tempo, dizia para mim mesma que meus amigos e colegas de classe eram mais velhos e mais sábios do que esse grupo tão criticado. Mas, quando comecei a cobrir dados demográficos para a CNN, aprendi que 1981 é o ano de nascimento que muitos pesquisadores identificam como o início da geração millennial.
Nasci em 1982. Fiz 40 anos no ano passado. Assim como milhões de outros millennials nos Estados Unidos.
É isso. A geração há muito retratada como jovem e ingênua está entrando na meia idade.
É um marco notável, e uma boa oportunidade para apontar algo importante: o Mito dos Millennials é muito diferente da realidade que muitos de nós estamos vivendo.
Mito 1: Nós só pensamos em nós mesmos
Em maio do ano passado, meu marido precisou viajar e eu fiquei cuidando da nossa bebê sozinha pela primeira vez. “Eu consigo”, pensei, tentando me tranquilizar. “Não vai ser tão difícil”.
Então, numa noite, os dois primeiros dentes da minha filha começaram a romper nas gengivas. Depois de assistir pela babá eletrônica o sofrimento que ela sentia no berço pelo que provavelmente foram apenas alguns minutos, mas pareceram uma eternidade, eu acabei segurando-a no colo pelo resto da noite para confortá-la.
Millennials como eu estão muito ocupados fazendo malabarismos com nossas responsabilidades no trabalho e cuidando dos outros em casa para serem tão obcecados por si mesmos – como temos sido retratados todos esses anos.
No rol de coisas difíceis que os novos pais podem passar, isso não foi nada. Mas eu fiquei exausta. E ela também.
Quando amanheceu, sentamos juntas com os olhos inchados no chão do quarto dela. O pijama da bebê estava todo respingado de Tylenol infantil sabor cereja que ela cuspiu após as minhas tentativas de medicá-la.
Mesmo assim, conseguimos brincar por alguns minutos naquela manhã. Ela sorria e parecia que tínhamos cumprido uma maratona e finalmente era hora de relaxar.
Então, meu telefone tocou com notícias terríveis e inesperadas.
Minha mãe tinha acabado de morrer.
Fiquei abalada, atordoada e perdida em lágrimas e soluços. Olhei para a minha filha brincando ao meu lado. Havia tantas perguntas que eu gostaria de ter feito à minha mãe sobre como cuidar da minha bebê.
Em vez de ligar para minha mãe naquele dia para pedir conselhos, eu precisa correr para Michigan para ajudar a planejar seu funeral.
Subitamente, no mesmo ano eu me tornei mãe, também perdi a minha mãe.
Faltava menos de dois meses para o meu 40º aniversário.
Os millennials apareceram na capa da revista “Time” há quase uma década sob o título “A Geração Eu, Eu, Eu (“The Me Me Me Generation”), cimentando nossa imagem de pessoas obcecadas por si mesmas.
Mas, para mim e muitos outros, o que realmente significa ser um millennial nos dias de hoje é algo bem diferente. Somos a mais nova geração sanduíche, sentindo uma pressão crescente entre criar filhos pequenas e cuidar de membros idosos da família – ou pelo menos querendo cuidar deles, dado tudo o que eles fizeram para cuidar de nós, mas lutando para saber o que fazer.
Millennials como eu estão muito ocupados fazendo malabarismos com nossas responsabilidades no trabalho e cuidando dos outros em casa para sermos tão obcecados por nós mesmos – como temos sido retratados todos esses anos.
Como todas as gerações antes de nós, estamos crescendo. Mas o Mito dos Millennials está errando o alvo há muito tempo.
Há anos, por exemplo, as manchetes têm divulgado que os millennials não estão tendo filhos. A realidade, no entanto, é mais complicada, de acordo com Kim Parker, diretora de pesquisa de tendências sociais na empresa global de pesquisas Pew Research Center, sediada em Washington.
“As mulheres estão tendo filhos mais tarde. Mas, quando olhamos para o número de filhos, notamos que elas não estão necessariamente tendo menos filhos, apenas começando mais tarde”, explica Parker. “É um adiamento, não necessariamente uma forma completamente diferente de abordar a vida familiar”.
Jason Dorsey, que escreveu vários livros sobre millennials e baseou sua carreira em como ajudar o mundo corporativo a entendê-los, diz que os memes sobre millennials egoístas simplesmente não combinam com a realidade.
“Os millennials mais velhos nos dizem que estão sendo pressionados em três direções diferentes”, afirma Dorsey, presidente do Center for Generational Kinetics, com sede em Austin, Texas.
“Muitas vezes, eles cuidam de um ou mais filhos. Frequentemente precisam cuidar de um dos pais ou de ambos. E tentam equilibrar seus empregos. É muita coisa ao mesmo tempo; é um momento muito estressante”.
As gerações anteriores também passaram por essa fase da vida, diz Dorsey. Mas, desta vez, há algo diferente.
“O que há de novo é fazer isso aos 40 anos, com tantas pessoas tendo filhos muito pequenos”, explica.
Muitos millennials de meia idade como eu estão sentindo essa pressão mesmo em nossos momentos mais felizes. Dorsey diz que ainda há muita pesquisa a ser feita sobre como essa mudança está transformando nossa sociedade.
Como isso moldará o tipo de pais que nos tornamos, ou a maneira como lidamos com o trabalho, ou as escolhas que fazemos em outras partes de nossas vidas?
Mito 2: Todos nós compartilhamos as mesmas experiências
Não é necessariamente surpreendente que, durante anos, eu não notava que era parte dos mais de 72 milhões de millennials nos Estados Unidos.
Alguns especialistas argumentam que analisar nossa sociedade usando rótulos de geração é tão confiável e científico quanto usar o horóscopo.
Eles afirmam que outros tantos fatores podem moldar a vida de alguém do que o ano em que nasceram, entre eles raça e status socioeconômico, por exemplo. Quando você rotula e analisa todo um grupo de pessoas sem precisar se aprofundar nesses detalhes, nuances importantes sobre a mudança social acabam se perdendo.
“Desenhar linhas arbitrárias entre os anos de nascimento e cravar nomes para eles não ajuda em nada”, escreveu Philip N. Cohen no ano passado num editorial do jornal “The Washington Post”.
Professor de sociologia da Universidade de Maryland, Cohen lidera um grupo de acadêmicos que pressiona o Pew Research Center e outros institutos para pararem de promover rótulos geracionais.
Eu entendo o lado deles.
Alguns dos meus amigos que são millennials mais jovens, no final dos 20 anos, arregalam os olhos quando falo sobre as fitas de vídeo que assistia na infância ou como era bom ouvir aquele tom delicioso, agudo e estático que significava que seu computador de casa estava lentamente “entrando na internet” através de uma conexão discada.
Grandes eventos que moldaram nosso mundo aconteceram em pontos muito diferentes em nossas vidas. Eu estava na faculdade no 11 de Setembro; eles estavam no ensino fundamental. Eu estava fazendo pós e procurando emprego durante a Grande Recessão; eles ainda estavam vivendo com seus pais.
Alguns argumentam que a divisão entre nós é tão grande que os millennials mais velhos como eu devem realmente obter uma categoria própria (às vezes combinada com membros mais jovens da geração X).
A nossa chamada microgeração foi apelidada de xennials, a geração Oregon Trail (por causa de uma série de jogos educativos para computador) e – mais recentemente e de forma controversa – os millennials geriátricos.
“É importante não rotular aqueles dentro de um período de 20 anos como sendo iguais”, afirma Erica Dhawan, pesquisadora, autora e consultora que cunhou o termo “millennial geriátrico” em um texto para Medium no ano passado. Como eu, ela diz que ela nunca se sentiu como se o rótulo millennial lhe servisse.
Para tornar as coisas ainda mais confusas, não há uma definição concreta de quando a geração millennial começa e termina.
O livro de 1991 que é creditado como introdutor do termo afirma que os millennials nasceram a partir de 1982. Definições amplamente citadas no site do Pew Research Center descrevem os millennials como aqueles nascidos entre 1981 e 1996.
Outros pesquisadores têm apresentado teorias de que os millennials nasceram no final da década de 1970 e até o início dos anos 2000.
A forma como falamos de grupos de pessoas nascidas em qualquer período e os nomes que usamos para descrevê-las pode mudar ao longo do tempo. A “Geração Y” costumava ser uma maneira mais comum de rotular nossa geração, antes que o termo “millennials” prevalecesse.
Não importa o nome ou a definição: há uma diferença de idade considerável entre os membros mais velhos e mais jovens de nossa geração, e uma ampla gama de experiências de vida que todos nós tivemos.
Será que ainda vale colocar todos no mesmo rótulo?
“É uma lente útil, mas não é a única”, admite Parker, do Pew Research Center, “e é importante levar em conta todos os outros fatores que estão causando essas diferenças, em vez de apenas fazer parte de uma geração”.
Agora que sei que sou millennial, ainda não estou pronta para desistir do rótulo. Mas quero ajudar na definição e esclarecer os estereótipos persistentes sobre nossa geração. Ah, um aviso importante: eu adoro torradas com abacate.
Mito 3: Nós não temos o sonho da casa própria
A pergunta que assombra meu marido e eu e que aparece em conversas com amigos, entes queridos e até mesmo estranhos é: “Você pensa em ter uma casa própria?”
Durante anos, esse marco não importava muito para nenhum de nós. A gente alugava, emprestava a casa de amigos e concentrava nossa energia e finanças em fazer coisas juntos em nosso tempo livre.
Mas, agora que temos uma filha, comprar uma casa parece algo ser que já deveríamos ter feito. Também soa como algo que está cada vez mais fora do alcance, com os custos de habitação elevados e as taxas de financiamento imobiliário nas alturas.
Não estamos sozinhos em sentir que estamos para trás em dar esse grande passo, de acordo com Kevin Mahoney, consultor financeiro em Washington especializado em ajudar os millennials.
“As pessoas estão muito estressadas por não terem um imóvel”, contou. “Uma coisa que eu tento transmitir é que tudo bem alugar. Você está adquirindo flexibilidade e tempo para descobrir como quer que sejam seus próximos dez ou 20 anos”.
Apesar de muitos textos afirmaram que os millennials não compram casas, Mahoney aponta que muitos estão, sim, dando esse passo. Segundo o especialista, uma das razões para a crise da habitação dos EUA é que mais millennials estão entrando agora no mercado imobiliário.
Ficou mais difícil comprar uma casa pela primeira vez, o que complica se você tem 20 e poucos ou 30 e poucos e pagou aluguel durante anos.
Grey Kimbrough, economista e professor
Os millennials mais velhos, com 32 a 41 anos, constituíram um quarto dos compradores de imóveis nos EUA em 2022, de acordo com um relatório da National Association of Realtors. Os millennials formam a maior fatia de compradores de imóveis desde 2014.
Mas, como a CNN informou, muitos estão em situação pior do que seus pais.
Além disso, os millennials são menos propensos a ter imóveis nesse ponto de suas vidas do que as gerações anteriores. Há uma boa razão para isso, de acordo com Gray Kimbrough, economista e professor adjunto da American University, em Washington, que tuita bastante sobre os mitos a respeito da geração Y.
“Ficou mais difícil comprar uma casa pela primeira vez, o que complica se você tem 20 e poucos ou 30 e poucos e pagou aluguel durante anos”, explicou. Isso sem falar que os millennials enfrentam um cenário financeiro muito mais sombrio que as gerações mais velhas, segundo Kimbrough.
“É muito difícil pensar em se casar, ter filhos, deixar de dividir a casa com colegas e fazer qualquer uma dessas transições com o mercado imobiliário que temos agora”, continuou Kimbrough.
Meu marido e eu tentamos não ficar muito encanados com essa realidade assustadora.
Estamos visitando casas à venda na maioria dos fins de semana e planejando marcar reuniões com corretores em breve.
Nessa altura do ano que vem, esperamos estar vivendo em nossa casa própria.
Mito 4: Não levamos nosso trabalho a sério e não ficamos no mesmo emprego muito tempo
Jason Dorsey me diz que ele muitas vezes faz uma pergunta quando é convidado a visitar empresas e falar com seus funcionários: “Quantos de vocês são millennials?”
Geralmente, apenas alguns levantam a mão timidamente.
“Eles esperam que isso seja negativo, porque infelizmente é assim que somos enquadrados nos últimos 15 anos”, relata Dorsey.
Tudo começou, segundo ele, quando uma onda antimillennials se intensificou. Há até um ponto inicial: em 2007, Dorsey apareceu em uma matéria do programa de TV “60 Minutes” com a chamada capciosa de “Os millennials estão chegando”.
O repórter Morley Safer não economizou nas críticas ao abrir a reportagem: “Uma nova raça de trabalhadores norte-americanos está prestes a atacar tudo que é sagrado para você, desde dar ordens até usar sua camisa branca engomada e a gravata”.
Ele alertava que “o local de trabalho se tornou um campo de batalha psicológico e os millennials estão em vantagem”, descrevendo uma geração que pode ser “multitarefa, ou seja, que conversa, anda, ouve, digita e envia mensagem” ao mesmo tempo.
“Eles falaram de nós como se fôssemos alienígenas do espaço”, lembra Dorsey.
Perdi esse segmento quando saiu. Eu era um repórter de jornal na época, provavelmente lutando para cobrir as últimas notícias no turno noturno do fim de semana que iniciou minha semana de trabalho de muito mais do que 40 horas.
Acho que teria achado a premissa problemática mesmo naquela época, mas agora, com a clareza da visão retrospectiva, a história de “60 Minutes” parece quase caricatural – outro capítulo em um conto tão antigo quanto o tempo.
“A ansiedade da geração mais velha preocupa-se com a ingênua geração mais jovem está destruindo tudo” poderia ter sido um título igualmente adequado.
A consultora e autora Lindsey Pollak, que aconselha empresas sobre como navegar em locais de trabalho multigeracionais, acredita que a ascensão da mídia social é parcialmente responsável pela má reputação da geração do milênio. Pollak diz que nossa geração atingiu a maioridade sob um microscópio diferente de qualquer geração antes de nós.
“Todas as críticas aos millennials – dissemos isso sobre todas as gerações, mas foram amplificadas pela internet e pelas mídias sociais”, ela me disse.
A geração do milênio não foi a única mais propensa a pular de emprego no início de suas carreiras. Na verdade, eles estão trocando de emprego menos.
Gray Kimbrough, economista e professor
Dorsey diz que, durante suas apresentações, frequentemente surgem detalhes sobre a geração do milênio que surpreendem muitas pessoas na sala.
“Acontece que eles são a maior geração da força de trabalho daquela empresa”, diz ele.
Ele descobre que muitos funcionários aderiram ao estereótipo e presumiram que a geração do milênio era preguiçosa ou esquisita. Mas, na verdade, diz ele, a geração do milênio geralmente está entre os funcionários e gerentes mais bem-sucedidos de uma empresa. E no fim de sua apresentação, todos eles estão levantando a mão.
Kimbrough me diz que a geração do milênio permanece no emprego por tanto tempo quanto as gerações anteriores.
Eu não vi essa matéria quando ela foi ao ar. Eu era repórter de jornal impresso na época, provavelmente estava correndo para cobrir notícias quentes no turno da noite nos finais de semana que completavam minha jornada muito mais extensa que as 40 horas semanais de trabalho.
Acho que teria encontrado a premissa problemática mesmo naquela época. Mas, agora, com a clareza da retrospectiva, a reportagem do programa “60 Minutes” parece quase caricata – mais um capítulo em uma lenda antiga.
]“Geração mais velha ansiosa e preocupada com a ingênua geração mais jovem destruindo tudo” poderia ser o título dessa matéria de TV.
A consultora e autora Lindsey Pollak, que aconselha empresas sobre como lidar com locais de trabalho multigeracionais, acredita que a ascensão das redes sociais é em parte culpada pela imagem ruim e consistente dos millennials. Pollak diz que o amadurecimento de nossa geração acontece sob uma lente diferente de qualquer geração antes de nós.
“Todas as críticas aos millennials já foram ditas as outras gerações, mas estão amplificadas pela internet e as redes sociais”, opina.
Os millennials não têm sido excepcionalmente mais propensos a trocar de emprego no início de suas carreiras. Na verdade, eles estão mudando menos.
Grey Kimbrough, economista e professor
O escritor Dorsey, presidente do Center for Generational Kinetics, diz que, durante suas apresentações, detalhes sobre os millennials muitas vezes surpreendem os presentes.
“Em geral, os millennials são a maior geração na força de trabalho da empresa”, conta.
Muitos funcionários acreditavam no estereótipo e presumiam que os millennials eram preguiçosos ou floquinhos. Mas, na verdade, os millennials estão muitas vezes entre os trabalhadores e gerentes mais bem sucedidos de uma empresa.
No fim da apresentação de Dorsey, todos os funcionários millennials levantam as mãos.
Kimbrough me diz que os millennials têm permanecido em empregos há tanto tempo quanto as gerações anteriores.
“Obviamente, as pessoas em início de carreira mudam mais de emprego do que os profissionais estabelecidos há mais tempo”, lembra. “Os millennials não têm sido excepcionalmente mais propensos a trocar de emprego no início de suas carreiras. Na verdade, eles estão mudando menos. Houve um grande declínio na troca de empregos desde cerca de 2000”.
Já faz mais de 12 anos que eu troquei de emprego. E espero manter esse trabalho por muito mais tempo.
Como eu, muitos dos meus amigos trabalham para os seus empregadores há mais de uma década. Outros teriam ficado, mas foram vítimas de reestruturação na empresa.
As crises econômicas repetidas também são uma parte importante da história da millennials.
“Muitas vezes, os millennials me dizem que finalmente sentem que estão no caminho certo e daí acontece algo foram do controle deles”, relata Dorsey.
Mito 5: Somos eternamente jovens
Eu me lembro quando meu pai completou 40 anos. A mera ideia da idade me fazia pensar num ancião. Os colegas de trabalho dele colaram papel crepe preto em torno de sua foto e penduraram a imagem no escritório. Eu tinha 9 anos e lhe dei um poema emoldurado que eu tinha escrito sobre como ele não deveria se sentir mal ao envelhecer.
“As engrenagens em sua cabeça ainda estão funcionando e seu cérebro ainda funciona, do jeito que eu conheci”, escrevi.
Então, sim, a ideia de que agora eu tenho 40 anos é algo que eu ainda estou tentando resolver na minha cabeça. Na maioria dos dias, ainda me vejo como uma jovem adulta encontrando meu caminho nesse mundo louco e confuso.
Entretanto, quando eu reclamo com meu marido sobre nossa lista sempre crescente de dores e incômodos estranhos, sobre como nós realmente não gostamos de ir a restaurantes barulhentos e sobre o modo como as coisas costumavam ser, percebo que não sou uma anciã, mas com certeza sou mais meia idade do que eu gostaria de admitir.
Ainda assim, quando li pela primeira vez no ano passado que os millennials mais velhos estavam começando a completar 40 anos, esse detalhe me saltou aos olhos. O conceito parecia muito surpreendente. Durante tanto tempo, vimos pintada a mesma imagem jovial dos millennials.
“As pessoas falam sobre os millennials como se fosse um termo universal para os jovens, o que não é”, diz a consultora Pollak.
Às vezes, quando olho para minha filha, sinto a idade pesar mesmo e essa ideia bate forte.
Ela é muito mais jovem do que eu era nesse momento na vida dos meus pais. Ou, em outras palavras, eu já sou muito mais velha do que meus pais quando eles estavam me criando. Eu tinha quase 39 anos quando minha filha nasceu.
Meu marido tinha acabado de completar 41 anos. Quando ela terminar o ensino médio e for para a faculdade, nós teremos quase 60. E, se ela esperar a idade que tínhamos para ter filhos – se ela decidir que é certo para ela – seremos avós por volta de 80 anos.
Pensar sobre as coisas dessa maneira me enche de ansiedade e traz uma certa tristeza.
Nós crescemos vendo a nós mesmos como os novatos, os disruptores, as pessoas em torno de quem a cultura, e especialmente a cultura juvenil, é moldada. Claro que vamos ficar chateados com o fato de que agora estarmos na meia idade.
Amil Niazi, escritora
A escritora Amil Niazi, que completou 40 anos em 2022 e tem dois filhos pequenos, descreve a situação perfeitamente ao falar sobre como faz constantemente esse tipo de matemática e “fica sufocada pelos números”.
“Agora que eu tenho crianças pequenas, doces e amorosas, tudo o que eu quero é mais tempo com elas, apertar o botão de pausa, não no crescimento e mudança delas, mas em mim e na versão de mim mesma como a mãe que eu sou agora”, escreveu em um texto recente para o The Cut, onde também explorou a dificuldade e confusão de viver a meia idade.
Nele, falou do desejo em “pausar a dor nas costas e no joelho que aumenta a cada ano, parar os cabelos grisalhos e o colesterol alto, pular os inevitáveis sustos médicos e a exaustão que parecem envolver cada vez mais os meus dias”.
Niazi, como eu e tantos outros millennials de meia idade, tenta entender o que significa não ser mais jovem.
“Durante minha vida inteira, a história cultural sempre foi sobre a nossa juventude. Sempre abordou como essa geração jovem disruptiva foi muito mimada, atrasou o desenvolvimento, perturbou a vida familiar, a aposentadoria, a moradia, o emprego”, listou Niazi.
“Nós crescemos vendo a nós mesmos como os novatos, os disruptores, as pessoas em torno de quem a cultura, e especialmente a cultura juvenil, é moldada. Claro que vamos ficar chateados com o fato de que agora estarmos na meia idade”.
Recentemente, parei em uma livraria com minha filha para pegar alguns presentes.
Ela tem quase 18 meses e está andando agora. Assim que eu a coloquei no chão ela foi para a seção de revistas, onde havia muitas coisas para explorar bem no nível dos olhos.
“Mãe!” ela exclamou enquanto apontava o dedinho feliz para a capa de uma revista, que ela tirou da prateleira.
Uma morena radiante olhou para mim junto à chamada “Linda depois dos 50”.
“Ela é linda mesmo”, pensei, “mas MAIS de 50?!”
Talvez minha filha estivesse apenas compartilhando sua alegria de passear pela livraria? Certamente, ela não podia pensar que eu era mais de uma década mais velha do que eu já sou.
Mas enquanto vagava pela seção da revista pelos próximos 20 minutos, ela sempre voltava para a mesma revista, dizendo “Mamãe” todas as vezes.
Eu quase a corrigi. “Ah, não é a mamãe”, estava na ponta da minha língua quando percebi que não importa se de alguma forma ela me vê nessa capa de revista.
Há tanta coisa que ainda estou tentando descobrir, tanta coisa pela qual todos nós – millennials e não millennials – lutamos enquanto construímos nossa história vida afora.
Como Niazi observa, a matemática é verdadeiramente assustadora. Além disso, como o doloroso ano passado me lembrou, nunca sabemos quanto tempo teremos com aqueles que amamos.
Com toda essa incerteza, há uma coisa que eu sei: minha filha e eu temos tanta sorte de estarmos juntas agora, compartilhando uma noite em uma livraria – algo que eu fiz com meus pais, e algo que eu sempre sonhei em fazer se tivesse um filho.
Enquanto a vejo descer pelos corredores da loja, sinto-me orgulhosa do quão feliz e curiosa ela parece ser.
Sua geração ainda não tem um nome – ou pelo menos não um que sabemos que vai perdurar. Não importa como ela e os de sua geração serão chamados um dia: mal posso esperar para ver o que eles farão.
Fonte: CNN Brasil