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O que a iniciativa privada pode fazer para resolver a evasão escolar?

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Com a proximidade do início de um novo ano escolar, o Brasil precisa acelerar a busca por soluções para continuar devolvendo às salas de aula crianças e adolescentes que largaram os estudos. Agravada pela covid-19, a evasão escolar permanece como uma barreira para a melhoria dos indicadores da educação. O Censo Escolar da Educação Básica 2021, divulgado em janeiro de 2022 pelo Ministério da Educação, contabilizou 627 mil matrículas a menos na educação básica, na comparação com 2020.

Esse dado, que engloba os cenários das redes pública e privada, é mais grave aos 5 e aos 17 anos: nesses dois extremos da faixa etária abarcada pela educação básica, a população fora da escola é de quase 1 milhão de crianças e adolescentes. Com a pandemia, a evasão e o abandono escolar cresceram 5% no ensino fundamental e 10% no ensino médio, conforme estimativa do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

A covid-19 fortaleceu um dos principais motivadores da evasão escolar: a busca, entre crianças e adolescentes, por atividade remunerada como forma de compensar a queda no orçamento familiar, afetado pela taxa de desocupação, que começou a crescer em 2015, até atingir, em 2020 e 2021, 14,9% — o pior desempenho desse indicador, medido desde 2012 pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Desde o segundo semestre de 2021, o cenário econômico interno vem dando sinais de recuperação. O ano de 2022 chegou ao fim com a taxa de desocupação em 8%, um patamar equivalente ao de 2012. Esse movimento deve contribuir para desacelerar a evasão, mas é necessário continuar atacando outros fatores. A melhoria do acesso à internet também é essencial para manter alunos e alunas na escola.

Durante a pandemia, o envolvimento da iniciativa privada foi essencial para melhorar as condições de conectividade, especialmente a jovens e adolescentes da rede municipal, que responde por 49,6% do total de matrículas da educação básica no Brasil. No entanto, o desafio de tornar as escolas ambientes mais dinâmicos e atrativos é mais complexo do que garantir acesso à internet, dentro e fora da sala de aula.

Experiências bem-sucedidas, criadas por empresas podem e devem ser multiplicadas — e há instrumentos governamentais para apoiar esse tipo de iniciativa. Um exemplo disso é o Fundo Socioambiental do BNDES, por meio do qual a Fundação Raízen, obteve R$ 8,1 milhões para um programa de alcance nacional, com investimento total de R$ 16,2 milhões, sendo que a outra metade desse montante é investimento direto da Raízen, maior produtora brasileira de etanol.

Com contrato assinado em dezembro de 2022, esse programa vai beneficiar 405 escolas da rede pública em todo o Brasil, impactando indiretamente mais de 30 mil estudantes. Para enfrentar o abandono e a evasão escolar, o programa pretende estimular a autonomia, o protagonismo e o senso de cidadania em estudantes dos anos finais do ensino fundamental. Os 90 municípios participantes serão escolhidos por meio de editais que já estão sendo elaborados. Em 2023, serão realizadas três rodadas de seleções.

O objetivo principal desse programa, que tem duração prevista de quatro anos, é contribuir para que professores e a gestão escolar tenham suas práticas pedagógicas fortalecidas, por meio da incorporação do desenvolvimento de habilidades socioemocionais na jornada dos alunos. As metodologias e tecnologias sociais utilizadas são as mesmas empregadas pela Fundação Raízen, que desde 2002 mantém programas para melhoria da educação que já impactaram 45 municípios, em São Paulo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Bahia e Paraná.

É dessa forma que o programa pretende tornar as escolas ambientes mais atrativos para alunos e alunas dos anos finais do ensino fundamental. Um ponto forte dessa iniciativa é o envolvimento ativo da família desses estudantes, que serão estimuladas a estreitar e reforçar laços com toda a comunidade escolar, que não é composta somente de professores, coordenadores e gestores educacionais.

Outro aspecto inovador do programa é que a metodologia aplicada nas escolas e municípios participantes pode ser replicada, o que deve beneficiar indiretamente outras 630 unidades de ensino, dado que representa o envolvimento — direto e indireto — de mais de 2 mil gestores escolares, 6 mil educadores e 8 mil membros da comunidade escolar. É um movimento inspirador, com critérios de avaliação de desempenho bem estabelecidos, e que tem potencial para estimular o engajamento da iniciativa privada no enfrentamento à evasão escolar.

Fonte: Exame

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