– Não tinha motivos para não fazer isso, ainda mais com pessoas que estavam vivendo um momento difícil como eu.
Após chegarem no Paraguai no dia 4 de março, Ronaldinho e Assis receberam no hotel a visita de autoridades paraguaias naquela noite. Passaram a madrugada sob custódia e, no dia seguinte, contaram ao Ministério Público tudo o que sabiam. Admitiram que tentaram entrar no país com aqueles documentos, mas que não sabiam serem falsos.
O MP paraguaio enquadrou os irmãos Assis numa figura jurídica chamada “critério de oportunidade”, que a grosso modo permite aos réus não serem acusados formalmente pelos crimes que cometeram, desde que consigam reparar o dano causado. Na prática: Ronaldinho e Assis seriam submetidos a uma “pena social” – uma doação para uma ONG, por exemplo – e poderiam deixar o Paraguai.
Após audiência em que seria definida o tamanho dessa “pena social”, houve uma reviravolta no caso. O Ministério Público mudou sua posição e pediu a prisão preventiva dos irmãos Assis. Às 22h de sexta-feira, 6 de março, quando estavam num hotel próximo ao aeroporto, os irmãos Assis foram detidos e levados para a Agrupación Especializada.
A defesa de Ronaldinho apresentou três recursos, que foram negados pela Justiça. O argumento para mantê-los presos foi sempre o mesmo: soltá-los poderia prejudicar o andamento das investigações. No dia 7 de abril, após 32 dias, o craque e seu irmão deixaram a prisão e foram transferidos para um hotel de Assunção. A defesa agora tenta anular a prisão preventiva e tirá-los do Paraguai.
Mas o que Ronaldinho foi fazer no Paraguai? A resposta passa obrigatoriamente por Roberto Assis, irmão do craque e seu agente desde sempre. Ele aceitou o convite de Wilmondes Souza Lira para participar de ações sociais no Paraguai. Wilmondes é casado com Paula Lira, que por sua vez é (ou era) amiga da paraguaia Dalia Lopez, que financiou tanto a confecção dos passaportes falsificados quanto a própria viagem de Ronaldinho e Assis no Paraguai.
Dalia Lopez é uma empresária do ramo de exportação, alvo de uma investigação por parte do Ministério da Tributação, iniciada em setembro de 2019, e sigilosa até a chegada de Ronaldinho ao Paraguai. Ela é acusada de desviar pelo menos US$ 10 milhões em um esquema de sonegação de impostos e lavagem de dinheiro. O MP do Paraguai pediu sua prisão no dia 7 de março, um sábado. Desde então, ela está foragida, apesar de seus advogados terem declarado que ela iria se entregar.
Wilmondes Souza Lira, o empresário amigo de Assis, está preso no Paraguai. Sua mulher, Paula Lira, que também teria sua detenção pedida, fez um acordo com o Ministério Público do Paraguai. Ela contou tudo o que sabia sobre o esquema, entregou documentos e mensagens de celular. Em troca, pôde deixar o Paraguai e voltar ao Brasil. Ela foi escoltada, de carro, até Foz do Iguaçu.