A Independência do Brasil está marcada pela complexidade dos atores políticos como Dom Pedro I e Maria Leopoldina. “O que mais me atrai nessas histórias são esses personagens envolvidos nesse processo da Independência. Poderia ter acontecido tudo ali”, confessa Paulo Rezzutti, escritor de biografias do período colonial.
Antes e Depois do 7 de setembro | ||
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Pedro chegou criança (7 anos de idade) à nova terra. “Depois de 12 anos no país, ele já era mais brasileiro do que português”, diz Rezzutti. A esposa, Maria Leopoldina (da Áustria), chegou ao Brasil em 1817 e foi só então que conheceu o marido (em um casamento acordado por procuração). Ela, aliás, revelou-se uma articuladora hábil e se liga a movimentos autonomistas, que desejavam que a situação permanecesse como estava. Uma personagem determinante para a mudança da rota da história.
“A situação se acirra. Se por um lado, Pedro está preocupado com os acontecimentos em Portugal, Leopoldina estava ligada à manutenção do trono no Brasil. Pedro considerava ficar desde que pudesse nomear os próprios ministros. Isso acontece no dia 9 de janeiro de 1822, o Dia do Fico”, conta o biógrafo, que já escreveu livros sobre Dom Pedro I, Leopoldina, Marquesa de Santos, Dom Pedro II, entre outros.
A decisão de Dom Pedro I ficar no Brasil cai como uma bomba em Portugal. “As Cortes revogam tudo o que Dom Pedro faz. Mas o navio com essa comunicação só chega em 28 agosto de 1822”, explica Rezzutti.
Depois de tanto tempo, as ordens de Lisboa determinavam ainda que Pedro e família deviam voltar para a metrópole imediatamente, e os auxiliares, como José Bonifácio e Clemente Pereira, que participaram do aconselhamento deviam ser demitidos, presos e levados para Lisboa. A reação no Brasil desencadeia uma sucessão de acontecimentos com as características da velocidade da época. “Até reunir o conselho de ministros, foi 2 de setembro. Os auxiliares levam a Dom Pedro I a ideia de declarar a independência. José Bonifácio manda oficial de chancelaria encontrar Dom Pedro urgentemente. Isso acontece em 7 de Setembro, no Ipiranga, em São Paulo. Até Portugal saber o que estava acontecendo, também demora”, destaca Rezzutti.
Leopoldina, a articuladora
Um detalhe ressaltado pelo biógrafo de Maria Leopoldina é que ela tem participação determinante no conselho de ministros em relação à declaração formal da Independência. “Ela era articuladora hábil. Tinha conhecimento de política e funcionou como uma mediadora importante nos bastidores do palácio para encontrar uma solução adequada.”
Após a independência, a situação continuou efervescente. A professora de história da Universidade de Brasília (UnB) Teresa Marques destaca que a decisão pela independência também não era consensual. “De fato, existem protestos no Nordeste do país que se levantam contra a Corte. Em Pernambuco, em 1817 e em 1824, há manifestações contra a Constituição imposta”.
Ela explica que a forma de lidar com as províncias era conturbada. “As pessoas comuns não entendiam direito o que estava acontecendo. Nem sempre Dom Pedro se aconselhava com mentes mais moderadas. Quem dera ele ouvisse mais a esposa”.
As províncias reagiram a ter que obedecer ao Rio de Janeiro e não mais a Portugal. Pelo caminho da diplomacia, a independência só foi reconhecida pela Europa em 1825 mediante o pagamento de duas milhões de libras esterlinas para Portugal.
Independência x Brasilidade
O conceito de brasilidade acontece em não menos do que duas décadas depois, segundo os pesquisadores entrevistados. Teresa Marques destaca o papel da imprensa que, a par das dificuldades de dar conta de explicar o tempo presente, traz discussões relevantes para os jornais.
Para o historiador Deusdedith Rocha Junior, o 7 de Setembro, em boa parte pelo império português, não era tratado de forma importante. “Quando destacamos a independência como fruto da ação determinada de uma pessoa que é, no caso o imperador, abafam-se os interesses dos poderosos e também a ideia de que essas elites e Dom Pedro tomaram todo cuidado para que a população não participasse disso.” Ele cita que as manifestações na Bahia e no Pará foram tratadas com violência policial, incluindo centenas de mortes.
“Não é uma história pacífica. Isso tudo cai no esquecimento para confirmar uma ideia de mansidão do brasileiro.” Os pesquisadores avaliam que não é possível entender aquele período apenas por uma ideia de “grito”, como se fosse o último episódio.
A história barulhenta, cheia de nuances, inclusive de silêncios, ainda vai ecoar pelos séculos.
Fonte: Agência Brasil