Na noite do último dia 28 de fevereiro, pouco antes das 22h, moradores do condado de Gloucestershire, na Inglaterra, presenciaram um fenômeno que pode abrir portas no campo da astronomia: uma “bola de fogo” cruzando o céu. Com base nas análises iniciais do meteorito, a expectativa dos cientistas é de que sejam feitas novas descobertas sobre a formação do Sistema Solar, que ocorreu há 4,6 bilhões de anos.
O meteorito caiu em uma garagem da pequena cidade de Winchcombe. Em um primeiro momento, os moradores da residência ouviram apenas um barulho similar ao de um quadro caindo da parede, mas não enxergaram nada. Na manhã do dia seguinte, eles encontraram fragmentos pretos fora da casa e contataram a Rede de Observação de Meteoros do Reino Unido (UKMON, na sigla em inglês), que repassou o caso para o Museu de História Natural de Londres.
“Parece um pouco com carvão”, diz, em nota, o pesquisador Ashley King. “É preto, mas muito mais macio e frágil. É bastante animador para nós, porque esse tipo de meteorito é incrivelmente raro e contém pistas importantes sobre as nossas origens”, declara.
Vista por cerca de mil testemunhas, a rocha é formada por minerais e compostos orgânicos, incluindo aminoácidos, e classificada como um condrito carbonáceo. “Existem aproximadamente 65 mil meteoritos conhecidos no mundo inteiro e apenas 51 deles são condritos carbonáceos”, explica a especialista Sara Russell.
Acredita-se que, por se tratar de um condrito carbonáceo, o meteorito de Winchcombe tenha sido parte de um asteroide originado quando os planetas ainda estavam nascendo e tenha trazido água para a Terra, contribuindo para a formação dos oceanos. Tais condições fazem com que o material seja um dos mais primitivos e puros do Sistema Solar e, por isso, os pesquisadores esperam obter informações relevantes sobre a formação da água, dos aminoácidos e dos planetas.
“Meteoritos como esse são relíquias do início do Sistema Solar”, observa Russell. Por essas razões, os condritos carbonáceos também são alvos importantes de algumas missões espaciais, como a Hayabusa2 e a OSIRIS-REx. A primeira retornou para a Terra em dezembro de 2020 com 4,5 gramas desse tipo de rocha. A segunda deve voltar em 2023 com cerca de 60 gramas. O meteorito encontrado em Winchcombe, por sua vez, tem quase 300 gramas.
Outro ponto que torna esse meteorito especial é o fato de ter sido visto e gravado por várias pessoas, porque as filmagens auxiliaram os cientistas a descobrir de onde veio a rocha. Apesar de não ser possível identificar o exato asteroide que deu origem ao meteorito, a UK Fireball Alliance (UKFall) afirma que o condrito carbonáceo veio das regiões do cinturão de asteróide localizado entre as órbitas de Marte e Júpiter.
Trata-se também do primeiro meteorito recuperado no Reino Unido em 30 anos. “Eu era uma estudante de doutorado quando isso aconteceu pela última vez e tenho esperado desde então”, conta Russell. “Sempre quis estudar um condrito carbonáceo, é um sonho que se tornou realidade”, finaliza.
Fonte: Galileu