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Visão política molda mais a percepção sobre Covid-19 que dados objetivos

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A visão política, crenças e fatores psicológicos estão associados à disposição das pessoas em adotar comportamentos de prevenção na pandemia (Foto: engin akyurt / Unsplash)

Ao acompanharem os hábitos de 6 mil residentes do Reino Unido ao longo de 10 meses de pandemia da Covid-19, pesquisadores da Universidade de Cambridge concluíram que a visão política e os valores pessoais e psicológicos moldam mais a percepção das pessoas sobre a doença do que fatores objetivos, como o número de casos e mortes confirmadas.

Os cientistas compartilharam seus resultados na publicação científica Journal of Risk Research, nesta segunda-feira (22). Eles defendem que as crenças individuais não só tiveram maior efeito na percepção dos cidadãos, mas estão associadas à disposição das pessoas em adotar comportamentos de prevenção na pandemia.

A equipe de estudiosos avaliou entre os participantes a percepção de risco e as medidas protetivas adotadas, como o uso de máscaras e o distanciamento social. A pesquisa entre os voluntários foi realizada nos meses de março, maio, julho e setembro de 2020 e janeiro de 2021.

Com isso, eles notaram que houve uma variação na percepção das pessoas ao longo do tempo, relacionada ao comportamento de proteção. Por exemplo, os indivíduos, segundo a pesquisa, foram mais cuidadosos em se proteger contra o coronavírus entre março de 2020 e janeiro de 2021.

Além disso, a associação entre percepção de risco e comportamento foi mais forte em janeiro de 2021 do que em março e maio de 2020. E mais: as pessoas com maior noção dos perigos da doença valorizavam atitudes em benefício geral da sociedade, tendo maior confiança no poder de ações individuais para evitar a propagação do Sars-CoV-2.

Os cidadãos mais conscientes dos riscos também confiavam mais em cientistas e profissionais médicos. Em média, as mulheres estavam igualmente mais preocupadas; assim como aqueles indivíduos que já tiveram uma experiência anterior com o vírus.

Por outro lado, pessoas com menor percepção de risco eram geralmente indivíduos mais politicamente de direita ou conservadores, que confiavam mais nas ações do governo, mas que desejavam menor interfência governamental na rotina da população. Um exemplo de tal interferência seria o anúncio de lockdown e fechamento do comércio de atividades não essenciais.

Os pesquisadores acreditam que suas descobertas podem mudar a forma como o público do Reino Unido é informado sobre o coronavírus, para que as pessoas estejam mais atentas às medidas de proteção e cientes dos riscos da doença.

Mas a coautora do estudo, Claudia R. Schneider, faz uma ressalva. “Alertamos que uma população temerosa não é necessariamente um desfecho desejável. O risco é um sentimento e as mudanças ao longo do tempo — a percepção do público pode estar subestimando ou superestimando o risco real em diferentes momentos”, explica em comunicado.

Fonte: Galileu

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