Em função da síndrome pós-Covid, sobreviventes do novo coronavírus apresentam um risco significativamente maior de morrer no intervalo de seis meses após a infecção. A conclusão, publicada na revista científica Nature nesta quinta-feira (22), consta em um dos maiores estudos já feitos sobre as sequelas causadas pelo Sars-CoV-2 – e salienta a urgência de estratégias de saúde para mitigar danos aos recuperados.
Conduzida por pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade de Washington em St. Louis, nos Estados Unidos, a análise se deu a partir do banco nacional de saúde do Departamento de Assuntos de Veteranos dos EUA (VHA, na sigla em inglês), incluindo dados de mais de 87 mil pacientes diagnosticados com a Covid-19 e 5 milhões de indivíduos saudáveis – que serviram como grupo controle.
Ao analisar variáveis como uso de medicamentos, anormalidades laboratoriais e óbitos que se seguiram ao longo de seis meses após a infecção, os pesquisadores concluíram que sobreviventes do novo coronavírus tiveram um risco 59% maior de morrer se comparados aos que não foram contaminados.
No marco do sexto mês, oito a cada mil mortos eram pacientes previamente infectados pela Covid-19. E a estimativa foi maior entre os que precisaram ser hospitalizados à época da doença: eles eram 29 a cada mil que foram a óbito.
Segundo a pesquisa, que também mapeou as sequelas da doença entre 73.745 pacientes previamente infectados pela Covid-19, o sistema respiratório não foi o único afetado a longo prazo pelo novo coronavírus. Foram identificados distúrbios neurocognitivos, cardiovasculares, gastrointestinais e metabólicos, além de mal-estar generalizado, fadiga, dores musculoesqueléticas e anemia. Também houve um aumento no uso de analgésicos (opioides e não opioides), antidepressivos, ansiolíticos, anti-hipertensivos e hipoglicemiantes orais entre o grupo.
Covid-19 versus gripe
A fim de comparar as consequências do Sars-CoV-2 para o corpo humano em relação a outros vírus respiratórios, os pesquisadores fizeram, ainda, uma segunda análise: avaliaram o que sucedeu à saúde de 16.354 indivíduos que tiveram Covid-19 e precisaram ser hospitalizados devido à doença, e 13.997 pacientes com gripe sazonal – que também precisaram de internação – após seis meses da infecção.
Entre os que haviam contraído o novo coronavírus, o risco de entrar em óbito provou ser 50% maior em comparação com os sobreviventes da gripe – com cerca de 29 mortes a mais a cada mil pacientes em um semestre. Os recuperados da Covid-19 também estavam mais sujeitos a diagnósticos de doenças subsequentes a longo prazo. “Comparada com a gripe, a Covid-19 apresentou carga de doença notavelmente maior, tanto na magnitude do risco quanto na amplitude do envolvimento do sistema orgânico”, avalia Ziyad Al-Aly, líder do estudo, em comunicado.
Para o professor de medicina, os dados sugerem que as mortes oficiais por Covid-19 representam apenas a “ponta do iceberg” da pandemia, uma vez que os óbitos que não são imediatos à infecção e não necessariamente são registrados como decorrentes do novo coronavírus.
A fim de reduzir os danos à saúde trazidos pelo patógeno, Aly defende a criação de protocolos e estratégias específicas no enfrentamento desses casos. “Os médicos devem estar vigilantes ao avaliar as pessoas que tiveram Covid-19, esses pacientes precisarão de cuidados multidisciplinares integrados”, alerta.
Em análises futuras, os pesquisadores planejam verificar se – e de que forma – fatores como idade, raça e sexo impactaram o desempenho dos sobreviventes da doença, já que quase 88% dos dados da base do VHA correspondiam a homens, apesar de incluir quase 9 mil de mulheres.
Fonte: Galileu