Comportamentos ao volante como o número de viagens que alguém faz em um raio de até 25 quilômetros de casa, a duração das corridas e a quantidade de freadas bruscas realizadas no período podem ajudar a diagnosticar Comprometimento Cognitivo Leve (CCL) e demência – o declínio da capacidade cognitiva associado à perda da capacidade de executar tarefas comuns. Esse é o resultado de um estudo já revisado, publicado no final de abril no jornal científico Geriatrics.
A análise considerou, além de dados obtidos durante a condução de veículos, informações demográficas como idade, raça e etnia, sexo e nível de educação dos participantes. Com o uso de machine learning foi possível prever – com precisão de 88% – se um indivíduo tinha CCL ou demência.
Mas ainda não é hora de enquadrar aquele seu amigo ou tio meio barbeiro: os dados de condução, por si só, não são a medida mais precisa para saber se alguém está enfrentando algum tipo de deficiência cognitiva. Os dados de direção sozinhos podem prever os sintomas com apenas 66% de acerto. Quando combinados com os dados demográficos é que a precisão aumenta para 88%.
Como é possível prever CCL e demência
Embora a idade avançada seja o principal fator para previsão de CCL ou demência, uma série de características na direção de veículos também provaram ser bons indicadores. O novo estudo se baseou em dados obtidos em outra pesquisa de longo prazo – a LongROAD – que filmou cerca de 3.000 motoristas dirigindo durante quatro anos. De posse desses dados, os pesquisadores criaram 29 variáveis que consideram comportamentos, uso de espaço e desempenho na direção.
O estudo também se baseou em outra pesquisa anterior, na qual idosos foram classificados segundo os níveis de depósito de amiloide – proteína insolúvel relacionada a quadros de demência – no cérebro. O histórico de envolvimento em acidentes e violação das regras de trânsito foi mais alto entre participantes com maiores depósitos de amiloide – eles também foram piores em testes na estrada e estacionando.
A nova pesquisa afirma, no entanto, que não foram encontrados muitos indivíduos com CCL ou demência no conjunto de dados obtidos pelo LongROAD. E embora o modelo criado para a pesquisa tenha conseguido prever o comprometimento cognitivo com alguma confiabilidade, será preciso incorporar mais dados antes de considerar o sistema robusto e pronto para uso comercial.
Idosos e direção
O novo estudo afirma que embora dirigir permita aos adultos mais velhos terem suas necessidades de mobilidade atendidas e permanecerem independentes, declínios funcionais típicos da idade – como condições médicas e efeitos colaterais de medicações – podem comprometer as habilidades na condução de veículos, aumentando o risco de acidentes. E acrescenta que mudanças atípicas no comportamento ao volante podem indicar declínio inicial nas funções cognitivas.
O ensaio elenca as principais mudanças relatadas em motoristas mais velhos com CCL ou demência em estágio inicial: declínio no desempenho ao dirigir, aumentando a incidência de fatos como se perder; falhas em testes de direção; redução na capacidade de navegação espacial e comportamento de direção atípico, como a diminuição de episódios ao volante – evitando direção noturna e a hora do rush, por exemplo.
A equipe do estudo sugere que, no futuro, será possível incorporar seu algoritmo de machine learning a um aplicativo de smartphone ou em sistemas operacionais de veículos para monitorar o comportamento de indivíduos na direção. Dessa forma, o aplicativo avisaria o condutor caso estivesse apresentando comportamentos característicos de CCL ou demência ao dirigir.
Fonte: Tecmundo