Pesquisa realizada em conjunto pela The Australian National University (Austrália), e a University of Waterloo (Canadá), levanta dúvidas sobre a eficácia do uso de câmeras corporais na prevenção da violência policial. O time de pesquisadoras analisou estudos de diversos locais do mundo e identificou inconsistências entre os dados que comprovam os benefícios do equipamento.
“As pesquisas da eficácia das câmeras corporais tendem a usar métodos de avaliação que se concentram apenas na interação entre o policial e o cidadão”, destaca em comunicado para imprensa a professora Kathryn Henne, uma das autoras do estudo. Segundo ela, os métodos de pesquisa que investigam a eficiência das câmeras corporais como uma ferramenta policial para melhorar a transparência e a responsabilidade são limitados e muitas vezes não capturam o contexto das filmagens ou como as imagens foram usadas.
A pesquisadora ressalta que os estudos analisados também não costumam consultar as comunidades que experimentam taxas desproporcionalmente mais altas de violência policial.
“Nos Estados Unidos e em outros lugares, vimos casos de aumento da capacidade de vigilância policial sendo usada para atingir comunidades negras, indígenas e imigrantes. Apresentar as câmeras corporais como uma resposta neutra à má conduta policial nega muitas outras maneiras que as tecnologias de vigilância podem ser usadas “, aponta a co-autora do estudo, Krystle Shore, da University of Waterloo.
Para as pesquisadoras, não é possível assumir que as câmeras corporais são a solução para o combate a casos de abusos policiais e é preciso tomar cuidado para não induzir gestores públicos neste sentido. “Não queremos levar os formuladores de políticas para o caminho errado, sugerindo que as câmeras corporais são suficientes quando, na verdade, precisamos olhar para reformas mais amplas que abordem a desigualdade sistêmica e incluam respostas lideradas pela comunidade”, conclui Henne.
Caso George Floyd
Em 2020, o americano George Floyd foi sufocado até a morte pela polícia, gerando uma onda de protestos globais contra o racismo e a violência policial. Neste caso, as evidências gravadas por câmeras corporais de alguns dos policiais envolvidos foram usadas no julgamento de Derek Chauvin e mostram cenas chocantes de Floyd implorando pela vida e de testemunhas buscando alertar os policiais sobre o excesso de violência. A câmara de Chauvin, condenado pelo assasinato, caiu no chão enquanto a prisão se desenrolava e, portanto, não fez imagens do incidente.
De acordo com a professora Henne, o caso George Floyd é um lembrete da “necessidade urgente” de se pensar no uso correto das câmeras corporais. “Em Minnesota e em todos os EUA exigiram uma reforma institucional e estrutural do sistema”, disse ela.“Para fazer isso, temos que conversar e trabalhar com as comunidades. A maior parte das pesquisas que analisamos está fazendo o oposto e não deve ser usada por conta própria para justificar essas medidas de reforma”, completou.
Fonte: Revista Galileu