Atire o primeiro caderno quem, na escola, nunca se perguntou durante uma aula: “Mas pra que eu vou usar isso na vida?”. Ao longo dos anos, algumas respostas vão aparecendo, mas muitas ainda permanecem incógnitas. Apostando na ideia de que aprender por meio do brincar é mais divertido e eficaz, a Lego Education lançou no Brasil dois novos kits com peças que se transformam em experiências simples para o aprendizado da ciência.
O Lego Education BricQ Motion Essential e o Lego Education BricQ Motion Prime foram criados a partir da metodologia STEAM (sigla em inglês para Ciências, Tecnologia, Engenharia, Arte e Matemática). Nela, a ideia é que os alunos ganhem protagonismo no processo de aprendizagem ao pensarem em hipóteses e soluções para problemas.
Famosa pelos bloquinhos de montar, a empresa dinamarquesa observou que suas peças poderiam ser usadas como um recurso de ensino — e foi assim que a Lego Education surgiu, em 1980. Os dois novos produtos contêm centenas de peças que prometem estimular autonomia, criatividade e senso crítico em crianças e adolescentes, além de mostrar que as áreas STEAM estão no dia a dia delas.
“As pessoas costumam aprender as coisas como caixinhas separadas”, comenta Jonatan Alan, analista de projetos do Educacional, empresa distribuidora oficial da Lego Education no Brasil. Na visão de Alan, a iniciativa mostra que é possível “unir as caixinhas”. “A gente consegue que uma disciplina de matemática converse com história; que geografia converse com educação física, e assim vai”, avalia.
Com a linha BricQ, estudantes do ensino fundamental I e II poderão usar, respectivamente, os kits Essential e Prime para estudar física e matemática a partir de temas relacionados a esporte. Construindo um carro a vela, por exemplo, eles podem entender como o tamanho e formato de uma superfície são capazes de fazer o vento empurrar um objeto para mais longe. Ou, depois de montar uma pista de esqui, meninas e meninos têm mais ferramentas para compreender a influência da angulação da pista e do peso do esquiador na velocidade e distância percorridas por ele.
“No início, a criança acha que é um brinquedo. Quando surgem problematizações na aula, ela começa a ver que ali tem uma ferramenta, mas sem tirar a característica do brincar”, afirma Bruno de Paolo, professor de robótica no Colégio Suzano, na Grande São Paulo, que já está testando um kit BricQ Motion Essential com seus alunos.
Praticidade e rapidez
Cada kit pode ser compartilhado por até quatro estudantes, que conseguem se dividir entre tarefas como separar as peças e montar os projetos em si. Os bloquinhos são organizados em bandejas com subdivisões por cor, o que facilita a procura e o manuseio.
“A ideia é que as crianças cheguem na sala de aula, montem ou programem rápido e também testem rápido”, explica Alan, que acrescenta: “E errem rápido. Porque, quando erramos, criamos uma nova hipótese para testar de novo.” Dessa forma, o objetivo é estimular que os jovens encontrem suas próprias respostas com experiências ágeis.
E vem dando certo no Colégio Suzano. “Eu vejo alunos do 7º, 8º e 9º anos que se sentem miniengenheiros”, relata Bruno de Paolo. “Eles começam a montar, produzem, fazem estatística. E eu assisto e contemplo com orgulho; não sou mais o protagonista das minhas aulas”, completa.
Além dos manuais dos kits, a Lego Education conta com um site abastecido de sugestões de planos de aula para incluir os projetos montáveis. As possibilidades são muitas, principalmente por não ser necessário um computador. “Nós introduzimos o Lego sempre com os planos de aula e, quando o professor pega confiança, a autonomia começa a aparecer”, afirma de Paolo, que ajuda os docentes de outras disciplinas do Colégio Suzano a adotarem o método também.
Na visão dele, o Lego Education BricQ Motion Essential permite aos professores tanto conduzir uma aula com todos os alunos montando juntos quanto apresentar as teorias por trás do brinquedo e, depois, fazer a montagem em frente à turma. “Isso eu achei um grande diferencial, porque você ensina a teoria e depois a prática, como se deixasse uma feira de ciências para os alunos experimentarem”, elogia.
Testamos
A estagiária Beatriz Gatti testou o kit BricQ Motion Prime e conta sua experiência.
“Quando recebi em casa a caixa do BricQ Motion Prime, achei-a enorme. Fez sentido, porém, quando me deparei com as centenas de peças organizadas. Logo tentei me imaginar em uma sala de aula.
Divididas por cor em duas bandejas e com um manual visualmente didático, as peças são rapidamente encontradas para se unirem. Mas é inevitável a expectativa de entender como será o produto final. Onde será que aquele conjunto de peças do passo 3 vai se encaixar no todo daquele desenho?
Com hastes, alavancas e dois bonequinhos, eu tirei do papel uma pista de esqui inclinada que é movimentada a partir de um sistema pneumático. Com o ponto da partida sempre mais alto que o da chegada, a pista tem capacidade de oscilar em altura — ou melhor, no ângulo que a pista faz com o chão. E isso influencia no movimento dos esquiadores.
Tentei lembrar os nomes das energias envolvidas nesse experimento e resgatei na memória que, quanto maior a altura de um objeto, mais energia ele acumula. Fiquei feliz por reviver parte das minhas aulas de física na escola e acabar redescobrindo que se trata da energia potencial gravitacional.
O kit parece um jeito muito prático de fazer experimentos que exigem medições e anotações e instigam a elaboração de hipóteses. No caso da pista de esqui, por exemplo, pode ser também um meio de exercitar o cálculo ao medir as distâncias percorridas pelo esquiador com menos ou mais massa.
Se eu me senti uma participante desse aprendizado mesmo já o tendo feito com materiais básicos (uma pedra, uma pena e um cronômetro, por exemplo), imagino que construir um modelo complexo com dezenas de pecinhas dê a sensação de que aquele experimento só é possível porque você o construiu do zero. É um bom jeito de entender como os conceitos teóricos se aplicam na prática, enquanto a própria criança vai aprendendo consigo mesma.”
*Com supervisão de Luiza Monteiro
Fonte: Revista Galileu