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40% querem um mundo melhor pós-pandemia — mas não acreditam ser possível

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Menos poluído e mais cuidadoso com o meio ambiente. Menos individualista e com maior senso de comunidade. Mais equitativo e menos desigual. São esses alguns dos atributos que as pessoas gostariam que o mundo tivesse após o choque causado pela pandemia de Covid-19, que expôs inúmeras fragilidades da sociedade atual. Isso, no entanto, não significa que elas acreditem que tais mudanças irão, de fato, acontecer — muito pelo contrário.

A conclusão é de uma nova pesquisa que ouviu 981 adultos de 18 a 85 anos no Reino Unido e nos Estados Unidos entre maio e julho de 2020 e, mais tarde, em julho de 2021. Quando expostos a várias opções de possíveis cenários de mundo pós-pandemia, cerca de 40% dos participantes eram favoráveis a um “futuro mais justo com liderança de base” ao invés de um “retorno ao normal”, que acumulou apenas pouco mais de 10% dos votos.

Mas a maioria dos entrevistados admitiu que a segunda opção era mais provável de se concretizar do que um futuro progressista. Não só: pensaram —  erroneamente —  que suas preferências iam na contramão do restante dos participantes e que a maioria desejava uma volta ao status quo anterior à pandemia.

Os resultados foram publicados na revista científica Nature Humanities & Social Sciences Communications no último dia 25 de novembro. “As descobertas revelaram o apetite das pessoas por mudanças positivas, mas também um forte senso de ceticismo sobre se isso realmente se materializaria ou se suas opiniões eram de fato amplamente compartilhadas”, analisa Stephan Lewandowsky, professor catedrático de psicologia cognitiva da Universidade de Bristol, no Reino Unido, e principal autor do estudo, em comunicado.

Expectativas

Um em cada seis entrevistados no Reino Unido saudaram a queda nos níveis de poluição observada no início da pandemia e expressaram o desejo de cooperar mais com o meio ambiente nos próximos anos. A aspiração foi igualmente compartilhada pelos participantes dos EUA.

Um futuro menos individualista era o anseio de mais de um quinto do total dos participantes, que sinalizaram a vontade de manter o senso de comunidade e ajuda mútua aflorado durante a crise sanitária. Também era comum entre britânicos e norte-americanos o reconhecimento do papel fundamental exercido pelos trabalhadores de serviços essenciais em meio à pandemia.

O levantamento também revela expectativas de cunho menos coletivo e mais pessoal dos entrevistados. Tanto no Reino Unido quanto nos EUA, cerca de um em cada cinco participantes preferem trabalhar em casa no futuro — eles disseram ter ficado satisfeitos com o home office, que lhes poupou tempo com deslocamento e encontros que poderiam ocorrer à distância sem grandes prejuízos.

Um em cada seis entrevistados no Reino Unido saudaram a queda nos níveis de poluição observada no início da pandemia e expressaram o desejo de cooperar mais com o meio ambiente nos próximos anos (Foto: Creative commons)

Reuniões de trabalho presenciais não foram, definitivamente, o que as pessoas mais sentiram falta durante o período de isolamento social: a ausência que mais impactou quase metade dos britânicos e norte-americanos foi encontrar a família e os amigos. O segundo lugar ficou à cargo da ida a bares e restaurantes.

Ao mesmo tempo, os entrevistados dos EUA sentiram mais falta de fazer compras não essenciais do que o toque e a presença física. Na verdade, mais do que o dobro dos norte-americanos ficaram satisfeitos em precisar evitar comportamentos de intimidade física, como abraços. Já os moradores do Reino Unido sentiram muito mais falta de “liberdade de movimento”, o que inclui viagens ao exterior.

Realidade

Embora a preferência por um futuro mais progressista tenha sido predominante entre participantes da esquerda política e da centro-esquerda, um retorno ao normal é visto como mais provável de acontecer do que a primeira opção independente das tendências políticas. Para os autores do levantamento, a divergência entre o que as pessoas querem e o que pensam que os outros desejam é um “exemplo de ignorância pluralista”, que surge quando o discurso público não reflete as opiniões reais da população.

“As descobertas mostram um nível esmagador de endosso para ‘reconstruir um mundo melhor’ e indicam que isso seria amplamente aceito em todo o espectro político”, avalia Lewandowsky. “Isso deve dar confiança aos tomadores de decisão ao impulsionar medidas para ajudar a combater desafios crescentes que se estendem muito além a pandemia, nomeadamente as mudanças climáticas e a desigualdade”. Segundo o estudo, divulgar a opinião pública é, portanto, crucial para facilitar a (re)construção de um futuro sustentável com apoio massivo.

Fonte: Galileu

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