Desde que a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou pandemia da Covid-19, em março de 2020, a divulgação científica ganhou um espaço proeminente no debate público, utilizando o Twitter como principal ferramenta de comunicação. Estudo inédito do Science Pulse, em parceria com o Instituto Brasileiro de Pesquisa e Análise de Dados (IBPAD), identificou quais foram as vozes de destaque da comunidade científica no último ano e como esta comunicação se desenrolou na rede. O relatório, divulgado na quinta (16), tem apoio de realização do Instituto Serrapilheira e apoio do International Center for Journalistas (ICFJ).
A rede de interações analisada foi desenvolvida a partir da base de dados do Science Pulse, ferramenta gratuita de monitoramento da comunidade científica nas redes sociais. Para o estudo, foram analisadas 450.906 publicações sobre a Covid-19 feitas no Twitter por 1.088 cientistas, especialistas e organizações científicas do Brasil e do mundo entre os meses de novembro de 2020 e novembro de 2021. A análise das interações e mapeamento dos principais influenciadores foi feita pelo IBPAD, utilizando as métricas de autoridade, articulação e popularidade.
A métrica de autoridade demonstra quais são os perfis centrais na difusão de informações na rede e, por consequência, os mais respeitados e/ou com maior prestígio. A de articulação avalia quais perfis são a ponte entre diferentes grupos, com a maior capacidade de difundir suas mensagens. Já a popularidade reflete o possível alcance de determinado perfil na rede. Ou seja, diz respeito à quantidade de seguidores que um perfil possui.
A conversa sobre a Covid-19 entre os pesquisadores brasileiros se desenhou em um ambiente de debate e construção do conhecimento colaborativo, com grande número de respostas, menções e retuítes entre os pesquisadores.
Entre os perfis monitorados pelo Science Pulse, os principais influenciadores da conversa sobre Covid-19 da comunidade científica brasileira no Twitter em 2021 foram (em ordem alfabética, o resultado final não tem ordem de importância): Átila Iamarino, Daniel Dourado, Denise Garrett, Isaac Schrarstzhaupt, Luiza Caires, Mellanie Fontes-Dutra, Natalia Pasternak, Otavio Ranzani, Pedro Curi Hallal e Vitor Mori. Dentre as instituições renomadas de ciência, se destacaram neste ano a Agência Fiocruz, a Fiocruz, o Instituto Butantan, o Observatório COVID 19 BR e a Universidade de São Paulo (USP).
Comunidade global de cientistas
A análise demonstrou a formação de dois agrupamentos entre os perfis monitorados: a comunidade global de cientistas e o de pesquisadores e instituições brasileiras. Esse achado reforça a dinâmica de dois conjuntos distintos de debates: o nacional e o internacional. Na comunidade global de cientistas, os perfis de destaque foram Ashish K. Jha, Carl T. Bergstrom, Dr. Angela Rasmussen, Dr. Tom Frieden, Eric Topol, John Burn-Murdoch, Michael Mina, Prof. Akiko Iwasaki, Tedros Adhanom Ghebreyesus e Trevor Bedford. Dentre as organizações internacionais de ciência, se destacaram: Nature, NIH, Science Magazine, The Lancet e World Health Organization.
Uma dinâmica distinta entre os tuítes publicados em português e inglês também foi verificada em relatório da equipe do Science Pulse divulgado em setembro. “Enquanto os primeiros foram mais fortes ao longo de 2021, os últimos tiveram mais destaque ao longo do final de 2020, reforçando a diferença entre esses dois grupos encontrada no estudo atual”, complementa Lucas Gelape, coordenador de dados do Science Pulse.
De acordo com Jackeline Buckstegge, sócia-diretora do IBPAD, a análise deste ano mostrou que existe uma diferença marcante entre os dois cenários, brasileiro e internacional, no que diz respeito aos perfis. “A presença de instituições nos rankings internacionais é mais forte quando comparada ao cenário brasileiro, isso se dá, em parte, devido ao grande prestígio de revistas e periódicos ingleses e norte-americanos que trataram do assunto. Em comparação, há 22% mais instituições no ranking internacional do que no ranking Brasil”, explica.
Vacinação
Dentre os diversos assuntos relacionados à pandemia, neste ano se destacou a conversa sobre a vacinação. Dentre os tuítes realizados pelo cluster de pesquisadores e instituições brasileiras, 53% deles mencionam algum aspecto desse processo, sendo que 97% das contas que tuitaram sobre Covid falaram sobre vacinas ao menos uma vez nesse período.
A análise identificou três assuntos principais relacionados à vacinação: pesquisa e desenvolvimento; campanhas; e esperança no futuro. O primeiro se concentra na divulgação e discussão sobre resultados de pesquisas e sobre políticas públicas a serem adotadas. Já o segundo envolve publicações que cobram ações do governo relacionadas à vacinação (como a compra e distribuição de vacinas), bem como a preocupação com desinformação. O último grupo é formado por mensagens de apoio ao desenvolvimento científico, à vacinação e à saúde pública brasileira.
“Neste momento de crise sanitária e da informação, cientistas e comunicadores cumpriram um papel fundamental: ajudaram a orientar e elevar a qualidade do debate ao produzir conteúdos cientificamente embasados”, avalia Natasha Felizi, diretora de Divulgação Científica do Instituto Serrapilheira. Para Felizi, o desafio para o futuro é manter esse espaço de visibilidade da ciência aberto pela pandemia. “É fundamental que promover o debate de ciência como interesse público seja reconhecido e remunerado como um trabalho profissional, não só como ato de boa fé de cientistas diante de uma crise”, explica.
*via Agência Bori
Fonte: Galileu