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Como o luto das irmãs Wachowski influenciou “Matrix Resurrections”

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Estreia nesta quarta-feira (22) nos cinemas brasileiros o filme Matrix Resurrections, que acrescenta um novo capítulo à trilogia Matrix, concluída em 2003. No lançamento, o herói Neo (Keanu Reeves) volta a viver sob o controle da Matrix, assumindo novamente a identidade de Thomas A. Anderson, um designer de games em tratamento psiquiátrico por sua dificuldade de distinguir a ficção da realidade.

Sob o efeito de pílulas azuis, Anderson é afastado cada vez mais da verdade sobre o mundo virtual que aprisiona a humanidade — até que ele é visitado por Morpheus (clássico personagem de Laurence Fishburne, agora interpretado por Yahya Abdul-Mateen II). Quando confrontado, Anderson finalmente escolhe tomar a pílula vermelha para recuperar sua consciência sobre a Matrix e seus poderes sobre-humanos para lutar contra os agentes do sistema.

Além de muita ação, o filme também entrega uma boa dose de romance: para derrotar a realidade virtual, Neo deverá libertar Trinity, seu grande amor que, inconsciente da natureza da Matrix, vive sob a identidade de Tiffany. Caso o protagonista falhe na missão, ele pode perder sua companheira para sempre.

A perda de grandes afetos, afinal, tem um peso importante em Matrix Resurrections — desde o início de sua elaboração. Lana Wachowski, cocriadora de Matrix, teve a ideia de criar o novo longa enquanto estava em luto por seus pais e por um amigo.

Neo terá que libertar Trinity para vencer a Matrix (Foto: Divulgação)

Ao participar de uma palestra no Festival de Literatura Internacional de Berlim, na Alemanha, em setembro de 2021, a cineasta contou que não tinha interesse em criar uma continuação para a trilogia até passar pelo processo de luto de pessoas tão próximas. “[A saga] estava concluída aos meus olhos e aos olhos de Lily [Wachowski]”, afirmou Lana. “Todo ano a Warner Brothers nos pedia para fazer um novo [filme] e todo ano eles nos mandavam um caminhão de dinheiro para as nossas casas: ‘Você poderiam ter isso!’ E dizíamos ‘não, não, não temos interesse”, brincou a diretora.

Mas tudo mudou em 2018, quando, em um período de cinco semanas, Wachowski perdeu o pai, um amigo e a mãe. “Nós éramos realmente próximos”, lamenta Lana. “Eu não sabia como processar aquele tipo de luto. Eu nunca havia experimentado isso tão de perto.”

Em uma noite, a cineasta estava chorando tanto que não conseguiu dormir. Foi quando a ideia para um quarto filme de Matrix surgiu. “Eu não podia ter minha mãe nem meu pai… mas eu ainda tinha Neo e Trinity, indiscutivelmente os dois personagens mais importantes da minha vida”, relata. “Foi imediatamente reconfortante ter esses dois personagens vivos novamente.” Primeiro, Lana compartilhou sua ideia para o quarto filme da saga com sua esposa e, depois, com amigos. Vendo a empolgação de amigos mais próximos, ela decidiu levar a ideia à Warner Bros, que topou produzir a continuação da saga.

Lily Wachowski, irmã de Lana e cocriadora de Matrix, é claro, também foi consultada e ficou animada com o projeto, mas decidiu lidar com o luto dos pais de outra forma. “Havia algo sobre a ideia de voltar atrás e fazer parte de algo que eu tinha feito antes que era expressamente desagradável”, confessou Lily em um evento virtual ocorrido em agosto de 2021. Na época em que seus pais morreram, ela havia acabado de passar por um processo de transição de gênero e não estava se sentindo confortável em “trilhar caminhos que já havia percorrido, como se, de certa forma, fosse voltar a andar naqueles velhos sapatos.”

Além de questões pessoais, Lily também havia se envolvido com outros projetos cinematográficos de grande porte: dirigiu A Viagem (2012), O destino de Júpiter (2015) e Sense8 (2015). “Eu precisava de um tempo longe desta indústria. Eu precisava me reconectar como artista e fiz isso voltando para a escola [de cinema] e pintando”, disse.

Assim, Matrix Resurrections foi dirigido e roteirizado apenas por Lana Wachowski, que dedicou a obra a seus pais. Ao final dos créditos, a cineasta deixa uma homenagem a eles: “Para papai e mamãe: o amor é a gênese de tudo”, escreveu. E é essa a mensagem que, entre os diálogos filosóficos e as cenas de ação, ressoa no filme.

Fonte: Galileu

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