O deserto do Saara, na África, está há milhares de quilômetros de distância da América do Sul e, mesmo assim, os dois continentes continuam completamente conectados. Na realidade, a floresta amazônica só sobrevive por conta do deserto e, há alguns anos, cientistas conseguiram entender a importância dessa união.
O Saara, maior deserto árido do mundo, passa por diversos países do continente africano. Fonte: Shutterstock
Os cientistas sabiam que os ventos levavam poeira do Saara para diversas regiões do mundo, mas foi graças a um estudo publicado em 2015 que foi possível entender a importância dessa viagem transatlântica. Pesquisadores descobriram que a poeira possui quantidades significativas de fósforo, um nutriente extramente relevante para a sobrevivência da floresta da Amazônia.
Poeira que alimenta a Amazônia
Em um estudo publicado na revista científica Geophysical Research Letters, cientistas usaram o satélite CALIPSO (Cloud-Aerosol Lidar and Infrared Pathfinder Satellite Observation) para quantificar em três dimensões a quantidade de poeira que faz a viagem intercontinental. Os dados foram obtidos entre 2007 e 2013.
O satélite usa a tecnologia LIDAR para descobrir a quantidade de material e distinguir a poeira de outras partículas. Assim, eles descobriram que o fósforo também faz a viagem intercontinental junto com a poeira e, assim, ajuda a nutrir a Amazônia.
De acordo com o principal cientista do estudo, professor da Universidade de Maryland e colaborador da NASA, Hongbin Yu, parte da poeira foi coletada na depressão africana de Bodelé, no Chade, um lugar repleto de minerais rochosos compostos de microorganismos mortos carregados com fósforo — também coletaram o material em Miami e Barbados. Assim, eles conseguiram entender a estimativa da quantidade de fósforo presente na poeira.
“Primeiro temos que tentar responder a duas perguntas básicas. Quanta poeira é transportada? E qual é a relação entre a quantidade de poeira transportada e os indicadores climáticos?”, disse Yu.
A Amazônia é uma das florestas mais importantes do mundo pela biodiversidade que guarda. Fonte: Shutterstock
É estimado que a bacia amazônica receba 27,7 mil toneladas de poeira do Saara por ano e cerca de 22 mil toneladas de fósforo caem nos solos amazônicos. Os dados também mostram que, anualmente, os ventos e o clima carregam em média 182 milhões de toneladas de poeira para diferentes regiões — equivalente a cerca de 689 mil caminhões cheios.
Alimento para o planeta
O cientista Chip Trepte, do projeto CALIPSO, disse que a observação da poeira levada pelo vento é importante para entender se existem padrões nessa movimentação. Assim, os pesquisadores podem tentar compreender se esses padrões serão usados em cenários climáticos futuros.
No estudo, os cientistas conseguiram detectar a poeira sendo transportada do Saara, através do Oceano Atlântico, até a América do Sul. Outra quantidade de poeira também acabou sendo levada até o Mar do Caribe.
Imagem dos aerossóis atmosféricos durante o estudo, que são pequenas partículas quem viajam em suspensão no ar. Fonte: NASA
“As correntes de vento são diferentes em diferentes altitudes. Este é um passo à frente para fornecer a compreensão de como é o transporte de poeira do Saara em três dimensões e, em seguida, comparar com esses modelos que estão sendo usados para estudos climáticos”, disse Trepte.
Os solos amazônicos são escassos em nutrientes e a maioria deles são encontrados em processos de decomposição de matéria orgânica da própria floresta. Contudo, é muito comum que as chuvas “lavem” os solos e levem embora nutrientes como o fósforo.
Então, as 22 mil toneladas de fósforo que atingem a Amazônia todos os anos são muito importantes para alimentar a floresta. Inclusive, a quantidade é aproximadamente a mesma de fósforo perdido durante as chuvas e inundações na área.
“Sabemos que a poeira é muito importante em muitos aspectos. É um componente essencial do sistema terrestre. A poeira afetará o clima e, ao mesmo tempo, as mudanças climáticas afetarão a poeira. Se você não tiver esse transporte de poeira africana para a Amazônia, em 10 anos, ou em 100 anos, a Amazônia terá perdido muito fósforo”, afirma Yu.
Fontes: Tecmundo.com.br; Nasa e Geophysical Research Letters