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Evolução do xenotransplante mostra importância da identificação de vírus em animais

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De todo modo, Silvano Raia destaca que o ocorrido no transplante de coração suíno para um humano em Maryland “representou uma etapa importante na evolução do transplante de órgãos”

No Brasil, 1.780 pessoas morreram na lista de espera de órgãos e a cada 30 segundos  morre alguém por falta deles – Foto: Marcos Santos/USP Imagens
Foram identificados, no paciente que recebeu o coração de suíno, em Maryland (EUA), e morreu dois meses após a cirurgia, sinais de vírus animal (citomegalovírus). A partir disso, os estudos devem se atentar em identificar, antes do xenotransplante, a presença desse tipo de vírus no órgão e utilizar animais não infectados.

O professor Silvano Raia, titular em Clínica Cirúrgica na Faculdade de Medicina da USP, ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, lembrou que, no Brasil, 1.780 pessoas morreram na lista de espera de órgãos e que, a cada 30 segundos, conforme a Organização de Transplante Internacional, morre alguém por falta deles. “O xenotransplante pretende transplantar órgãos animais em humanos e, assim, terminar com a lista de espera.”

Silvano Raia – Foto: IEA

Em 2021, a Food and Drug Administration (FDA) autorizou o xenotransplante de um paciente de Maryland, que não tinha outra opção e estava já debilitado. Segundo Raia,  “certamente não foi a melhor escolha para o primeiro caso”, mas a FDA só autoriza novos métodos desde que já tenha sucesso experimental em animais e em pacientes que “não tenham outra alternativa capaz de evitar a sua evolução para óbito em pouco período de tempo”.

O professor destaca também que, para melhor interpretar a causa da morte desse paciente, é necessário considerar que “o dr. Muhammad Mohiuddin, primeiro assistente do dr. Barteley Griffith na cirurgia pioneira, obteve, em 2016, sobrevida de 945 dias em um babuíno, obviamente em bom estado geral, submetido a um xenotransplante cardíaco suíno igual ao realizado em Maryland”.

Infecção por citomegalovírus

Em 2008, a OMS proibiu o xenotransplante até a prova de que a transmissão do citomegalovírus, presente em porcos, não ocorresse entre humanos. O especialista destaca que essa proibição foi suspensa pela possibilidade, descrita por Church, em 2014, de inativar no genoma dos suínos doadores todos os loci, “pequenas regiões […] onde esses vírus se localizam e se multiplicam”.

Em 2008, a OMS proibiu o xenotransplante até a prova de que a transmissão do citomegalovírus, presente em porcos, não ocorresse entre humanos  Foto: Pixabay /Fotomontagem: Jornal da USP

 

Porém, no caso de Maryland, a empresa que forneceu o porco para o transplante não avaliou o risco de contaminação por citomegalovírus e o receptor do órgão teve infecção sistêmica e morreu. A partir daí, o professor aponta para mais uma etapa adicional ao xenotransplante, justamente essa detecção de vírus nos órgãos suínos. “Nosso grupo, para evitar o risco de infecção por citomegalovírus, usará suínos silvestres, provenientes de uma ilha ao sul da Nova Zelândia, isentos de contato com outros suínos.”

Raia conclui dizendo que toda pesquisa científica pode ser comparada ao que ocorre no alpinismo: “A cada etapa vencida, o alpinista descortina um novo horizonte que pode mostrar um obstáculo ainda não previsto ou um atalho que facilite seu caminho até o objetivo final”. Isso foi o ocorrido com o xenotransplante cardíaco realizado em Maryland, o que “representou uma etapa importante na evolução do transplante de órgãos”, completa.

Fonte: Jornal.usp.br

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