Uma estação meteorológica que vai estudar o clima e o comportamento das geleiras foi instalada logo abaixo do pico nevado de Ausangate, no Peru. A 6.349 metros de altitude, essa é a estação mais alta dos Andes Tropicais, uma empreitada que faz parte da expedição Perpetual Planet, da National Geographic, em parceria com a Rolex.
A nova estação irá compilar dados como temperatura, precipitação, umidade, radiação, profundidade e taxa de derretimento da neve quase em tempo real. Ausangate é a principal fonte de água doce para os ecossistemas andinos. Por isso, essas observações serão essenciais para compreender os efeitos das mudanças climáticas nas comunidades locais.
Outro importante fator é que ali é onde os Andes se encontram com a Amazônia. Os pesquisadores sabem que quase toda a umidade que cai no pico em forma de neve vem da região amazônica, então estudar esse local é também estudar o impacto da floresta em outros ecossistemas.
A altitude acima de 6 mil metros é mais uma característica fundamental para os resultados da estação, já que viabiliza observações nunca antes feitas. “Há um enorme vazio de dados que impossibilita nossa compreensão do clima no topo das montanhas e, em particular, as fontes de umidade desses locais”, afirma Baker Perry, um dos exploradores que liderou a expedição para Ausangate, em entrevista a GALILEU.
Baker e o cientista climático Tom Matthews escalaram o pico nevado de Ausangate no dia 25 de julho deste ano, junto de uma equipe de indígenas da etnia quechua do Peru e de especialistas bolivianas em escaladas, conhecidas como “Cholitas Escaladoras”.
A companhia das Cholitas foi essencial para superar os desafios da jornada ao topo, tanto em um nível técnico quanto emocional. “É uma longa e lenta subida no escuro e no frio com neve até os joelhos e elas estavam sempre muito animadas, cantando músicas e ajudando a todos”, lembra Perry.
Além dessa expedição, Baker, que é professor na Appalachian State University, nos Estados Unidos, também participou da instalação de estações meteorológicas parecidas no vulcão Tupungato, no Chile, e no Monte Everest, na Ásia.
Em comparação a essas, a estação de Ausangate é especial porque tem um sensor de profundidade de neve, essencial para compreender seu derretimento e os efeitos do aquecimento global nas regiões mais altas do planeta.
Já em termos de dificuldade, Baker conta que, embora Ausangate esteja basicamente na mesma elevação que o Everest, a viagem no Peru foi um pouco mais acessível. “Não tivemos que depender de suplemento de oxigênio, por exemplo. Apesar de uma escalada difícil, Ausangate não está na ‘zona de morte’, como o Everest”, compara.
Ainda assim, uma vantagem que o Everest apresentou foi a possibilidade de parafusar a estação diretamente em rocha exposta. Em Ausangate isso não era uma opção, porque a queda de neve é muito alta e não há tanto vento, então as rochas estão todas enterradas sob a neve. “Depois de toda a exaustiva caminhada, tivemos que cavar três metros na neve para ancorar o mastro central que usamos para a estação”, conta o explorador norte-americano.
Agora, os pesquisadores esperam que a estação não seja atingida por um raio ou que a neve derreta tanto a ponto de fazer a estrutura tombar. Também será ruim se a neve acumular tanto a ponto de enterrar os painéis solares e os sensores.
Outra expectativa da equipe são os resultados de uma análise das propriedades da neve para saber se há microplásticos na região, considerada relativamente intocada. De acordo com Perry, essa análise acabou de ser iniciada pelos parceiros no Reino Unido, mas se forem detectados, isso indicaria que existe transporte atmosférico de longa distância, ou seja, que os microplásticos podem ser transportados pelos ventos.
Fonte: Galileu