Além de determinar a possibilidade de doação de sangue e órgãos, o que mais pode ser definido em nosso organismo pelo tipo sanguíneo? Uma nova pesquisa de colaboração internacional associou variantes genéticas ligadas às variedades sanguíneas ao risco de acidente vascular cerebral (AVC, ou derrame) precoce em adultos.
A meta-análise, nome dado à pesquisa que reúne diferentes estudos, foi publicada na revista Neurology em 31 de agosto. A investigação envolveu a revisão de 48 artigos sobre genética e acidente vascular cerebral isquêmico da América do Norte, Europa e Ásia.
No total, os trabalhos incluíam 16.927 pessoas que haviam tido AVC e 576.353 indivíduos que não enfrentaram o problema. Dentre os que sofreram um derrame, 5.825 foram acometidos em uma idade considerada precoce (antes dos 60 anos), e outros 9.269 apresentaram a condição cerebral após essa idade.
“Nossa meta-análise sugere que variantes de genes ligados aos tipos sanguíneos A e O representam quase todos aqueles geneticamente ligados ao AVC precoce. Pessoas com essas variantes genéticas podem ter maior probabilidade de desenvolver coágulos sanguíneos, o que pode levar a um acidente vascular cerebral”, diz o autor Braxton D. Mitchell, da Universidade de Maryland, em comunicado.
Os pesquisadores analisaram todos os cromossomos para identificar variantes genéticas associadas ao AVC, e encontraram uma ligação entre o derrame precoce e a área do cromossomo que inclui o gene determinante do tipo sanguíneo (A, AB, B ou O).
Os participantes do estudo foram divididos de acordo com o sangue de cada um. A equipe comparou a prevalência dos tipos sanguíneos entre pessoas que tiveram AVC precoce, AVC tardio e aquelas que não sofreram qualquer evento cerebral.
As análises mostraram que indivíduos com derrame precoce são mais propensos a ter sangue tipo A e menos sujeitos a ter sangue tipo O em comparação a pessoas com AVC tardio e aquelas sem o problema. Já o tipo sanguíneo B foi associado tanto ao AVC precoce quanto ao tardio em relação ao grupo controle (que nunca teve derrame).
Considerando o sexo dos participantes e outros fatores, os pesquisadores chegaram à conclusão de que pessoas com sangue tipo A têm um risco 16% maior de derrame precoce do que as com outros tipos sanguíneos. Indivíduos com sangue tipo O, por sua vez, apresentam uma probabilidade 12% menor de ter um acidente vascular cerebral.
Apesar do estudo comportar um alto número amostral com participantes de diferentes regiões do mundo, os pesquisadores ainda consideraram que a pesquisa poderia ter uma limitação, já que 65% dos participantes eram de ascendência europeia.
“Pesquisas futuras são necessárias para ajudar a desenvolver uma compreensão mais precisa de como o AVC se desenvolve”, comenta a médica Jennifer Juhl Majersik, da Universidade de Utah e membro da Academia Americana de Neurologia. “Isso pode levar a tratamentos preventivos direcionados para o AVC de início precoce, o que pode resultar em menos incapacidade durante os anos mais produtivos das pessoas.”
Fonte: Galileu