Por mais reconhecido que seja no escopo internacional, fazer animação no Brasil não é exatamente fácil. A presença frequente de produções nacionais nos grandes festivais, no fundo, mais atesta o talento dos profissionais daqui do que refletem um mercado bem estruturado. Mas isso não quer dizer que o cenário seja de todo pessimista. Ao menos, não segundo o produtor Rodrigo Olaio, um dos responsáveis pela nova adaptação de O Menino Maluquinho.
“A gente está muito melhor do que era antigamente em termos de quantidade de estúdio e pessoas trabalhando. Mas ainda assim perdemos muita gente para o mercado internacional. A gente pisa no Canadá e tem lá uns 8, 10, 15 brasileiros. Já tem até pagode acontecendo em algum lugar [risos]”, explicou ao Omelete. “Ainda lutamos contra isso, mas estamos crescendo e temos muito mais para crescer. É uma combinação estranha, mas acho que o final será feliz”.
Para ele, uma das razões de otimismo está no movimento de alguns profissionais que estão voltando e, a partir da experiência no exterior, ajudando a construir bases sólidas aqui. Mas, apesar das dificuldades, o produtor enxerga força também no fato de ser um mercado bastante unido. “É realmente uma luta no Brasil. Sempre foi. Então, quando a gente vê alguma coisa saindo, a gente prestigia. A gente sabe o sangue, suor e lágrimas que estão por trás de cada uma daquelas cenas animadas”.
A showrunner e produtora Carina Schulze, porém, vê até um papel de O Menino Maluquinho nesse fortalecimento, e não só pelo tamanho do projeto. Mas também pela descentralização que o trabalho na pandemia permitiu. “Essa foi uma produção feita virtualmente e isso possibilitou que a gente trabalhasse com pessoas de todo o Brasil. O que isso significa? As pessoas tiveram a chance de trabalhar em uma produção desse porte e com visibilidade, se tratando de um projeto do Ziraldo. Acredito que isso vá abrir portas. Por causa da pandemia e das características dessa animação, a gente teve que criar processos e otimizar funções, então todo mundo nessa produção cresceu”.
Olaio, inclusive, se vê nessa análise. “Eu me considero um profissional antes de O Menino Maluquinho e outro depois”, afirmou, dando créditos também ao envolvimento da Netflix devido, entre outras razões, ao valor de produção colocado na animação. “Trabalhar com a Netflix foi uma injeção de profissionalismo para todos os estúdios envolvidos, tanto na arte e na animação, quanto como processo”.
Os impactos reais de O Menino Maluquinho no mercado de animação brasileiro ainda estão para ser vistos, já que a animação estreia seus primeiros episódios em 12 de outubro.
Fonte: Omelete