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Criadores de Dark encaram os próprios medos em suas histórias sombrias

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Histórias trágicas que se repetem num loop infinito de dor e sofrimento. Quebra-cabeças de viagens no tempo à parte, a série alemã Dark não é exatamente um programa leve de se assistir, com tantas crianças desaparecidas, assassinatos brutais e tragédias familiares. Também não é a produção mais fácil do mundo para se escrever e dirigir, segundo os criadores Baran bo Odar e Jantje Friese, que participaram de um painel sobre seu processo criativo do Rio2C nesta quinta-feira (13).

No entanto, não esperem nada mais leve vindo por aí: o próximo projeto do casal na Netflix é a adaptação da premiada HQ Something Is Killing The Children, de James Tynion IV e Werther Dell’Edera, também com temas sombrios.

Nós somos atraídos pelo drama, gostamos de levar as pessoas ao limite e explorar como eles reagem como estão em circunstâncias difíceis. Mas nós somos bem engraçados na vida real (risos), fazemos piada, somos leves. Só não sei se temos talento pra comédia, acho que vocês não vão ver um trabalho nosso assim“, brincou a roteirista e produtora Friese, na entrevista coletiva em que o Omelete esteve presente.

Segundo ela, Odar, que é diretor e produtor dos trabalhos da dupla, teve que fazer um “trabalho terapêutico” com os atores durante as filmagens de Dark.

Ser um contador de histórias é quase uma terapia se você quer apresentar uma trama em que acontecem coisas como em Dark e 1899. Você encara alguns medos, e nós gostaríamos de enfrentar isso, em vez de fugir desses sentimentos“, analisa Odar.

E mesmo com experiência em narrativas difíceis, ele encontrou um limite. “Uma coisa é certa: tive que filmar muitas cenas de estupro na minha carreira e não quero mais fazer isso. Em 1899 tivemos uma cena dessas e esse dia foi horrível para mim e pros atores. Liguei para Jantje e disse: ‘Sem mais cenas de estupro’. É fácil escrever, mas dirigir e entrar nesse estágio emocional é muito desafiador para a equipe inteira“, contou.

Ir fundo na emoção, aliás, é algo que o casal busca em suas criações, tendo sempre um tema central bem definido que conecte com o público. Dark, por exemplo, que nasceu de um tema muito abstrato – física quântica -, ganhou corpo quando os criadores decidiram que se trataria de uma história sobre a dualidade entre o livre arbítrio e o determinismo.

Fomos um passo além e pensamos sobre o que é o livre arbítrio, qual é o momento em que você pode tomar uma decisão que pode realmente mudar a sua vida. Basicamente, se você for ver na essência, é uma série sobre suicídio. Ela é construída em torno da ideia de alguém dar fim à própria vida e encerrar o loop. Isso é muito pessoal e você não descobre de cara. Esse é o jeito que nós trabalhamos, tentamos remover as camadas até chegar a um tema pessoal e emotivo“, explicou Friese.

Durante o evento, a dupla de criadores explicou que a parceria profissional dá certo porque os dois gostam da mesma coisa e que dividir a tarefa de serem os líderes criativos dessas produções alivia um pouco a pressão em cima do cargo de showrunner. Além disso, eles fizeram piada sobre a “obsessão” de matar crianças na ficção.

Nós temos uma filha, eu amo crianças. Amamos matar crianças [na ficção] porque é o pior que poderia acontecer conosco. Nosso primeiro filme era uma história sombria sobre pedófilos. Esse é o nosso medo, perder um filho. Talvez eu deva ir para a terapia“, brincou Odar.

Na passagem pelo Brasil, o casal também não fugiu da pergunta sobre a acusação de plágio que sofreu no fim do ano passado, quando a quadrinista brasileira Mary Cagnin usou as redes sociais para apontar semelhanças da série 1899 com sua graphic novel Black Sience.

Não roubamos nada. Isso nos abalou muito emocionalmente e estamos tentando superar esse episódio“, declarou Friese.

Odar acrescentou que a dupla tentou entrar em contato com a autora brasileira para esclarecer de vez a questão, mas não tiveram retorno, e comentou sobre a repercussão negativa do caso. “A internet é um ótimo lugar para compartilhar informação e conectar pessoas, mas pode ser um lugar muito ruim às vezes, com muito bullying“, observou.

Fonte: Omelete

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