Quem assistir isoladamente o primeiro episódio da quarta temporada de Barry não poderia nem imaginar que a série da HBO começou como uma comédia sobre um mercenário que frequenta aulas de teatro por autoconhecimento. Isso porque a estreia do último ano parece feita sob medida para deixar o espectador desconfortável por rir das desgraças que atingem o personagem-título — vivido pelo ator, diretor, roteirista e produtor Bill Hader —, e aqueles que deram o azar de cruzar seu caminho nos últimos anos.
A nova temporada começa praticamente do mesmo ponto em que a anterior terminou: enganado por Cousineau (Henry Winkler), Barry é preso e levado para a mesma cadeia que Fuches (Stephen Root), com quem o assassino ainda não se entendeu. Enquanto isso, Sally (Sarah Goldberg) tenta se recuperar da tentativa de assassinato que sofreu (e do assassinato que ela mesma cometeu) retornando para a casa dos pais, ainda sem saber que seu ex-namorado foi preso. Já Hank (Anthony Carrigan) — aparentemente — deixou sua vida criminosa para trás e agora vive isolado em Santa Fé ao lado de Cristobal (Michael Irby).
Embora não seja exatamente cheio de acontecimentos, “Yikes” nunca deixa de ser um episódio divertido, muito graças à direção de Hader. Mais uma vez, o ex-Saturday Night Live prova que é muito mais do que as caras e bocas que o tornaram famoso e mostra uma maturidade incrível por trás das câmeras. Unindo tomadas longas a cortes inesperados, o diretor faz com que o espectador se sinta entorpecido, mas nunca tire os olhos da tela. Mais do que isso, a forma fixa com a qual ele foca em cada expressão facial, seja ela de alegria, dor ou tristeza, cria uma empatia imediata com os personagens, apesar de sabermos que eles são, sem exceção, seres humanos terríveis.
Seguindo o mesmo padrão de qualidade da direção, as atuações de “Yikes” são algumas das melhores que a série já viu. Goldberg deixa todo o desespero e desamparo de Sally à mostra e Root brilha como nunca ao brincar com a dualidade quase maníaca de Fuches. Mas, assim como tem sido em outros anos, Winkler é quem prende a atenção do espectador sempre que aparece. O veterano transforma todas as falhas de caráter de Cousineau em combustível para se transformar em uma figura odiosa e triste, mas extremamente fascinante. Com o ego inflado pela fama recuperada com a prisão de Barry, o personagem começa a ensaiar uma derrocada ainda maior que a das temporadas anteriores, algo que inevitavelmente o colocará de volta no caminho do assassino.
Apesar de ser mais dramático do que cômico, o capítulo de estreia ainda guarda boas risadas, mas nenhuma delas nasce de uma piada ou de uma situação escrachada, mas sim do desconforto causado pelas ações dos personagens. A falta de noção dos pais de Sally, a forma como o FBI trata Fuches e até o monólogo furioso de Barry para provocar um dos guardas na cadeia não são necessariamente escritas de forma cômica, mas a soma entre as atuações e a direção transformam momentos incômodos em pérolas humorísticas. Sim, algumas dessas risadas serão carregadas de culpa — afinal, uma delas é causada pela relação mãe-e-filha mais tóxica imaginável —, mas é inegável que o humor da equipe de roteiristas reunida por Hader e Alec Berg segue afiada e decidida a transformar a série em um verdadeiro caos de emoções conflitantes.
Executada à perfeição, “Yikes” deixa claro que a quarta temporada de Barry será a mais intensa e incômoda que a comédia teve até agora. Com todos os personagens se conectando por causa de seus erros e desesperos, o último ano se encaminha para uma conclusão igualmente violenta e hilária, que pode encerrar a produção com a chave de ouro que ela merece.
Fonte: Omelete