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Amigas Para Sempre organiza melhor seu fim e se despede com dignidade

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A indústria do entretenimento de hoje em dia não está exatamente em busca da reinvenção da roda. De fato, sobretudo por razões comerciais, o que estúdios pretendem na maioria das vezes é a segurança de conforto, uma série correta, acessível, que conquiste uma base fiel de fãs e garanta retorno financeiro com o mínimo de investimento. Por isso, quando algum drama ou comédia que se passa toda nos mesmos cenários e sem efeitos especiais dá certo, ela ganha lugar de prioridade no coração dos executivos.

Amigas Para Sempre é uma dessas séries; e dá para imaginar como a Netflix deve ter tentado convencer Maggie Friedman (a criadora) a continuar levando a história de Tully (Katherine Heigl) e Mularkey (Sarah Chalke) adiante. A trama das duas amigas que atravessam suas vidas como almas gêmeas foi baseada no livro de Kristin Hannah, dividido em duas partes pela produção da série para dar conta de três linhas temporais diferentes e complexas. Inicialmente, o segundo ano teria apenas 10 episódios, mas Maggie e a plataforma resolveram aumentar a conta para 16.

Esticar a narrativa de um livro em tantos longos episódios fez com que Maggie tomasse a decisão de criar tramas paralelas, o que acabou se revelando um problema agora que vimos a série voltar ao planejamento original. A primeira parte da segunda temporada foi extremamente problemática, confusa, desorganizada, justamente porque o que deveria ter acontecido nela foi adiado para acontecer nesses 7 episódios finais.

A diferença é notória. Sabemos que a série está sempre situada em 3 épocas diferentes: a adolescência das protagonistas, o auge de suas vidas profissionais enquanto trabalham numa emissora de televisão; e o presente. Foi extremamente positivo para essa despedida, que essas três linhas temporais se organizassem numa crescente de eventos únicos, deixando a narrativa mais fluida. Na adolescência, uma montagem de Romeu e Julieta serviu de base para as meninas discutirem suas ações; anos depois, no trabalho na emissora, vimos como nasceram suas ligações afetivas com seus interesses românticos; e por fim, no presente, os roteiristas resolveram logo a idiota briga que as separou na parte 1 da temporada e seguiram para resolver pendências antes do fim.

Agora sim, para sempre

Dentro da estrutura dos dramas televisivos existem uma série de recorrências clássicas (que também chamamos de clichês). Amigas Para Sempre vai atrás de todas elas, sem medo, assumindo definitivamente sua confortabilidade. Está tudo lá: os términos e reconciliações constantes, o câncer como recurso trágico e até aquele bom e velho livro escrito por um dos personagens e que leva o mesmo nome da série. É tudo perfeitamente previsível, do jeito que boa parte da audiência quer que seja quando chega ali.

Desse seu jeito singelo, a série sempre trabalhou a amizade de Tully e Kate cruzando as perspectivas em torno de suas personalidades. Tully era a mais ousada, livre e traumatizada também. Kate era mais reservada e tradicional. Os roteiros sempre deram um jeito de tensionar essas diferenças entre elas, sempre retornando ao ponto em que elas entendem que precisam superá-las. Nessa segunda parte, a história se afasta um pouco dos enredos profissionais (o que faz falta, considerando que são os melhores momentos de Tully); mas a construção de lembranças pessoais mantém viva essa dinâmica.

Sabemos o que nos espera no final da temporada, sabemos que parte dessa estrutura hiper dramática do gênero não nos poupará de um encerramento triste; afinal de contas, precisamos cumprir a cartilha inteira e isso inclui muita tristeza e ao mesmo tempo muito otimismo. As cenas finais são emocionantes, intensas, capazes de nos levar até a angústia da iminência da perda; e nenhuma delas, absolutamente nenhuma delas, é irrastreável. Dessa vez, contudo, os envolvidos conseguem não sabotar suas próprias escolhas. Há questões sobre o universo feminino que valem a pena a nossa boa vontade. Os discursos não são profundos, mas são notáveis.

É bonita a relação entre Tully e Kate. Acaba sendo delas o crédito que delega à série sua importância. Com cenas discretas, equilibradas e limpas, a série ainda assim toma a decisão estranha de continuar provocando o espectador com a ideia de que separar uma amizade é a única saída possível para uma série que deveria ser justamente sobre duas amigas. Não há nada de errado em terminar uma história sem lições pautadas em mais trauma. Mas, se era chorar que você queria quando segurou o controle para dar play, teve sua recompensa. Amigas Para Sempre terminou digna, equilibrada… e elegante.

Fonte: Omelete

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