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Episódio especial mostra que Invencível não mudou nada em dois anos de hiato

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Invencível é um caso único dentro do leque amplo de adaptações de quadrinhos para a TV que vimos nos últimos anos. Em parte por estar no meio da animação, mas principalmente por algumas outras escolhas, essas localizadas no âmbito narrativo (falaremos mais disso jajá), a série do Prime Video se destacou por trazer um ritmo e uma linguagem verdadeiramente quadrinescas para o subgênero… isso lá no comecinho de 2021, com a pandemia de covid-19 ainda em sua fase mais complicada, e o público do streaming mais familiarizado com o termo “maratona” do que qualquer atleta olímpico por aí.

O sucesso veio, a renovação também, os oito episódios do primeiro ano foram consumidos em ritmo voraz pelo público e, com o tempo, a “demora” no retorno de Invencível para a segunda temporada virou reclamação recorrente entre os fãs. Colocando em perspectiva (hiatos de dois anos não são tão incomuns na TV hoje em dia, vide Game of Thrones, The Last of Us ou Westworld), nem demorou tanto assim, mas o fato é que a inatividade da série levou à criação de uma expectativa – e, agora que o Prime revelou o episódio especial “Apresentando Eve Atômica” para aquecer os motores para o segundo ano (marcado para 3 de novembro!), o medo é que a série seja esmagada por essa expectativa.

Com quase 1h de duração, o episódio especial traça as origens da super-heroína Eve (voz de Gillian Jacobs, na versão adulta), revelando que seus poderes são frutos de experimentações do Dr. Brandyworth (Stephen Root), que de última hora resolve trair seu empregador, o inescrupuloso Erickson (Lance Reddick), e escondê-la com uma família humana para lá de ordinária. Com paciência típica de Invencível, o capítulo aborda a evolução das habilidades de Eve e como elas a alienaram dos pais adotivos e de seus poucos amigos, abusando de ferramentas narrativas fáceis: vide a metáfora química que escapa da boca da Eve ainda pequena, ou a angústia adolescente que dá combustível às primeiras explorações de seus poderes.

Essa trajetória culmina, é claro, na revelação dos detalhes de seu passado, e em um confronto entre a jovem Eve e os monstros que foram criados em seu rastro. Invencível segue sendo, como sempre foi, Robert Kirkman aderindo aos chavões da história de super-heróis e levando-os às suas consequências narrativas lógicas – por isso o impacto do clímax tipicamente cinético deste episódio, que talvez até se qualifique como a melhor cena de porradaria da série até hoje, mesmo que seja só pela exploração criativa dos poderes visualmente empolgantes de Eve. Nós conhecemos essa história, mas talvez não estejamos acostumados a vê-la acabar em sangue.

Como acontece com toda obra de Kirkman, no entanto, Invencível nem sempre constrói uma dramaturgia sólida em torno de suas melhores ideias narrativas. O quadrinista, que neste episódio especial também assina o roteiro ao lado de Helen Leigh (Arquivo 81), colore seus diálogos e relações interpessoais em cores primárias, o que por sua vez é traduzido em expressões pouco naturais pelo time de diretores e animadores da série. A familiaridade das estruturas narrativas garante que entendamos o caminho que Invencível quer que trilhemos com essa história, e o lugar no qual ele quer que cheguemos é fascinante, mas nem sempre a estrada até lá é pavimentada com competência.

Sobra para o elenco a missão de tapar esses buracos pelo caminho, o que funciona melhor quando você tem um time amplo de estrelas e ases da dublagem, liderado por gente como Steven Yeun e J.K. Simmons, ao invés de um número reduzido de atores como os que aparecem nesse episódio especial. Ainda assim, surge um destaque: Jacob Tremblay se mostra uma adição interessante ao leque de colaboradores de Invencível, construindo um nêmesis convincentemente machucado para nossa heroína – é por causa dele que o choro de Phase Two no final da luta contra Eve funciona, não por causa do roteiro.

Por isso, a mensagem mais clara e mais importante de “Apresentando Eve Atômica” é essa: dois anos podem ter se passado, mas Invencível ainda não cresceu. Sua empolgação pela própria história, sua dedicação aos próprios personagens, seu respeito pela potência do gênero em que se encontra, continuam os mesmos – e sua grosseria dramatúrgica, também. Se não é bem isso que você se lembra lá da primeira temporada, talvez seja hora de revisitá-la… tempo até novembro, afinal, é o que não falta.

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