Com o distanciamento social pela pandemia de Covid-19 estendido e cada vez mais países entrando em novos lockdowns, cientistas têm buscado entender como o isolamento afeta nossa saúde. Um estudo publicado no periódico Nature Communications em dezembro de 2020 mostrou uma espécie de “assinatura” no cérebro de pessoas solitárias que as torna diferentes de diversas maneiras. A descoberta se baseou em variações no volume de diferentes regiões cerebrais e na forma como elas se comunicam umas com as outras.
Uma equipe de pesquisadores da Universidade McGill, no Canadá, analisou dados de ressonância magnética, genética e avaliação psicológica de cerca de 40 mil adultos de meia-idade ou idosos, que aceitaram ter suas informações incluídas no UK Biobank. Trata-se de uma base de dados aberta disponível para cientistas do mundo todo.
Os pesquisadores então compararam os dados de ressonância dos participantes que relataram se sentir sozinhos com os daqueles que afirmaram não ter o mesmo sentimento — e encontraram muitas diferenças no cérebro de pessoas solitárias. Elas se concentram no que é chamado de “rede padrão”, um grupo de regiões do cérebro envolvidas em pensamentos internos, como reminiscências, planejamento do futuro, imaginação e pensar sobre outros. Nas pessoas solitárias, as redes padrões são mais conectadas e, surpreendentemente, o volume de massa cinzenta nessa região é maior.
A solidão também foi relacionada a diferenças no fórnix, fibras nervosas que carregam sinais do hipocampo à rede padrão. Em pessoas solitárias, a estrutura dessas fibras é mais preservada. Nós usamos esses mecanismos para lembrar do passado, visualizar o futuro ou pensar sobre um presente hipotético. A teoria dos pesquisadores é que essas estruturas estão associadas à solidão porque pessoas solitárias têm maior propensão a usar imaginação, memórias ou expectativas em relação ao futuro para superar o isolamento social.
A solidão tem sido reconhecida como um grande problema de saúde, e estudos anteriores mostraram que idosos que se sentem sozinhos têm maior risco de declínio cognitivo e demência. Entender como a solidão se manifesta no cérebro, portanto, pode ser um caminho para prevenir doenças neurológicas e desenvolver tratamentos melhores.
“Recém começamos a entender o impacto da solidão no cérebro”, comenta Danilo Bzdok, pesquisador no Quebec AI Institute e um dos autores do estudo, em comunicado. “Aumentar nosso conhecimento nessa área vai nos ajudar a apreciar melhor a urgência de reduzir a solidão na sociedade atual.”
Fonte: Galileu