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Testagem, vacinação e campanhas: como a Cidade do México conseguiu reduzir a mortalidade por Covid-19

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Em dezembro de 2020, uma combinação entre a chegada do inverno, um patamar de contágio do novo coronavírus já alto após meses de um platô e as festas de fim de ano que levaram muitas famílias a se reunirem fez com que a Cidade do México fosse atingida por uma segunda onda de Covid-19 quase duas vezes pior que a primeira.

Mas outra combinação ajudou a curva a cair de 206 mortes diárias em média, em 26 de janeiro, para 12, em 8 de maio.

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    Ela envolveu testagem em massa, busca ativa de casos suspeitos, um mês e meio de restrições de circulação, campanhas de conscientização para o uso de máscara e vacinação em massa.

    Em entrevista à TV Globo, Oliva López Arellano, secretária de Saúde da Cidade do México, afirmou que a realidade local impediu a implementação de uma quarentena muito rígida, e que, com o passar dos meses, a população perdeu o temor da pandemia e “baixou a guarda”.

    Mas, para evitar que os obstáculos levassem a uma perda muito grande de vidas, o governo local apostou na aplicação em massa de testes RT-PCR e, depois, dos testes de antígeno, para rastrear a doença. Também incentivou e fiscalizou o uso correto de máscaras e, desde 24 de dezembro, já conseguiu aplicar duas doses da vacina em 66,6% da população idosa.

    “Algo que a população reconhece, todos os atores políticos, é que, das medidas gerais que dita o governo federal, na Cidade do México sempre fomos um pouco além, pelas condições específicas da cidade”, afirmou ela.

    Leia abaixo a entrevista:

    Os dados indicam que o pior momento da pandemia na Cidade do México começou em dezembro e só começou a melhorar em fevereiro, correto?

    Oliva López Arellano: Sim. Tivemos um primeiro pico de Covid-19 em maio, e o segundo pico ficou entre dezembro e janeiro.

    Quais foram as causas da piora da mortalidade nesse período?

    Está muito associado às atividades de fim de ano. Em dezembro temos muitas celebrações, como a da Virgem de Guadalupe [celebrada em 12 de dezembro]. Por mais que esse ano se evitou a visita à Basílica [de Nossa Senhora de Guadalupe], houve muitas reuniões familiares, sobretudo nos dias 24 e 25 de dezembro e 31 de dezembro e 1º de janeiro.

    Nós já tínhamos um certo nível de contágio. Depois de maio [de 2020] a curva começou a descer, mas nunca como agora. Nós tivemos uma “planície” entre setembro e outubro, em novembro tivemos mais casos, e depois isso acelerou. Também tivemos a mudança do clima, sabemos que as patologias respiratórias estão mais associadas à época de frio.

    Fizemos pesquisas não representativas entre pacientes hospitalizados, perguntamos para eles onde achavam que se contagiaram. E em torno de 50% deles identificamos que se contagiaram em uma festa familiar.

    Desde setembro a cidade já estava em uma abertura gradual, e tivemos uma leve alta. Mas em dezembro sim, houve muito contágio.

    Ao contrário de maio, as pessoas já estavam mais familiarizadas com a doença e não tinham tanto temor. As pessoas baixam a guarda. Apesar de termos mantido todos os programas ativos, o programa de testes gratuitos, a atenção hospitalar precoce, a busca ativa, houve relaxamento do cuidado.

    Quais foram as medidas tomadas para reverter a situação?

    Em dezembro foi decretado o semáforo vermelho [no México, o plano de reabertura é definido pelo governo federal em fases coloridas; a vermelha é a mais rígida]. Desde setembro já havíamos ficado no semáforo laranja. Mais perto do amarelo ou mais perto do vermelho, mas em dezembro tomaram a medida de aplicar o semáforo vermelho.

    As medidas de restrição são tomadas pelas entidades [os governos locais]. Aqui voltamos à quarentena, quarentemamos as pessoas que podiam se resguardar. Como temos muita população em situação laboral precária, é muito difícil implementar a quarentena.

    Tivemos cerca de 90% de ocupação de leitos, alguns hospitais mais. Isso já não dá margem para manobra. Tivemos uma demanda hospitalar intensa, traslados de ambulância… Aqui funcionamos como um sistema municipal e conseguimos atender toda a demanda. Com dificuldade, mas não houve pessoas morrendo pelas ruas. Ampliamos leitos hospitalares, de urgência, foram recursos para conter a intensidade da demanda.

    Ela começou a cair em fevereiro, pouco a pouco, depois houve uma queda muito acelerada.

    A cidade faz testes RT-PCR e de antígeno em pacientes assintomáticos? Se sim, desde quando?

    Desde o início começamos a fazer mais testes que a maioria das entidades. Quando os testes de antígeno foram autorizados, começamos a fazer massivamente. Antes já fazíamos testagem RT-PCR em massa.

    Quando os testes de antígeno foram autorizados?

    Em 19 de novembro o governo autorizou os testes de antígeno, em 20 de novembro a Cidade do México começou a fazer. Chegamos a fazer de 20 mil a 22 mil testes por dia. Agora não temos tanta demanda, estamos fazendo em torno de 6 mil [por dia]. Fizemos 20 mil, depois 18 mil, depois 15 mil, agora em torno de 6 mil. Mas a positividade caiu bastante, agora está em 5%.

    São testes muito baratos que têm muita capacidade para identificar os casos positivos. Se o paciente tem Covid, é muito provável que identifique, sobretudo com sintomatologia. A regra para fazer o teste é qualquer pessoa com sintomas, ou pessoas sem sintomas, mas que tiveram contato com alguém positivo ou suspeito.

    Quando começou a vacinação na Cidade do México?

    A vacinação dos funcionários da saúde começou em 24 de dezembro. Para a população com 60 anos ou mais, em 14 de fevereiro. Desde então não temos deixado de vacinar. Vacinamos, vacinamos, vacinamos. Temos mais de 3,6 milhões de doses aplicadas [até 26 de maio]. Já cobrimos com duas doses praticamente 13 das 16 alcadias [divisão política das regiões da cidade].

    Todos os profissionais da saúde estão vacinados, o apoio na linha de frente. Na semana passada concluímos os funcionários da educação. Os de saúde somam 60 mil pessoas, os da educação são 70 mil.

    Para as pessoas de 50 a 59 anos concluímos no domingo uma cobertura de 90% com a primeira dose.

    Vocês já viram um efeito da vacina na melhora dos indicadores de mortalidade?

    Cremos que já existe efeito pelo menos nos casos hospitalizados em pessoas de 60 anos ou mais, que estão caindo. A proporção mudou. Não podemos atribuir às vacinas, mas cremos que sim, tem um peso.

    Esperávamos que com as férias da Semana Santa teríamos um repique, mas até agora não ocorreu. Houve grande deslocamento de pessoas, gente que foi viajar e depois retornou. Estamos no semáforo amarelo, e esperançados de que logo entraremos no verde.

    No semáforo amarelo as atividades são reabertas com protocolos de segurança, fluxos de pessoas em um sentido, higiene, álcool, medição da temperatura. Lavar as mãos, e se as pessoas tiverem qualquer sintoma, o se tiveram contato com um caso suspeito ou confirmado, que faça o teste. Essa é a recomendação.

    Ficamos desde fevereiro até abril no laranja, e no amarelo já tem quase um mês.

    No Brasil existe resistência da população às medidas de restrição e as autoridades pressionam para que não sejam elas a tomar a decisão de implantar a restrição. Preferem que outras autoridades façam isso. No México a população também apoia as medidas? Como o governo da Cidade do México fez para conseguir apoio?

    Algo que a população reconhece, todos os atores políticos, é que, das medidas gerais que dita o governo federal, na Cidade do México sempre fomos um pouco além, pelas condições específicas da cidade. Os testes rápidos a Cidade do México começou antes de outras entidades. Do uso de máscaras a Cidade do México já reconheceu a importância antes das comprovações científicas, como um elemento de redução do risco de propagação do vírus.

    Começamos uma campanha muito forte, inclusive com celebridades, como o Prêmio Nobel Mario Molina (engenheiro que recebeu o Nobel em 1995 e morreu em outubro do ano passado, após sofrer um infarto).

    Na Cidade do México, por sua complexidade, e por tratar de conter a pandemia o máximo possível, fizemos campanhas massivas. Tivemos “desafios de zero contágio de Covid”, que algumas alcadias fizeram. E tivemos um senso de direção claro e, além disso, unificado, e campanhas massivas para convencer as pessoas.

    Fonte: G1

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