Um novo estudo conduzido por pesquisadores norte-americanos analisou os efeitos da pandemia de Covid-19 sobre questões de saúde mental e a manutenção da atividade física, revelando um fator está diretamente ligado ao outro. De acordo com o artigo, publicado em agosto no periódico Preventive Medicine Reports, famílias de baixa renda foram as mais impactadas pelo ciclo vicioso de falta de motivação e sedentarismo.
Diante da necessidade de distanciamento social e quarentena, as opções de espaços seguros para exercícios físicos diminuíram desde o início de 2020. A impossibilidade de sair de casa para fazer qualquer coisa contribuiu com o sofrimento psíquico, o que também dificultou que as pessoas mantivessem seus níveis de atividade.
“Isso, por sua vez, prejudica ainda mais a saúde mental, tornando as pessoas menos propensas a serem ativas, e assim por diante”, diz Lindsey Haynes-Maslow, coautora do estudo, em comunicado. “Uma vez que você começa nesta montanha-russa, é difícil sair”, afirma a professora da Universidade Estadual da Carolina do Norte, nos Estados Unidos.
A equipe buscou compreender a influência da pandemia tanto na atividade física quanto no estado de saúde mental e analisar a relação entre um e outro. Para isso, eles elaboraram um questionário online que teve a participação de pouco mais de 4 mil adultos de cinco estados dos EUA.
As respostas evidenciaram que as pessoas mais fisicamente ativas tinham melhor estado de saúde mental, independentemente de aspectos raciais ou econômicos. Porém, quem relatou ter menor renda teve mais dificuldade para manter os níveis de atividade física durante a pandemia.
Os moradores de domicílios que recebiam menos de 50 mil dólares por ano eram 1,46 vez menos propensos a continuar no mesmo ritmo de exercícios pré-pandemia do que os que ganhavam valores acima dessa quantia.
As diferenças de atividade física antes e depois da pandemia também foram observadas a depender da região de moradia. Habitantes de áreas urbanas mostraram ter maior probabilidade de não conseguir manter o mesmo nível de atividade física do que pessoas que vivem em áreas rurais. “Esse achado foi um tanto surpreendente, porque normalmente – quando não estamos em uma pandemia – as pessoas em áreas rurais tendem a relatar mais desafios de saúde mental do que seus homólogos urbanos”, esclarece Haynes-Maslow.
A partir de respostas dissertativas, os pesquisadores constataram ainda que, na área rural, os participantes tinham mais oportunidades de sair para espaços abertos. Mas os respondentes em geral relataram que a exaustão e os cuidados em torno da prevenção à Covid-19 geraram uma barreira para o exercício físico.
“Ainda estamos em uma pandemia”, comenta a professora. “Mas é claro que precisamos de uma cartilha para ajudar as pessoas a serem ativas e proteger sua saúde mental em crises futuras.”
Ela defende mudanças estruturais nas comunidades para oferecer acesso equitativo a ambientes seguros direcionados ao exercício, incluindo uma infraestrutura com mais espaços verdes, calçadas e postes, por exemplo. “É muito menos caro investir agora do que pagar pelas consequências a longo prazo da má saúde física e mental”, completa a cientista.
Fonte: Revista Galileu