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Artista que inspirou a música ‘Eduardo e Mônica’ dá a sua versão sobre a letra, alvo de teoria nas redes

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Ela não era de leão e ele não tinha 16, mas bem que poderia ser assim. A letra de “Eduardo e Mônica”, um dos grandes clássicos da Legião Urbana que virou filme nas mãos do diretor René Sampaio, foi tema de uma movimentada discussão no Twitter na segunda-feira, dia 21.. Tudo começou quando um post antigo do perfil @ibere foi resgatado por uma usuária. A publicação levantava a hipótese de Eduardo ter um filho fora do casamento, afinal, justificava o tuíte, “eles tiveram filhos há uns dois anos e não vão viajar nestas férias porque o filhinho do Eduardo está de recuperação. Criança de 2 anos não estuda”, concluía a reflexão.

A teoria rendeu. “Estou nesse tweet há vários minutos, passei até um café”, respondeu uma usuária. “Uns dois anos parece falta de noção do narrador”, especulou outra. Depois de mais de 50 mil curtidas no post original e várias hipóteses imaginadas, não houve consenso. Da Cidade do México, onde mora há cinco meses, Leonice de Araújo Coimbra pode, no entanto, opinar com crédito sobre o assunto.

Afinal, foi livremente inspirado nela e no seu marido, Fernando Coimbra, que Renato Russo escreveu “Eduardo e Mônica”, lançada em 1986 no álbum “Dois”. Mas nem tudo ali é ao pé da letra, ela esclarece. Leo, como gosta de ser chamada, é artista plástica — e não médica, como sugere a canção —, e Fernando é o embaixador do Brasil no México. Para ela, Renato está falando de várias histórias numa só.

— Acho bizarra essa polêmica, não tenho muita paciência para quem interpreta o texto dessa forma. Ali ele está falando de diferenças entre as pessoas e como essas diferenças não impedem as paixões— explica Leo, que é virginiana.

‘Eduardo não era bocó’

Outros versos são certeiros. Ela realmente tinha tinta no cabelo e gostava de Mutantes, do Caetano e de Rimbaud — “a onda cultural era essa” — , mas faz questão de frisar que o seu Eduardo não era “bocó assim”.

— O Renato queria fazer uma homenagem a nós, mas fez a outros amigos também. O Fernando não é esse bobão, pelo contrário, é inteligentíssimo, sempre leu muito, fala cinco línguas — diz a artista.

Foi no começo dos anos 1980 que Leo Coimbra conheceu Renato Russo, quando ele fazia um show na Universidade de Brasília. O compositor cantava “Eu sei”, dos versos “Sexo verbal / não faz meu estilo”, e chamou a atenção da jovem.

— Eu entendi “sexo oral” e pensei “nossa, que menino corajoso!”. O Fernando já o conhecia, fomos no camarim, eu adorei ele, ele me adorou também, ficamos amigos. Trabalhamos juntos num jornal do Ministério da Agricultura. Ele era espetacular, todo mundo o adorava — conta Leo.

A amizade perdurou. Nina Coimbra, filha de Leo e Fernando e também artista plástica, registrou em seu Instagram recordações com o músico. “Lembro como se fosse ontem o som da sua voz, suas brincadeiras, seu jeitinho”, escreveu Nina.

Segundo Leo, as constantes mudanças do casal deixavam Renato aflito, fazendo com que o telefone da casa tocasse em horários improváveis.

— Era uma relação muito especial. Um dia eu tinha mudado de Washington para o Equador. Ele me ligou puto da vida: “Você mudou e não falou nada!”, mas depois disse que tinha dado uma entrevista pra Marie Claire contando que eu e Fernando éramos Eduardo e Mônica. Hoje em dia, aos 62 anos, entendo muito mais o presente que ele me deu.

Ópera nos projetos

Ao mesmo tempo em que guarda as memórias com carinho — como um poema dado por Renato ao casal, transcrito abaixo, Leo mostra desapego de “Eduardo e Mônica”, tanto que ainda não viu o filme estrelado por Gabriel Leone e Alice Braga que está nos cinemas — “aqui no México não está passando”, justifica. É como se a amizade estivesse guardada num cofre, blindado de especulações das redes sociais e de entrevistas. Já doente, Renato procurou a amiga para falar de planos que não chegou a concluir.

— No final havia um problema com álcool muito sério. Às vezes ele me ligava muito doidão. Ele queria escrever ópera, mas não deu tempo.

Também amiga do líder da Legião, a cineasta Carla Camurati conta que a tal ópera era justamente de “Eduardo e Mônica”:

— Falávamos sobre música e cinema. Me lembro bem o dia que esse sonho nasceu. Era aniversário do Marco Nanini e começamos a conversar como seria bárbaro fazer uma ópera de “Eduardo e Mônica”. E, desde esse dia, nos encontrávamos, nos prometíamos essa ópera. Uma pena ficamos nos devendo essa.

Poema para Fernando e Leo (por Renato Russo)

Fui de todos teu fiel aluno
Enquanto aprendi: duas partes
Ramos separados são sementes

Leve é a disciplina quando deita
Esperta e da semente nasce casa
O encontro fez-se fruto e fortaleza

 

Fonte: O Globo

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