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Um terço das áreas de regeneração da Mata Atlântica são desmatadas de novo até oito anos depois

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Cortes ocorrem nos estágios iniciais da regeneração, mostra pesquisa, que associou dados dos últimos 34 anos a características ambientais e socioeconômicas das áreas ocupadas pelo bioma

  A Mata Atlântica tem somente 25,8% de sua cobertura florestal preservada, de acordo com estimativas do MapBiomas, e a regeneração natural é uma das estratégias principais para a sua restauração. Mas um estudo concluiu que um terço das áreas em regeneração do bioma são cortadas novamente, sendo que a maioria desses cortes ocorre apenas entre o quarto e o oitavo ano de crescimento.

Esse resultado faz parte de um artigo publicado em março na revista Environmental Research Letters realizado por pesquisadores da USP e da Universidade Federal do ABC (UFABC) em parceria com a Columbia University, dos Estados Unidos.

Intitulado Turnover rates of regenerated forests challenge restoration efforts in the Brazilian Atlantic forest e liderado por Pedro Ribeiro Piffer, doutor pela Columbia University, o estudo buscou caracterizar as áreas de regeneração da Mata Atlântica.

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regeneração natural, também conhecida como restauração passiva, é a prática de abandonar propositalmente uma área para que haja um crescimento natural da vegetação, sem a interferência humana. Além de eficiente, essa técnica também tem baixo custo e é importante para o Brasil atingir metas de restauração florestal, como o compromisso voluntário assumido pelo País no Acordo de Paris de restaurar 12 milhões de hectares de vegetação nativa até 2030.

“Visto que a regeneração natural é a forma mais econômica de se restaurar a Mata Atlântica, é necessário entender em que condições ambientais e socioeconômicas essa regeneração ocorre para promover políticas públicas que possam alavancar esse processo”, conta ao Jornal da USP Jean Paul Metzger, professor titular de Ecologia do Instituto de Biociências (IB) da USP e um dos autores da pesquisa.

Dados e análises

Para coletar dados sobre as áreas que estão em fase de crescimento natural, os pesquisadores utilizaram como referência a plataforma MapBiomas, que produz um mapeamento anual da cobertura e uso da terra do território brasileiro. Foram analisadas informações coletadas de 1985 a 2019. “Esses são atualmente os melhores dados que combinam informações espaciais e temporais sobre o uso dos solos no Brasil”, aponta Metzger.

“Com essa informação, é possível identificar onde e quando ocorrem desmatamentos. E também quando uma área de uso é abandonada, permitindo o desenvolvimento da vegetação nativa até a formação de novas florestas”, explica.

Jean Paul Metzger - Foto: Arquivo pessoal

Jean Paul Metzger – Foto: Arquivo pessoal

Dessa forma, o estudo analisou os eventos de desmatamento e de regeneração ano a ano e os relacionou a características ambientais, como os diferentes tipos de relevo e de solo, e socioeconômicas, como a densidade populacional e a renda per capita. Essa associação torna possível saber quais condições propiciam ou não o processo de regeneração.

A combinação de informações torna o estudo inovador, pois há uma análise conjunta de dados que, normalmente, é feita de forma isolada. “Até hoje, tínhamos apenas informações sobre a ocorrência de desmatamento e regeneração da Mata Atlântica, mas nenhuma informação sobre a idade e a permanência dessas matas, em particular, daquelas que se regeneraram nestes últimos 30 anos”, esclarece Jean Metzger.

A efemeridade das matas jovens

A principal descoberta do estudo, segundo o professor, é de que um terço das áreas de regeneração são novamente desmatadas, e esses cortes ocorrem nos estágios iniciais da regeneração, quando a mata tem apenas quatro a oito anos. “Assim, os benefícios que essas áreas poderiam suprir são desperdiçados, como regulação climática, redução do escoamento superficial da água, estabilização dos solos, ou serviços de interesse direto para alguns cultivos agrícolas, como polinização e controle de pragas.”

A pesquisa também revelou que a restauração predomina em terrenos com declive e em áreas com maior cobertura florestal no entorno. Já em paisagens de pastagens ou de mosaicos agropastoris, há mais casos de desmatamento da vegetação que estava retomando o crescimento.

As áreas de regeneração que eram cobertas com vegetação nativa foram o tipo de paisagem que mais cresceu ao longo dos 34 anos analisados no estudo – Foto: Cedida pelo pesquisador

Com esses resultados, fica mais fácil orientar políticas públicas ambientais. As áreas mais declivosas e adjacentes a rios, consideradas áreas de preservação permanente, propiciam essa regeneração e, por isso, podem ser consideradas áreas importantes para estimular os esforços de restauração. Ao mesmo tempo, sabendo que o crescimento das florestas dura um período menor em municípios com baixo PIB e com terrenos de pastagens, é possível criar incentivos financeiros por serviços ambientais a fim de estimular a permanência das matas.

O pesquisador enfatiza como esses resultados foram surpreendentes e mostram que os esforços do Brasil ainda são insuficientes: “Não esperávamos uma rotatividade tão alta da floresta regenerada. Isso indica que o Brasil precisa não apenas promover políticas de estímulo à regeneração, mas também políticas voltadas à permanência dessas matas jovens.”

Mais informações: e-mail jpm@ib.usp.br, com Jean Paul Metzger

Fonte: Jornal.usp.br

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