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Cientistas descobrem por que fala humana é diferente da de outros primatas

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fala e a linguagem humana são altamente complexas. Entretanto, ao comparar o aparelho fonador de humanos e outros primatas, cientistas descobriram algo que muitos não imaginavam: em vez de a nossa laringe ter aumentado sua complexidade ao longo da evolução, ela ficou mais simples.

Os achados, publicados na revista Science na última quinta-feira (11), sugerem que nossa laringe evoluiu para ter uma anatomia vocal muito mais simples do que a de nossos ancestrais. Essas simplificações podem ter permitido que nossa espécie produzisse uma fala estável, uniforme e compreensível, em vez das vocalizações ásperas e ininteligíveis de outros primatas.

Os mamíferos vocalizam forçando o ar através da laringe, o que faz com que as dobras do tecido oscilem e produzam um amplo repertório de sons. Nos humanos, pregas conhecidas como cordas vocais são as responsáveis por criar esses sons.

De acordo com o estudo, enquanto em humanos essa estrutura é mais simples, o trato vocal de primatas não humanos possui abas finas conhecidas como membranas vocais, frequentemente encontradas próximas ou conectadas às cordas vocais.

Ao avaliarem a laringe de 44 primatas, os cientistas confirmaram que todas as espécies – de babuínos a saguis e orangotangos – possuíam membranas vocais.

A função exata dessa estrutura ainda não é totalmente compreendida, mas acredita-se que conforme a necessidade de comunicação aumentou, durante a evolução das pregas vocais as membranas foram “eliminadas” devido a um processo de seleção natural. Humanos perderam as membranas vocais para tornar a fala mais estável e inteligível.

“É uma conclusão justa. Pesquisadores estão se perguntando sobre a evolução das pregas vocais há muito tempo, no entanto, ainda não há dados suficientes para provar que essas simplificações evoluíram especificamente para a fala”, explica Bart de Boer, linguista que estuda a evolução da fala na Universidade Livre de Bruxelas, à Science.

Analisando sons

No estudo, William Tecumseh Fitch, biólogo evolucionário da Universidade de Viena, na Áustria, juntamente com seus colegas, iniciaram as análises com chimpanzés mortos doados por zoológicos locais. Para simular a vocalização, os pesquisadores ligaram três laringes que haviam sido retiradas dos corpos desses macacos a um aparelho que sopra ar, para que as pregas e membranas se movimentassem. Ao avaliarem o modelo criado, os padrões correspondiam aos de animais vivos.

A partir dessa estrutura, Fitch e sua equipe construíram um modelo de computador da laringe de um chimpanzé, com cordas e membranas vocais. Ao simularem como a voz soaria, o sinal acústico foi caótico e irregular. As membranas virtuais oscilavam caoticamente e as ondas sonoras eram instáveis.

Entretanto, as medições acústicas de uma caixa de voz virtual humana com apenas pregas vocais se assemelhavam a uma voz humana estável. Os resultados sugerem que os humanos perderam as membranas vocais para tornar a fala mais compreensível.

“As membranas vocais podem ter evoluído para ajudar os primatas não humanos a produzir alto e eficientemente uma ampla gama de frequências, mas ao custo da estabilidade vocal”, explica o biólogo. “Acho que as pessoas tendem a pensar que a evolução está sempre ficando mais complexa. Este é um ótimo exemplo que o contraio também pode acontecer”, completa.

Takeshi Nishimura, primatologista da Universidade de Kyoto, no Japão, afirma que as membranas vocais não se fossilizam, por isso não é possível dizer quando nossa espécie as perdeu.

Os especialistas ressaltam que, apesar dos dados serem convincentes, ainda não há evidências sólidas de que ter membranas vocais invariavelmente levaria a uma fala “áspera”, nem demonstraram que tal fala seria difícil de entender.

Fonte: Galileu

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