A Lenda do Tesouro Perdido nunca deixou espaço para dúvidas: Ben Gates (Nicolas Cage) é um herói americano. Não apenas ele foi batizado em homenagem a um dos chamados pais fundadores dos Estados Unidos — o nome completo do personagem é Benjamin Franklin Gates —, como sua família desembarcou no país a bordo do Mayflower, navio que levou os colonos ingleses ao “Novo Mundo”. No entanto, se já não era perceptível antes, em pleno 2022 é impossível ignorar como o caçador de tesouros é símbolo de uma visão bastante conservadora do que é ser um cidadão americano. Há muito mais História do que essa definição limitada de identidade sugere, e esta é uma das razões para que os criadores Marianne e Cormac Wibberley tenham proposto uma mudança para a série de TV que revive a franquia. Colocando no centro da trama uma jovem de origem latina buscando respostas sobre seu passado, A Lenda do Tesouro Perdido frisa o óbvio (e muito bem colocado pelo ator Antonio Cipriano): “somos todos imigrantes, não é?”.
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A vontade de explorar um novo olhar para a história dos Estados Unidos nasce tanto da experiência pessoal — a família de Marianne tem raízes no México —, quanto de uma pulsão criativa, como o casal explicou ao Omelete, na San Diego Comic-Con, em julho. “O país é feito de tantas pessoas diferentes, e a gente pensou ‘já fizemos aquela história! Vamos para o Sul’”, contou a criadora. “Queríamos ir para o Mississipi, Baton Rouge. Há tantas histórias ali que mostram um tipo diferente de colônia do que o que aconteceu no Norte. Achamos que seria uma área interessante de explorar”.
Mas, para eles, o coração da história está em Jess (Lisette Alexis), uma chamada sonhadora, isto é, jovem que foi para os Estados Unidos ilegalmente quando criança. “Tínhamos na nossa sala de roteiristas uma sonhadora, a Paola, que nos contou várias histórias de jovens que sempre se identificaram como americanos, mas que descobrem que não têm documentos oficiais quando vão tirar sua carteira de motorista. E nós pensamos ‘uau, isso é tão interessante. Precisamos de alguém assim como protagonista’. Porque no fundo não é sobre o tesouro. Tudo bem, o nosso tesouro é muito legal [risos], mas é sobre quem o enterrou e por quê. E por qual motivo querem desenterrá-lo agora”.
A atriz Zuri Reed, que interpreta uma das aliadas de Jess nessa jornada, concordou com a visão dos criadores e por uma razão muito simples: “se essas pessoas existem, pode existir essa trama, porque é vida real. O que ajuda a série a ser mais autêntica é o fato dos Estados Unidos ser isso. Não viemos todos com o Mayflower”.
A protagonista Lisette Alexis também fez coro aos Wibberley, mas ressaltou: “sim, ela é uma sonhadora, mas ela não é só isso”. “Algo que adoro na Jess é como ela é uma jovem mulher brilhante, cheia de potencial. Ela é esperta e, sabe, ela quer que todos se sintam amados. Ela é simplesmente tenaz”, explicou. “Sinto que a série dá chances para que vejamos todas essas camadas de quem ela é. Algumas pessoas não conseguem ver além do status de cidadão. Mas ter a chance de explorar tudo isso é uma honra”.
Além disso, Alexis garantiu que o retorno de A Lenda do Tesouro Perdido continuará agradando os nerds de História, como os filmes fizeram. “Especialmente se você se interessa por um tipo diferente de história, que nunca foi contada autenticamente”, disse. “Sabe, na infância, nunca ouvi a verdade sobre minha cultura indígena. Nunca a entendi, porque não tinha nos livros de História. Então poder dar esse tipo de exposição agora, principalmente na escala dessa série e da maneira como os criadores a estão honrando, vai realmente fazer as pessoas a concluírem: ‘ah, foi isso o que aconteceu!’”.
Não à toa, Alexis tem um senso de responsabilidade muito grande sobre sua personagem. “Só espero que meus avós e meus pais fiquem orgulhosos. Espero que eles e outros latinos assistam e sintam orgulho”.
Com dois episódios já disponíveis, A Lenda do Tesouro: No Limiar da História é exibida às quartas, no Disney+.
Fonte: Omelete