Estreou hoje (25) na Netflix a minissérie Todo Dia a Mesma Noite, que revisita o fatídico incêndio na boate Kiss, na cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul. A data de lançamento não é mera coincidência, já que a tragédia aconteceu em 27 de janeiro de 2013, 10 anos atrás. Baseada no livro homônimo da jornalista Daniela Arbex, trata-se de uma ficção, e não de um documentário, que reconstitui os eventos daquela noite a partir, sobretudo, da perspectiva dos pais que tiveram suas vidas dilaceradas após a morte dos filhos.
Entre os responsáveis por interpretar os adultos estão Paulo Gorgulho, Bianca Byington, Leonardo Medeiros, Débora Lamm, Thelmo Fernandes, Raquel Karro e Bel Kowarick. Erom Cordeiro e Laila Zaid encarnam os policiais à frente da investigação, enquanto Flávio Bauraqui desempenha o papel do advogado das famílias. Já Paola Antonini, Nicolas Vargas, Manu Morelli, Luan Vieira, Miguel Roncato e Sandro Aliprandini representam as jovens vítimas.
Para os que não se lembram com exatidão, o incêndio é considerado o segundo maior do Brasil em número de fatalidades e o terceiro maior do mundo em casas noturnas, bem como o maior desastre do Rio de Grande do Sul e o quinto da história recente do país. Foram 242 mortos e 636 feridos – alguns com sequelas físicas permanentes.
O fogo começou por volta das 2h30 de domingo, quando o vocalista da banda Gurizada Fandangueira, que se apresentava na festa, acendeu um sinalizador e o soltou para cima, com o objetivo de criar um efeito pirotécnico. As faíscas atingiram a espuma de isolamento acústico no teto e rapidamente se espalharam.
Houve uma tentativa de conter as chamas com água e extintores, mas sem sucesso. Com a fumaça cada vez mais densa, o pânico foi instaurado no local, e muitas pessoas não resistiram aos gases tóxicos ali liberados. Outras correram para a única saída de emergência disponível, sendo pisoteadas em meio ao caos e formando pilhas de corpos que mais tarde seriam encontradas pela polícia.
OS RESPONSÁVEIS PELO INCÊNDIO FORAM PUNIDOS?
Uma década depois, o caso segue sem a devida responsabilização dos acusados pela Justiça – quer dizer, ninguém está preso. O processo já percorreu vários tribunais e instâncias em razão de tecnicalidades e interpretações difusas da lei brasileira.
Fato é que os seguranças que estavam do lado de fora impediram que parte dos jovens deixassem a boate por acreditarem que uma briga havia causado o tumulto. Segundo testemunhas, eles cumpriram ordens dos proprietários, que não queriam que os clientes fossem embora sem pagar.
As investigações conduzidas pela Polícia Civil e pelo Ministério Público também apontaram que a superlotação, a falta de saídas de emergência, a falha dos extintores de incêndio fora da validade e a ausência de outros equipamentos de segurança agravaram a situação e favoreceram um maior número de mortos. Para completar, o alvará de funcionamento da Kiss estava vencido desde agosto de 2012.
Em dezembro de 2021, após 10 dias de julgamento, quatro réus foram condenados a penas de 18 a 22 anos e meio de prisão. São eles: Elissandro Spohr e Mauro Hoffmann, ex-sócios da boate; Marcelo dos Santos, músico do grupo Gurizada Fandangueira; e Luciano Bonilha, produtor musical e auxiliar de palco da banda.
Porém, em agosto de 2022, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul decidiu pela anulação do julgamento. Os quatro homens estão, portanto, soltos e aguardam nova audiência. Enquanto isso, os pais ainda buscam justiça em memória de seus filhos e para que o caso não se repita.
Todo Dia a Mesma Noite está disponível no catálogo da Netflix. São cinco episódios ao todo.