Com três minúsculas partículas de poeira coletadas do enorme asteroide Itokawa, de 500 metros de comprimento, uma equipe internacional de pesquisadores obteve descobertas que podem salvar a Terra caso alguma pedra espacial possa estar em rota de colisão com o planeta.
A pesquisa liderada por cientistas da Universidade Curtin, na Austrália, foi publicada em 7 de dezembro de 2022 no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences.
A equipe usou duas técnicas para analisar as três partículas: a primeira é chamada de difração retroespalhada de elétrons e pode medir se uma rocha foi atingida por algum impacto de meteoro; já a segunda, conhecida como datação argônio-argônio, é usada para datar os impactos.
A durabilidade e a idade do asteroide Itokawa, cujas amostras foram trazidas à Terra em 2010 pela sonda Hayabusa 1, da Agência Espacial Japonesa (JAXA), revelou descobertas importantes para proteger o nosso planeta.
Segundo o estudo, o asteroide que fica a 2 milhões de km da Terra era difícil de ser destruído. A equipe também descobriu que Itokawa é quase tão antigo quanto o próprio Sistema Solar, conforme conta o principal autor da pesquisa, Fred Jourdan, diretor da Instalação de Isótopos de Argônio da Austrália Ocidental.
“O enorme impacto que destruiu o asteroide monolítico de Itokawa e formou Itokawa aconteceu há pelo menos 4,2 bilhões de anos”, disse Jourdan, atribuindo o tempo de sobrevivência longo à natureza absorvente de choque do material do asteroide, do tipo “pilha de entulho”.
“Ao contrário dos asteroides monolíticos, Itokawa não é um único pedaço de rocha, mas pertence à família de pilhas de entulho, o que significa que é inteiramente feito de pedras soltas e rochas, com quase metade sendo espaço vazio”, explica o professor, em comunicado.
Jourdan compara o asteroide a uma “almofada espacial gigante e muito difícil de destruir”, sendo bem mais resistente do que pedras de tamanho semelhante. “Prevê-se que o tempo de sobrevivência de asteroides monolíticos do tamanho de Itokawa seja de apenas algumas centenas de milhares de anos no cinturão de asteroides”, conta o especialista.
Conforme explica Nick Timms, da Escola de Ciências da Terra e Planetárias de Curtin, a durabilidade de asteroides de “pilha de entulho” como Itokawa era então desconhecida, “comprometendo a capacidade de projetar estratégias de defesa no caso de um deles estar se aproximando da Terra”.
“Agora que descobrimos que eles podem sobreviver no Sistema Solar por quase toda a sua história, eles devem ser mais abundantes no cinturão de asteroides do que se pensava anteriormente, então há mais chances de que, se um grande asteroide estiver vindo em direção à Terra, seja uma pilha de entulhos”, observou Timms.
Essa informação, de acordo com o pesquisador, pode ser útil para a defesa planetária. “Se um asteroide for detectado tarde demais para um impulso cinético, podemos usar uma abordagem mais agressiva, como usar a onda de choque de uma explosão nuclear próxima para empurrar um asteroide de pilha de escombros fora do curso sem destruí-lo”, detalhou.