O fato de um mesmo país ser citado por diferentes especialistas e estatísticas como favorito para vencer a Copa do Mundo não faz jus à expectativa gerada pelo Mundial Feminino a ser disputado na Nova Zelândia e na Austrália. Isso porque o torneio é tido como um dos mais disputados da história.
É fato que os Estados Unidos conquistaram quatro títulos nas oito edições que disputou, que venceram os dois últimos mundiais e que partem como o principal candidato a erguer o troféu na final deste ano, marcada para 20 de agosto.
No entanto, no final de 2022, a seleção do país sofreu três derrotas consecutivas frente a três seleções europeias (Inglaterra, Espanha e Alemanha) e isso deu esperança aos seus rivais para quebrarem a hegemonia americana no Mundial.
“No ano passado, foi disputada a Eurocopa mais equilibrada da história e esta Copa do Mundo será da mesma maneira”, disse Willie Kirk, técnico do time feminino do Leicester, da primeira divisão do futebol inglês.
A BBC News Mundo, junto com a BBC Sport, consultou vários especialistas, ex-jogadores e estatísticas para saber qual é a seleção favorita para ganhar a Copa do Mundo, além de saber quais são as chances das seleções latino-americanas.
Rumo ao título
Com base nos números e projeções da empresa de análise de dados Gracenote, os Estados Unidos aparecem como o candidato com mais chances de defender com sucesso seu título mundial.
A metodologia é baseada na classificação estabelecida pela Fifa para prever os resultados de cada partida, com cerca de um milhão de simulações de todo o torneio.
“É difícil ver além dos Estados Unidos”, admite a atacante da Irlanda do Norte Simone Magill.
“Elas têm uma trajetória de sucesso e o histórico fala por si. A mentalidade delas faz uma grande diferença e são uma máquina de vencer. É difícil ver isso mudando nesta temporada”, acrescentou.
Mas uma das lendas do futebol inglês, Kelly Smith, considera que “elas tiveram alguns contratempos recentemente em termos de resultados e não têm os mesmos grandes nomes na escalação”.
A jornalista venezuelana da ESPN Deportes Geraldine Carrasquero concorda que a renovação do elenco pode ser um fator decisivo.
“É impressionante, mas tem 14 novas jogadoras que nunca estiveram na Copa do Mundo e temos que ver como elas respondem”, disse ele.
Segundo o Gracenote, a seleção norte-americana tem 18% de chances de conquistar o pentacampeonato mundial, mas isso mostra que o favoritismo está longe de ser avassalador.
Alemanha e Suécia aparecem como seus principais rivais, com 11% de chance, embora as nórdicas apareçam do mesmo lado da tabela dos EUA e teriam que enfrentar as americanas nas semifinais.
Em seguida, vem a França com 9%, logo à frente da campeã europeia Inglaterra, que, junto com a Espanha e a anfitriã Austrália, têm 8% de chance.
O melhor time latino-americano da lista é o Brasil, vice-campeão mundial em 2007, com 7%.
Adeus ao sonho de Marta?
Apesar de estar com o oitavo melhor percentual nas estatísticas, o otimismo no Brasil é bastante moderado.
“É um time que está passando por uma mudança geracional”, disse Renata Mendonça, co-fundadora do site especializado em esportes femininos Dibradoras e comentarista da SportTV, da Rede Globo.
“Se chegar às semifinais será um sucesso, mas tudo indica que terminará em segundo lugar do seu grupo e nas oitavas-de-final terá de enfrentar a Alemanha. Não vai ser nada fácil”, explicou Mendonça.
Aliás, o Gracenote dá 41% de chance às brasileiras em um possível duelo contra a seleção alemã.
“Por que não? Elas têm Marta e muitas jogadoras jovens que estão indo bem na Europa e no campeonato dos Estados Unidos”, respondeu Geraldine Carrasquero quando perguntada se o Brasil poderia vencer a Copa do Mundo.
“Com (a técnica) Pia Sundhage no comando, elas podem surpreender. Elas já mostraram na Finalíssima contra a Inglaterra que estavam bastante equilibradas e empataram fisicamente”, acrescentou.
A verdade é que, com a presença da técnica sueca no banco, há muita expectativa sobre o que o Brasil pode fazer na Copa do Mundo.
“Estou ansiosa para ver como elas jogam”, reconheceu a americana Kristine Kelly, que detém o recorde de partidas disputadas em uma Copa do Mundo.
“Sempre acreditei que, se tivessem uma formação e treinamento melhores, seriam uma equipe realmente temível”, alertou.
E as outras seleções latino-americanas?
A América Latina terá seu maior número de representantes em uma Copa do Mundo, graças ao aumento do total de equipes participantes — de 24 para 32.
Mas também devido ao progressivo desenvolvimento do futebol feminino em alguns países da região.
Argentina, Colômbia e Costa Rica já sabem o que é jogar uma Copa do Mundo, enquanto Haiti e Panamá farão sua estreia no torneio.
Todas com objetivos muito diversos, mas nem por isso menos ambiciosos.
“Minha expectativa para as seleções sul-americanas é que consigam derrubar seus respectivos tetos de vidro”, disse Carrasquero.
No caso da Argentina, por exemplo, seria vencer seu primeiro jogo.
“A seleção está em um processo que começou há dois anos com a chegada de Germán Portanova como técnico”, explicou Angela Lerena, comentarista do TNT Sport e da TV Pública.
“A Argentina tinha uma atitude mais defensiva, sabendo que era inferior à maioria das seleções que estão na Copa do Mundo.”
“Mas agora disseram que não, que vão jogar como a Argentina joga, tentar jogar no campo rival, pressionar alto, ter um protagonismo e atacar com muita gente”, acrescentou.
Para Lerena, o mais importante é que elas busquem uma identidade futebolística além do resultado.
“Gosto da ideia de que o futuro está sendo construído. Se uma vitória for conquistada nesta Copa do Mundo, é isso, a história foi feita”, concluiu.
A Colômbia, por sua vez, terá a difícil tarefa de tentar igualar o que conquistou na Copa do Mundo no Canadá, oito anos atrás, quando surpreendentemente venceu a França e se classificou para as oitavas de final, quando perdeu para os Estados Unidos.
“Acho que pode passar para a próxima fase”, disse uma confiante Carrasquero, da ESPN Deportes.
“Para isso, vai depender do que ela sabe fazer com a bola e de suas habilidosas jogadoras como Linda Caicedo, Catalina Usme, Mayra Ramírez e Leicy Santos.”
Quanto às representantes da América Central e do Caribe, Carrasquero acredita que elas se beneficiam por jogar em uma confederação “onde estão duas das melhores seleções do mundo, Canadá, campeão olímpico, e Estados Unidos, campeão mundial”.
“Isso faz com que o resto tenha que subir de nível porque senão elas resolvem com muita facilidade. Um dos exemplos é que Panamá e Haiti estão lá pela primeira vez e a Costa Rica se mantém.”
As estatísticas de Gracenote dão a times latino-americanos menos de 1% de chances de se tornarem campeãs, mas, por enquanto, não se trata de lutar pelo título, mas sim de alcançar seus próprios marcos.
*Com entrevistas de Laura García e BBC Sport.
Fonte: BBC Brasil