Home Comportamento Uso de redes sociais é associado a mudanças nos cérebros de adolescentes

Uso de redes sociais é associado a mudanças nos cérebros de adolescentes

164
0

A mídia social fornece um fluxo constante e imprevisível de informações aos adolescentes durante um período crítico de desenvolvimento. Nesta fase da vida, o cérebro se torna especialmente sensível aos feedback sociais, algo que quando misturado com a internet, pode não ter um resultado tão bom.

Em contrapartida, adolescentes com menos engajamento nas mídias sociais seguiram o caminho oposto, com uma queda no interesse por recompensas sociais. A pesquisa foi publicada no JAMA Pediatrics na terça- feira (3).

“Os adolescentes que verificam habitualmente suas redes sociais estão mostrando essas mudanças bastante dramáticas na maneira como seus cérebros estão respondendo, o que pode ter consequências de longo prazo na idade adulta, preparando o terreno para o desenvolvimento do cérebro ao longo do tempo”, alerta Eva H. Telzer, professora de psicologia e neurociência da Universidade da Carolina do Norte, em entrevista ao The New York Times.

Influência

 

Os 169 participantes recrutados foram divididos em grupos de acordo com a frequência com que relataram checar os feeds do Facebook, Instagram e Snapchat, e passaram por um exame de ressonância magnética.

O grupo recebeu varreduras cerebrais completas três vezes, em intervalos de aproximadamente um ano, enquanto jogavam um jogo computadorizado que oferecia recompensas e punições.

Durante a análise, os verificadores mostraram ativação crescente de três áreas do cérebro: circuitos de processamento de recompensas — que também respondem a experiências como ganhar dinheiro ou comportamentos de risco — ; regiões cerebrais que determinam a saliência, captando o que se destaca no ambiente; e o córtex pré-frontal, que ajuda na regulação e controle.

“Nosso trabalho mostra que os adolescentes que crescem verificando as mídias sociais com mais frequência estão se tornando hipersensíveis às opiniões de seus colegas”, disse Telzer.

A especialista destaca que apesar de a pesquisa trazer esses indicadores, não é possível decretar que de fato a mídia social está mudando o cérebro. As descobertas não capturam a magnitude das mudanças cerebrais, apenas sua trajetória. E não está claro se as alterações são benéficas ou prejudiciais.

 

O estudo tem limitações importantes: por estarem em um período de formação, o cérebro dos adolescentes estão em constante adaptação, consequentemente os relacionamentos sociais e as interações também. As diferenças cerebrais podem refletir um pivô natural em relação aos colegas, o que pode estar levando ao uso mais frequente da rede social.

As mídias sociais podem tanto ajudar os adolescentes a se conectarem uns com os outros, como também podem levar a ansiedade e depressão se às necessidades sociais não forem atendidas.

“A maneira como você o usa em determinado momento de sua vida influencia a maneira como seu cérebro se desenvolve, mas não sabemos quanto, ou se é bom ou ruim”, disse Jeff Hancock, diretor fundador da o Stanford Social Media Lab, ao jornal americano.

Outras vivências também interferem na construção das relações. Hancock cita, por exemplo, quando pessoas iniciam a prática de alguns esportes em grupo e passam a ter mais interações.

Nem bom, nem ruim

 

A popularidade das redes sociais vem mapeando diversas experiências na adolescência. De acordo com o Pew Research Center, 97% deste público acessa a Internet todos os dias e 46% relatam que estão online quase que constantemente.

Pesquisas relatam que este meio pode servir tanto como um lugar para apoio e validação, como também um “depósito” para discursos de ódio principalmente para os adolescentes LGBTQIA+. Como a pesquisa atual focou apenas nas idades entre 12 e 15 não é possível saber como isso mudou ao longo do tempo.

Jennifer Pfeifer, professora de psicologia na Universidade de Oregon e codiretora do Conselho Científico Nacional de Adolescência diz que toda experiência se acumula e reflete no cérebro.

Para Telzer, a sensibilidade ao feedback social não é boa nem ruim. A chave é entender como esse novo mundo digital está influenciando os adolescentes. “Pode estar associado a alterações no cérebro, mas isso pode ser para o bem ou para o mal. Ainda não sabemos necessariamente as implicações a longo prazo”, finaliza.

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here