Mesmo em pleno 2025, a pressão alta continua matando mães no Brasil — e o pior: essas mortes poderiam ser evitadas. Um levantamento da Unicamp, com dados entre 2012 e 2023, escancara uma realidade cruel: desigualdade social e falta de cuidado continuam deixando gestantes em risco.
Durante esses 11 anos, quase 21 mil mulheres morreram na gravidez, parto ou pós-parto. E em 3.721 casos (18%!), a hipertensão foi a causa. O dado é alarmante, especialmente porque existem formas baratas e eficazes de prevenir esse tipo de complicação. O problema não está na falta de remédio — está no acesso desigual à saúde.
Quem mais sofre? Mulheres negras, indígenas e pobres
O estudo revela uma diferença brutal: mulheres indígenas têm mais que o dobro da taxa de mortalidade que mulheres brancas. No caso das mulheres pretas, o número é quase três vezes maior. E isso não tem nada a ver com biologia.
Segundo os pesquisadores, essas mulheres enfrentam:
- Menor acesso à saúde e educação;
- Mais barreiras pra chegar a um bom atendimento;
- Racismo estrutural nos serviços de saúde.
Em muitos casos, elas são tratadas com descaso ou passam por experiências negativas que geram desconfiança nos profissionais — o que só piora a situação.
Pandemia bagunçou tudo
Em 2022, o Brasil registrou o pico de mortes por hipertensão materna: 11,94 por 100 mil nascimentos. Os especialistas associam isso aos efeitos da pandemia, que desorganizou o pré-natal e a assistência obstétrica nos anos anteriores. Apesar de uma queda em 2023, o dado ainda é considerado isolado.
Começou a gestar? Pré-natal é pra já!
O professor José Paulo Guida, da Unicamp, é direto:
“Uma mulher não morre de uma hora pra outra. Em vários momentos, ela poderia ter sido salva.”
No Brasil, a maioria das gestantes só começa o pré-natal no quarto mês de gravidez. E isso é tarde demais para evitar riscos que começam logo no início da gestação.
Dois medicamentos simples — carbonato de cálcio e ácido acetilsalicílico (AAS) — podem reduzir em até 40% o risco de complicações, mas precisam ser usados antes da 16ª semana de gravidez.
E mesmo assim, esses medicamentos ainda faltam nas unidades de saúde em várias regiões. Além disso, muitos profissionais não estão preparados para identificar os riscos e agir com rapidez.
Atenção aos sinais!
Toda gestante deve correr para um pronto atendimento se sentir:
- Dor de cabeça persistente;
- Inchaço no rosto e braços;
- Dor no estômago, enjoo intenso;
- Pontinhos brilhantes na visão.
Esses são sinais de alerta que podem indicar risco de convulsão, uma das maiores ameaças ligadas à pressão alta na gestação. O tratamento com sulfato de magnésio é fundamental para evitar esse quadro.
Idade também pesa
O estudo ainda mostrou que, após os 40 anos, o risco de morte por complicações hipertensivas triplica. Isso porque muitas mulheres nessa idade já têm doenças crônicas, como diabetes e a própria hipertensão.
E tem mais: algumas mortes atribuídas a hemorragias podem estar ligadas à pressão alta, que afeta a coagulação do sangue.