O samba amanheceu de luto neste domingo. Morreu na noite de sábado (14), no Rio de Janeiro, aos 88 anos, Bira Presidente — ou simplesmente Bira, para os íntimos do ritmo que ele ajudou a transformar. Fundador do Fundo de Quintal e presidente vitalício do tradicional Cacique de Ramos, Bira deixa um legado gigante na história da música brasileira.
Muito mais do que um músico, Bira era presença, era energia. O jeito único de dançar o “miudinho” virou marca registrada, e sua elegância no palco fez dele uma referência dentro e fora da roda de samba. Quem já ouviu banjo, tantã ou repique de mão tocando junto num pagode provavelmente está escutando o eco da revolução que ele e seus parceiros criaram lá atrás.
A história de Bira com o samba começa cedo. Em 1961, ele ajudou a fundar o bloco Cacique de Ramos, na zona norte do Rio, que anos depois viraria o berço do Fundo de Quintal — um dos grupos mais influentes da música brasileira. Ao lado de feras como Ubirany, Sereno, Almir Guineto e Jorge Aragão, Bira participou da construção de um novo jeito de fazer samba, com uma sonoridade que cruzou gerações e até hoje serve de referência para novos artistas.
Nos últimos meses, Bira enfrentava uma batalha contra um câncer de próstata e também os efeitos do Alzheimer. Internado na Barra da Tijuca, a morte foi confirmada no sábado, por volta das 23h55.
Em nota, o Cacique de Ramos resumiu o que todos sentem:
“Bira construiu uma trajetória marcada pela firmeza, pela ética e pela contribuição inestimável ao samba e à cultura popular brasileira.”
Pai de duas filhas, Karla Marcelly e Christian Kelly, avô de Yan e Brian e bisavô de Lua, Bira deixa sua família e uma legião de admiradores que cresceu ouvindo o som que ele ajudou a moldar.
Mesmo nos últimos anos, já lidando com as limitações da saúde, Bira mantinha seu bom humor e carinho pelo público. Em uma de suas últimas entrevistas, durante o Rock in Rio, mostrou a leveza que sempre o acompanhou:
“A gente lida com o tempo… e com muitos públicos. Eu fico agradecido é de pessoas como você, elegante, que poderia ser meu filho, essa é a minha satisfação.”
O samba perdeu um dos seus maiores mestres. Mas a obra de Bira Presidente continua viva, girando em cada roda, ecoando em cada batida e inspirando as próximas gerações.