No Dia da Consciência Negra — celebrado neste 20 de novembro, data que marca a morte de Zumbi dos Palmares — o presidente da Fundação Cultural Palmares, João Jorge Santos Rodrigues, trouxe uma análise dupla: apesar dos avanços históricos, o Brasil ainda enfrenta um racismo profundo, persistente e estruturado.
Em entrevista à Agência Brasil, Rodrigues lembrou que os últimos 60 anos foram marcados por conquistas importantes na luta por igualdade racial. Ele destacou o papel decisivo de lideranças como Abdias Nascimento e Lélia Gonzalez, que ajudaram a abrir caminhos para uma sociedade mais democrática e plural.
Segundo ele, ações afirmativas como cotas raciais, a criação do Ministério da Igualdade Racial e a demarcação de territórios quilombolas fazem parte dessa transformação — mas ainda não são suficientes.
“O racismo no Brasil é sofisticado, permanente e sistêmico. Ele encontra formas de impedir que a população negra usufrua plenamente dessas políticas. Basta olhar para as chacinas no Rio, Bahia ou São Paulo”, afirmou.
Serra da Barriga: símbolo de memória e resistência
Rodrigues também reforçou o papel da Fundação Palmares na preservação da Serra da Barriga, em Alagoas — território do maior e mais resistente quilombo das Américas: o Quilombo dos Palmares. No local funciona o Parque Memorial Quilombo dos Palmares, dedicado à história e cultura afro-brasileira.
Ele lembrou que o espaço passou seis anos sem celebrações do Dia da Consciência Negra — entre 2018 e 2022 — e destacou a importância do feriado nacional, sancionado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelas ministras Anielle Franco (Igualdade Racial) e Margareth Menezes (Cultura).
“A população negra não pede nada além do que é devido. Construímos esta nação com trabalho e sangue. O Brasil é a terceira maior população negra do mundo, com 113 milhões de pessoas”, ressaltou, defendendo reparações históricas.
O presidente da Fundação também mencionou melhorias recentes no parque e reforçou a importância de manter viva a memória não só da população negra, mas também de mulheres, povos indígenas, catadores e personagens históricos apagados — como os envolvidos na Guerra de Canudos e na Revolta dos Malês.
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Avanços na educação e presença negra nas universidades
Quem também avaliou o cenário atual foi Larissa Santiago, secretária-executiva do Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial (CNPIR). Para ela, o país evoluiu na forma de discutir racismo e igualdade racial.
“As pessoas entendem mais o que significa igualdade racial. Há mais clareza e capilaridade nesse debate”, disse.
Larissa destacou que o avanço das políticas educacionais — como a ampliação das cotas nas universidades e no serviço público — foi fundamental para aumentar a presença de estudantes e professores negros em instituições federais, cursos técnicos e universidades.
Essa presença, afirma, melhora a formação das novas gerações e cria mais espaço para debates sobre raça, gênero e classe dentro das salas de aula.
Desafios ainda são grandes
Apesar dos avanços, tanto Rodrigues quanto Santiago destacam que o país ainda enfrenta desafios enormes, especialmente em áreas essenciais como saúde e segurança pública.
Por ser um país de dimensões continentais, a desigualdade racial varia entre regiões — mas se repete em um ponto central: a população negra é a que mais sofre com a falta de acesso a direitos básicos.
“Saúde e segurança são pilares fundamentais para que a igualdade racial chegue de fato na ponta. Ainda precisamos avançar muito”, concluiu Larissa.
