A recente revelação de detalhes sobre a tentativa de golpe contra a democracia brasileira reacendeu o debate sobre a ameaça ao Estado de Direito. Para o historiador Marcos Napolitano, professor da Universidade de São Paulo (USP) e especialista na república brasileira, os acontecimentos foram extremamente graves e não se limitaram a discursos ou tensão política. “Houve uma aposta no caos social e um esforço real para a volta da ditadura”, destacou.
Segundo Napolitano, a atuação do Supremo Tribunal Federal (STF) e da Polícia Federal foi essencial para conter o avanço da investida golpista. “Agora, resta saber a posição da Procuradoria-Geral da República (PGR), que decidirá se abrirá inquérito para responsabilizar os envolvidos”, afirmou.
O historiador também apontou fatores que impediram o golpe de prosperar. “Dessa vez, houve mais consensos liberais e democráticos nas instituições políticas e jurídicas do que em momentos anteriores. Além disso, faltou organização e apoio institucional por parte das Forças Armadas, da imprensa e do parlamento”, explicou. Ele destacou que, ao contrário de 2016, setores da classe média e grupos políticos liberais não embarcaram na tentativa de ruptura democrática.
Para Napolitano, o episódio recente é um reflexo da crise política iniciada em 2015 e do avanço do extremismo. “Os articuladores dessa intentona se inspiraram no impeachment de 2016, mas sentiram que o processo não foi ‘completo’, já que Lula conseguiu voltar ao poder pelo voto”, analisou.
O pesquisador comparou o cenário atual com o período anterior ao golpe de 1964. “Houve várias tentativas fracassadas entre 1950 e 1964, até que os golpistas aprenderam e se organizaram melhor. Isso nos ensina que é preciso permanecer alerta e não minimizar os riscos”, alertou.
Para fortalecer a democracia e evitar novas ameaças, Napolitano defende o incentivo à cultura democrática desde a base da sociedade. “Escolas, igrejas, famílias e comunidades precisam reforçar valores democráticos. No entanto, isso é um desafio em um país desigual e com forte tradição autoritária”, pontuou.
Ele também ressaltou a importância de uma postura firme por parte das lideranças políticas. “É essencial que as elites políticas saibam isolar figuras golpistas e administrem o país com seriedade e compromisso republicano”, afirmou. Por fim, defendeu punições rigorosas para os envolvidos na tentativa de golpe. “A única forma de evitar novas investidas contra a democracia é punir os responsáveis de maneira exemplar, dentro dos limites da lei”, concluiu.