Faltando apenas algumas horas para o encerramento oficial da COP30, às 23h59 da sexta-feira (21), as negociações em Belém continuam intensas — e sem previsão de fechar tão cedo. Se não houver consenso entre os países, o debate pode atravessar a madrugada ou até voltar à mesa neste sábado (22).
No começo do dia, foram divulgados os novos rascunhos do chamado Pacote de Belém, que reúne os textos finais da conferência. Mas a recepção não foi das melhores: representantes da sociedade civil apontaram falta de ambição, especialmente em relação às metas climáticas do Acordo de Paris, que prevê barrar o aquecimento global a 1,5ºC.
Fóssil fora do texto? Falha crítica para ambientalistas
A grande frustração: nenhuma menção à eliminação gradual dos combustíveis fósseis, como petróleo e carvão — responsáveis pela maior parte das emissões que aquecem o planeta.
O governo brasileiro, especialmente o presidente Lula, pressionou até o último minuto para incluir no texto algum tipo de cronograma de transição energética. Mas o trecho não avançou.
Especialistas do Observatório do Clima afirmam que a proposta, como está, atende mais aos interesses de países produtores de petróleo.
“É insuficiente. Não há referência a combustíveis fósseis em nenhuma parte”, explicou Stela Herschmann, da entidade. Segundo ela, ainda falta entender como países árabes vão reagir ao trecho sobre financiamento climático.
Países pressionam por mudança imediata
Ao longo do dia, blocos inteiros de países se reuniram em negociações paralelas — África, União Europeia, China+77, países árabes e outros.
Um grupo de 29 nações, incluindo Colômbia, Alemanha, França, Reino Unido e pequenos países insulares como Ilhas Marshall e Vanuatu, pediu uma revisão urgente do texto.
A pressão tem motivos: essas ilhas enfrentam risco real de desaparecer com a elevação do nível do mar.
“Não dá para aceitar um documento que não traga um caminho claro para uma transição justa e ordenada”, afirmaram.
Do lado de fora das salas de reunião, o sentimento é de impasse.
“Não dá pra sair daqui com gosto amargo”, disse Carolina Pasquali, diretora-executiva do Greenpeace Brasil.
Ela lembrou até o incêndio ocorrido na COP no dia anterior: “Assim como o fogo exigiu urgência, a crise climática também exige.
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Cientistas alertam: risco real de aquecer mais de 2°C
Uma carta assinada por renomados cientistas circulou durante o dia, criticando a ausência de combustíveis fósseis nos documentos e alertando que o planeta pode ultrapassar 2ºC de aquecimento — cenário considerado uma ameaça existencial para a vida humana.
Presidente da COP30 e Guterres pedem consenso
Diante da tensão negociadora, tanto o presidente da conferência, André Corrêa do Lago, quanto o secretário-geral da ONU, António Guterres, utilizaram discursos ao longo do dia para pedir união e foco em resultados sólidos.
Apesar do impasse, alguns avanços foram conquistados
Nem tudo ficou travado. A área de adaptação, que trata de ações para proteger comunidades de eventos extremos, registrou progressos.
📌 Lista de indicadores de adaptação
A presidência brasileira apresentou um anexo com 59 indicadores de adaptação (eram 100 na proposta original). São itens ligados a financiamento internacional e apoio a países vulneráveis.
Segundo Daniel Porcel, do Instituto Talanoa, a proposta inclui:
- O processo Belém–Addis Abeba, que vai alinhar políticas de adaptação até a COP31.
- O Baku Adaptation Roadmap, que garante coordenação entre diferentes agendas.
Por outro lado, ainda falta clareza sobre a nova meta de financiamento — especialmente sobre a promessa de triplicar recursos para adaptação.
Direitos indígenas reconhecidos
Na frente da mitigação, houve um ponto considerado histórico:
O plano de trabalho reconhece os territórios indígenas e tradicionais como essenciais para combater a crise climática, como destaca Fernanda Bortolotto, da The Nature Conservancy.
Transição Justa tem avanço importante
Outro progresso veio no tema de transição justa. O texto prevê criar, no próximo ano, um mecanismo multilateral dentro da ONU para coordenar ações pela transição de empregos e economias dependentes de atividades poluentes.
A diretora executiva do Instituto LACLIMA, Caroline Rocha, explicou que as funções do mecanismo serão definidas em Bonn e devem guiar o novo ciclo de trabalho até a COP31.




