Durante a pandemia, os problemas financeiros foram o principal fator de preocupação para as pessoas – foram uma frustração ainda maior do que a solidão. É isso o que concluiu um estudo da Universidade de Edimburgo, no Reino Unido, que foi apresentado na conferência virtual de 2021 da British Sociological Association.
Os pesquisadores fizeram a descoberta depois de analisarem os dados coletados pelo Estudo Longitudinal das Famílias do Reino Unido em três momentos diferentes: 2019, abril de 2020 (pouco após o início do lockdown ser anunciado pelo primeiro-ministro Boris Johnson) e julho de 2020. Ao todo, cerca de 7.200 pessoas participaram da pesquisa.
Os entrevistados tiveram que dar uma nota de 1 a 36 para a sua sensação de bem-estar. Então, os avaliadores ajustaram as respostas recebidas para poderem examinar indivíduos de origens semelhantes e isolar efeitos relacionados a idade, etnia, contexto familiar e situação financeira.
Ao compararem os resultados de 2019 com os de abril do ano passado, os pesquisadores perceberam que o bem-estar de pessoas de 20 a 39 anos, mulheres e pessoas com dificuldades financeiras caiu mais do que a média no início da crise da Covid-19. No entanto, pessoas que pertencem a minorias étnicas ou que têm amigos próximos e parceiros amorosos não tiveram diferenças significativas nesse dado em relação à média.
Essa situação mudou quando foram comparados os resultados de abril de 2020 com os de julho do mesmo ano. Os indivíduos que avaliaram sua situação financeira como bastante ou completamente difícil tiveram uma queda de 27% no seu bem-estar, enquanto aqueles que não relataram nenhuma dificuldade do tipo tiveram uma redução de apenas 1%. Além desse efeito ter sido muito maior do que o observado entre 2019 e abril de 2020, os problemas financeiros também se revelaram como o principal fator de descontentamento das pessoas.
“O impacto das pressões financeiras no bem-estar dos indivíduos se torna muito maior – os participantes que expressaram dificuldade com suas finanças passaram por declínios significativos e consistentes no bem-estar durante a pandemia”, declarou Amy Andrada, coautora do estudo, segundo um comunicado.
Essa não foi a única descoberta da pesquisa. As respostas dos participantes também apontaram que pessoas com 80 anos ou mais foram significativamente menos afetadas do que indivíduos de outras faixas etárias: enquanto os idosos tiveram uma queda de 4% nas suas autoavaliações de bem-estar, menores de 20 anos apresentaram uma diminuição de 10%. “Esse resultado único pode ser devido ao fato de os adultos mais velhos serem mais capazes de apreciar experiências positivas”, disse Andrada.
Os resultados do estudo ainda indicaram que o bem-estar de homens em relacionamentos amorosos caiu 3,5%, enquanto os solteiros tiveram uma queda de 7,5%. Essa situação foi inversa para as mulheres: as que não moram com um companheiro viram seu bem-estar diminuir 3,7%, enquanto as que dividem sua casa com um parceiro tiveram uma queda de 5,5% nesse dado.
“Nossas descobertas revelam que, no início da pandemia, mulheres, pessoas com idade entre 20 e 39 anos e aqueles preocupados com suas finanças experimentaram níveis maiores de deterioração em seu bem-estar”, apontou Andrada.
A pesquisadora ainda adicionou: “Durante a pandemia, a qualidade das relações íntimas pode ser um fator determinante para o bem-estar. Os pais com filhos mais velhos [entre cinco e 15 anos] começaram a se sair melhor quando a crise avançou para o meio do semestre e os homens se beneficiaram significativamente de viver com uma parceira. No entanto, nenhum efeito foi encontrado entre as mulheres com arranjos de vida diferentes”.
Fonte: Revista Galileu | Globo