Um navio cargueiro carregando quase 3 mil vacas está circulando há meses pelo Mediterrâneo em uma situação classificada por especialistas como uma das piores tragédias recentes envolvendo transporte de animais vivos. A embarcação, chamada Spiridon II, está a caminho do Uruguai depois de ser impedida de descarregar a carga na Turquia — e agora pressiona governos europeus e organizações internacionais a intervir.
A última atualização da rota mostra o navio navegando próximo à costa da Líbia, retornando para a América do Sul após semanas preso em águas europeias sem solução.
ONGs alertam: “janela para salvar os animais está se fechando”
A Animal Welfare Foundation, organização que monitora embarques de animais pelo mundo, acompanha o caso de perto e afirma que o navio deve permanecer por mais uma semana na região da Europa.
A entidade abriu uma petição pedindo que algum país aceite receber os animais, muitos deles vacas prenhes em risco extremo.
“Não podemos simplesmente abandonar esses animais. A janela de oportunidade é mínima”, alerta a petição.
Segundo a ONG, a situação é tão crítica que a maioria dos animais não deve sobreviver até o destino final.
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Como tudo começou
O Spiridon II saiu de Montevidéu, no Uruguai, em 19 de setembro, rumo ao porto de Bandirma, na Turquia, levando 2.901 vacas destinadas à engorda e reprodução.
A viagem até o Mediterrâneo levou cerca de um mês. Quando finalmente chegou ao destino, em 22 de outubro, veio o choque: as autoridades turcas negaram a permissão de desembarque.
Motivo: 469 animais estavam sem brinco ou chip eletrônico, itens obrigatórios para rastreamento e certificação sanitária. Sem consenso entre Turquia e Uruguai, o navio ficou mais de três semanas ancorado, com os animais confinados em condições cada vez mais insalubres.
Condições extremas: fome, falta de ventilação e morte a bordo
Com o passar dos dias, o cenário se agravou:
- Falta de alimento e água
- Superlotação
- Pouca ventilação
- Tripulação sem treinamento adequado
- Vacas prenhes em sofrimento
- Bezerros nascendo em condições anti-higiênicas
Ativistas afirmam que metade do rebanho está prenha, e que abortos são quase inevitáveis nas condições atuais.
Mais de 140 bezerros já nasceram no navio, mas as chances de sobrevivência deles são mínimas.
Estimativas iniciais apontam que pelo menos 58 vacas já morreram durante o período de espera. A preocupação agora é que animais mortos sejam jogados ao mar, o que é difícil de fiscalizar.
“Viagem de morte” de volta à América do Sul
Após as tentativas frustradas de negociação, o Spiridon II recebeu autorização apenas para reabastecer água e ração — e, então, partiu para a viagem de volta ao Uruguai.
A chegada à América do Sul está prevista para 14 de dezembro, após mais um mês no mar.
Para especialistas, é uma sentença trágica.
Maria Boada Saña, representante da Animal Welfare Foundation, resumiu:
“É uma viagem de morte. A maioria desses animais não deve sobreviver.”
Navio velho e cheio de falhas
O Spiridon II, que navega sob bandeira de Togo e foi construído em 1973, já tinha mais de 80 irregularidades registradas em inspeções anteriores. Relatórios anteriores apontavam falhas estruturais, riscos sanitários e problemas no sistema de ventilação — fatores que agora agravam a situação.
Caso escancara problema maior
ONGs e especialistas afirmam que o caso não é isolado. Pelo contrário: expõe um sistema falho e perigoso de transporte marítimo de animais vivos, operação que movimenta milhões todos os anos.
A Animal Welfare Foundation e outras entidades pedem o fim definitivo desse tipo de exportação, considerada arriscada, cruel e difícil de fiscalizar.
