Pesquisador da Harvard e professor da UFF, Vitelio Brustolin, analisa que o grupo perdeu força militar após quase dois anos de guerra, mas ganhou relevância política na causa palestina.
O governo de Israel aprovou na quinta-feira (9) um acordo de cessar-fogo com o Hamas, pondo fim a uma das fases mais longas e sangrentas do conflito na Faixa de Gaza. O acordo inclui a libertação de todos os reféns ainda mantidos pelo grupo palestino — e o retorno dos corpos daqueles que morreram em cativeiro.
Em entrevista à CNN Brasil, o pesquisador da Universidade de Harvard e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), Vitelio Brustolin, avaliou que o Hamas está em posição de grande fragilidade militar, sem capacidade real de contra-ataque.
“Militarmente, o Hamas perdeu a guerra. Mas politicamente, conseguiu colocar a pauta do reconhecimento do Estado da Palestina no centro das discussões internacionais”, afirmou o especialista.
Cessar-fogo e novo cenário em Gaza
A declaração de Khalil al-Hayya, chefe político do Hamas exilado, sobre o “fim da guerra com Israel” e o início de um cessar-fogo permanente, reflete o desgaste do grupo após quase dois anos de ofensiva israelense.
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Desde os ataques de 7 de outubro de 2023, Israel respondeu com bombardeios massivos que devastaram grande parte de Gaza e deixaram o Hamas militarmente enfraquecido. Ainda assim, o grupo ganhou visibilidade internacional como símbolo da resistência palestina.
Avanço diplomático da Palestina
Brustolin lembra que, embora o Hamas tenha perdido força nos campos de batalha, a Palestina obteve avanços diplomáticos importantes. Hoje, mais de 80% dos países membros da ONU — incluindo França e Reino Unido, tradicionalmente aliados de Israel — reconhecem o Estado palestino.
Mas o professor ressalta que o reconhecimento político, por si só, não resolve os impasses territoriais.
“A questão da Cisjordânia continua sendo o maior desafio. São cerca de três milhões de palestinos convivendo com 700 mil colonos israelenses. Essa ocupação torna inviável, hoje, a concretização de um Estado palestino autônomo”, explica.
Lições de 2005 e o impacto atual
O pesquisador também recorda que a retirada unilateral de Israel da Faixa de Gaza em 2005 abriu espaço para o fortalecimento do Hamas e sua estrutura militar. Essa decisão, vista à época como um passo em direção à paz, é hoje considerada um erro estratégico por lideranças israelenses.
Com o cessar-fogo aprovado, o mundo agora volta os olhos para as negociações de reconstrução de Gaza e para os rumos políticos do Oriente Médio — em um cenário onde o Hamas sai enfraquecido militarmente, mas fortalecido simbolicamente.