A Festa Literária das Periferias (Flup) abre mais uma edição nesta quarta-feira (19), trazendo para o centro das discussões aquilo que sempre moveu o evento: pensamento negro, memória coletiva e potência cultural das periferias. Em 2025, a programação gira em torno do tema “Ideias para Reencantar o Mundo: Escrevivências, Sonhos e Batidões”, uma celebração das influências políticas e culturais do Caribe na diáspora africana — especialmente no Brasil.
A festa acontece em duas etapas: de 19 a 23 e de 27 a 30 de novembro, no tradicional Viaduto de Madureira, na Zona Norte do Rio, espaço que se transforma em ponto de encontro entre autores, leitores e movimentos culturais das quebradas.
Conceição Evaristo é homenageada pela primeira vez em vida
A grande homenageada da edição é a escritora Conceição Evaristo, referência central quando o assunto é literatura negra no Brasil. Criadora do conceito de “Escrevivência”, ela transformou vivências pessoais e coletivas em um dos movimentos literários mais marcantes da atualidade.
É a primeira vez que a Flup presta homenagem a um autor ainda em vida — um reconhecimento histórico para uma das vozes mais potentes da literatura afro-brasileira.
Frantz Fanon também ganha espaço de destaque
Além da homenagem a Evaristo, o evento também abre uma exposição sobre a trajetória e o pensamento do filósofo, militante e psiquiatra Frantz Fanon, intelectual anticolonial cujas críticas ao racismo estrutural e à violência colonial seguem vivas e urgentes.
A mesa “O Sonho de Nossos Heróis, que Precisamos Manter Vivo” reúne Conceição e Mireille Fanon, filha do filósofo, para discutir as lutas sociais no Brasil e no Caribe, e os líderes que moldaram essas histórias.
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Intervenção digital “Códigos Negros” leva Fanon para as telas do futuro
Inspirada no clássico “Os Condenados da Terra”, a intervenção Códigos Negros mistura arte digital, tecnologia de ponta e crítica social. As obras serão exibidas em telões de LED, e foram criadas pelos artistas Guilherme Bretas, Ilka Cyana, Poliana Feulo e Walter Mauro, em parceria com a organização Olabi.
A curadoria é de Silvana Bahia, que destaca a atualidade do pensamento fanoniano também no debate sobre tecnologia:
“O pensamento de Fanon está tão atualizado e urgente, inclusive para fazer uma discussão sobre tecnologia”.
A intervenção questiona estruturas racistas e misóginas utilizando ferramentas de IA e geração de imagem e vídeo — unindo arte, futuro e memória negra.
12 anos fortalecendo cultura, territórios e conexões
Desde sua criação, a Flup já passou por diversos territórios do Rio: Morro dos Prazeres, Vigário Geral, Mangueira, Babilônia, Vidigal, Cidade de Deus, Maré, Biblioteca Parque, MAR (Praça Mauá) e Morro da Providência. Em cada edição, o evento cria pontes entre literatura, educação, arte e comunidades periféricas.
Ao longo dessa trajetória, acumulou reconhecimentos importantes, como:
- Prêmio O Globo (2012)
- Awards Excellence, da London Book Fair
- Prêmio Instituto Pró-Livro (2016)
- Prêmio Jabuti em Fomento à Leitura (2020)
Em 2023, a Flup foi declarada patrimônio imaterial do Estado do Rio de Janeiro.
Além da programação pública, a festa também mantém formações para novos escritores e já lançou mais de 30 livros.




