Quase 15 anos após o maior desastre nuclear de sua história, o Japão deu sinal verde para retomar a energia nuclear em larga escala. Uma votação regional realizada nesta segunda-feira (22) autorizou a reativação da usina de Kashiwazaki-Kariwa, considerada a maior do mundo, localizada na província de Niigata, a cerca de 220 quilômetros de Tóquio.
O complexo estava desativado desde 2011, quando um terremoto seguido de tsunami provocou o colapso da usina de Fukushima Daiichi, administrada pela Tokyo Electric Power Company (Tepco), no episódio mais grave do setor nuclear desde Chernobyl.
🔁 Retomada gradual da energia nuclear
Desde o desastre, o Japão fechou todos os seus reatores e, aos poucos, vem retomando a produção nuclear. Até agora, 14 das 33 usinas ainda operacionais voltaram a funcionar, numa estratégia para reduzir a dependência de combustíveis fósseis importados e garantir estabilidade energética.
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A aprovação em Niigata abre caminho para que Kashiwazaki-Kariwa seja a primeira grande usina a operar novamente sob gestão da Tepco após Fukushima — um ponto que ainda gera forte resistência popular.
🗳️ Votação expõe divisão na sociedade
A decisão veio após a assembleia provincial aprovar um voto de confiança no governador Hideyo Hanazumi, que já havia manifestado apoio à retomada das operações no mês passado.
“Este é um marco, mas não é o fim. A segurança dos moradores de Niigata precisa ser garantida de forma permanente”, afirmou Hanazumi após a votação.
Apesar da aprovação política, o debate deixou claro que a sociedade permanece dividida. Parlamentares contrários classificaram a decisão como um acordo político desconectado da vontade popular.
✊ Protestos e medo ainda presentes
Do lado de fora da assembleia, cerca de 300 manifestantes enfrentaram o frio segurando cartazes contra a reativação da usina e em solidariedade às vítimas de Fukushima.
“Se algo acontecer, somos nós que vamos pagar o preço”, disse Kenichiro Ishiyama, de 77 anos, morador de Niigata, à agência Reuters.
O temor não é abstrato. Uma pesquisa divulgada pela própria prefeitura revelou que:
- 60% dos moradores não acreditam que as condições de segurança foram plenamente atendidas
- quase 70% demonstram preocupação com a Tepco operando a usina
🧠 Trauma que ainda não cicatrizou
Para quem viveu o desastre de 2011, a decisão reacende feridas. Ayako Oga, de 52 anos, deixou Fukushima após a evacuação de mais de 160 mil pessoas e hoje mora em Niigata.
“Conhecemos o risco de um acidente nuclear na prática. Não dá para fingir que ele não existe”, disse. Ela relata ainda sofrer sintomas semelhantes ao estresse pós-traumático.
⚙️ Quando a usina deve voltar a operar?
Segundo a emissora pública NHK, a Tepco avalia religar o primeiro dos sete reatores em 20 de janeiro. A capacidade total do complexo é de 8,2 gigawatts, suficiente para abastecer milhões de residências.
O plano prevê:
- uma unidade de 1,36 GW em operação já no próximo ano
- outra com a mesma capacidade entrando em funcionamento por volta de 2030
A empresa afirma estar comprometida com padrões rigorosos de segurança.
“Nosso compromisso é garantir que um acidente como Fukushima jamais se repita”, declarou o porta-voz da Tepco, Masakatsu Takata.
📈 Mercado reage positivamente
Após a decisão, as ações da Tepco subiram 2%, superando o índice Nikkei, que avançou 1,8% no mesmo pregão — sinal de confiança do mercado, mesmo diante da resistência social.
