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França: milhares de manifestantes defendem inclusão de línguas regionais no ensino público

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Do norte ao sul da França, sejam ele bascos, bretões, catalães, corsos ou alsacianos, milhares de franceses se manifestaram neste sábado (29) em diferentes cidades para defender a “educação imersiva” nas línguas regionais, censurada pelo Conselho Constitucional francês.

“As pessoas estão aqui porque temem que as escolas associativas sejam fechadas. A decisão do Conselho Constitucional pode tirar todo o seu financiamento” e “põe em causa um método de ensino utilizado há mais de 50 anos”, declarou o deputado de Morbihan, Paul Molac, presente entre os 6 mil manifestantes bretões em Guingamp, no noroeste da França – os organizadores falaram em 10 mil participantes.

Paul Molac é o autor da lei sobre as línguas regionais, votada em 8 de abril na Assembleia e parcialmente rejeitada em 21 de maio pelo Conselho Constitucional, que censurou o método imersivo na escola, ou seja, o ensino realizado em grande parte em outra língua que não o francês, bem como o uso de sinais diacríticos como o til (~) em documentos de estado civil.

Em Bayonne, no extremo sul da costa Atlântica francesa,10 mil pessoas segundo os organizadores (6 mil segundo a polícia) manifestaram-se nas ruas da cidade, num ambiente calmo e familiar, mas com muita determinação.

“Precisamos de soluções para que uma em cada cinco crianças do jardim de infância não seja considerada inconstitucional no início do ano letivo”, exigiu Peio Jorajuria, presidente da Federação de Escolas Associativas Imersivas, conhecida como ikastola, frequentada por 5 mil crianças.

Em fileiras organizadas, as crianças marcharam atrás das placas de suas respectivas escolas.

“O basco é a primeira língua que aprendi, gosto de falar e quero continuar a falar na escola e fora dela”, disse Naroa, de 8 anos.

 

“Da noite para o dia, nos dizem que esse ensino é simplesmente ilegal. Estou muito preocupado com a minha língua. Dizer que somos contra o francês é um argumento falso”, teme Arkaitz, que veio com sua filha Otxanda, de 8 anos.

 

Emendar a Constituição francesa

 

Em Perpignan, no extremo sul Mediterrâneo da França, mil catalães também marcharam ao som de tambores, agitando bandeiras de “sangue e ouro”.

“Parece que eles não sabem o que é uma escola de imersão. Eles acreditam que lá você não aprende francês”, lamentou Elena Gual, diretora da escola Arrels, uma escola de imersão pública, em Perpignan.

 

“Mesmo assim, a fiscalização da academia vem verificar regularmente e sabe que estamos fazendo o trabalho direito. Gostaríamos de continuar ensinando e fazendo o que fazemos há 40 anos”, acrescentou.

De acordo com Yann Uguen, presidente das escolas associativas de ensino imersivo em Breton Diwan, “devemos modificar a Constituição” para sair do “impasse”.

“É um retrocesso, porque é o próprio princípio do ensino imersivo de uma língua regional que foi declarado inconstitucional”, criticou Claude Froehlicher, presidente da associação de pais de alunos Eltern Alsace, em Colmar, onde cerca de 200 pessoas reuniram-se no sábado sob as bandeiras vermelha e branca da Alsácia.

‘Não é folclore’

 

As duas meninas de Cécile Walschaerts, de 7 e 5 anos de idade, uma belga casada com um alsaciano, fizeram aniversário em jardins de infância em imersão alemã/alsaciana.

“A única forma de garantir que os meus filhos se tornem verdadeiros falantes de alsaciano, e depois passem aos filhos uma língua que existe na família há séculos, é dar aulas em imersão”, explicou.

Aprender alsaciano é entrar “num universo de cantigas, lendas, jogos desta língua”, defendeu, recusando que esse aprendizado seja reduzido a “um folclore”.

 

Em Bastia, canções polifônicas da Córsega encerraram ao meio-dia a manifestação de um pouco menos de 200 pessoas, incluindo o líder do movimento de independência “Córsega Libera” e o presidente da Assembleia da Córsega, Jean-Guy Talamoni, em frente ao conselho acadêmico para a defesa da língua da Córsega. Dois cartazes foram exibidos com a mensagem “Para que nossos idiomas vivam”.

“É uma mobilização fundamental. O Conselho Constitucional negou um fato democrático. O que está acontecendo é extremamente grave. Põe em causa todos os dispositivos para o ensino da língua da Córsega”, lançou ao microfone Ghjiseppu Turchini, professor de línguas da Córsega.

Em Lille, cerca de quarenta pessoas solicitaram à reitoria o ensino primário imersivo em Picard e o recrutamento de professores flamengos, que falem também a língua flamenga, presente na Bélgica, na fronteira norte francesa.

Fonte: G1

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