O delegado Fernando Barbosa Bossa, da Polícia Civil de São Paulo, afirmou na segunda-feira (1º) que o caso da mulher atropelada e arrastada na zona norte da capital é uma tentativa de feminicídio marcada por crueldade extrema e impossibilidade de defesa da vítima.
O crime aconteceu no sábado (29). Douglas Alves da Silva, 26 anos, atropelou e arrastou Tainara Souza Santos, 31, por cerca de um quilômetro, deixando a vítima presa sob o carro. Ela teve as pernas mutiladas e está internada no Hospital Municipal Vereador José Storopolli. Por sigilo médico, o hospital não informou o estado de saúde.
Douglas foi preso na noite de domingo (30). Segundo a investigação, ele não aceitava o fim do relacionamento breve que manteve com a vítima.
“Foi motivado pela não aceitação do término, essa sensação de posse, em total desprezo à condição de gênero e de mulher. Uma verdadeira tentativa de feminicídio”, afirmou o delegado.
Como foi o crime, segundo a polícia
Momentos antes, Douglas e Tainara discutiram em um bar. Ele saiu do local, entrou no carro com um amigo e acelerou em direção à vítima:
- Tainara foi atropelada e ficou presa sob o veículo.
- Douglas puxou o freio de mão e fez movimentos para frente e para trás, aumentando os ferimentos.
- O amigo que estava no banco do passageiro tentou impedir, mas não conseguiu.
- O agressor arrancou com o carro e só parou após ser contido pelo amigo, depois de arrastar a vítima por cerca de 1 km.
Imagens de câmeras de segurança registraram o momento do atropelamento. Douglas deve passar por audiência de custódia.
Violência contra mulheres em SP
O caso reacende o alerta sobre a escalada de violência contra mulheres no estado. Só em 2025:
- 207 mulheres foram vítimas de feminicídio
- 22 feminicídios ocorreram apenas em outubro
- 5.838 mulheres sofreram lesão corporal
Para a advogada Luciane Mezarobba, que atua exclusivamente com atendimento a mulheres, o cenário é reflexo de fatores estruturais:
- cultura patriarcal
- desigualdade histórica
- sensação de impunidade
- proximidade entre agressor e vítima, que reduz a percepção de risco
Ela reforça que muitos casos são precedidos por agressões menores, que vão escalando com o tempo.
Por que tantas vítimas não conseguem denunciar?
Segundo Mezarobba, a subnotificação continua sendo um dos maiores obstáculos:
- medo do agressor
- dependência financeira
- falta de acolhimento
- desgaste emocional
- ausência de rede de apoio
Além disso, muitas mulheres ainda enfrentam a revitimização — quando são julgadas pelo que vestem, pela vida pessoal ou por terem buscado ajuda.
O que fazer em casos de agressão?
A orientação é:
- Buscar segurança imediatamente, longe do agressor.
- Acionar a rede de apoio.
- Registrar ocorrência — de preferência na Delegacia de Defesa da Mulher.
- Solicitar medidas protetivas, como afastamento imediato do agressor.
- Registrar novos boletins em caso de reincidência.
- Garantir direitos previstos na Lei Maria da Penha, como:
- atendimento médico e IML
- transporte e abrigo seguro
- acompanhamento para retirada de pertences
- Buscar indenização por danos morais e materiais, com advogado ou Defensoria Pública.
“Precisamos urgentemente ouvir as mulheres e iluminar situações que não podem ser normalizadas”, reforça a advogada.



