Pela primeira vez no mundo, uma vacina contra a dengue que exige apenas uma dose foi aprovada. A Anvisa deu sinal verde para a Butantan-DV, desenvolvida pelo Instituto Butantan, e a novidade promete destravar a cobertura vacinal no país — algo essencial numa das doenças mais explosivas do Brasil.
A aprovação chega num momento em que o país ainda enfrenta dificuldade para vacinar a população com a QDenga, usada atualmente no SUS. O esquema em duas doses vinha sofrendo com abandono: quase metade das pessoas que tomavam a primeira não voltavam para a segunda. Com um imunizante de dose única, esse problema praticamente some.
O que muda com a nova vacina?
Além de simplificar a vida de quem precisa se vacinar, a Butantan-DV tem outro diferencial poderoso: produção nacional em larga escala.
O Instituto Butantan já tem mais de 1 milhão de doses prontas e fechou parceria com a empresa chinesa WuXi para chegar a 30 milhões de doses no 2º semestre de 2026. Isso significa abastecimento contínuo e independência de laboratórios que hoje não conseguem suprir a demanda brasileira.
Resultados que animam os especialistas
A eficácia geral da Butantan-DV ficou em 74,7%, mas os números mais impressionantes são:
- 91,6% de proteção contra dengue grave
- 100% de proteção contra hospitalizações
- Eficaz para quem já teve e para quem nunca teve dengue
Os testes clínicos envolveram mais de 16 mil voluntários ao longo de cinco anos. A maior parte dos casos no Brasil nesse período envolvia os sorotipos 1 e 2, mas por meio de análises complementares validadas pela Anvisa, tudo indica que a vacina também protege contra os sorotipos 3 e 4.
E quanto aos efeitos adversos? A maioria foi leve, como dor no braço ou fadiga — nada fora do padrão das demais vacinas.
Quem vai poder tomar?
Apesar da aprovação, a vacina ainda não tem data para entrar oficialmente no calendário nacional.
A Anvisa liberou o uso para pessoas de 12 a 59 anos, mas a faixa etária e a estratégia de aplicação serão definidas pelo Ministério da Saúde.
A grande pergunta agora é: quem será prioridade?
Idosos, jovens, regiões mais afetadas, municípios com maior risco? Esse debate vai guiar o impacto real da vacina no combate à dengue no Brasil.
O Butantan também planeja expandir: já recebeu autorização para testar a vacina em idosos de 60 a 79 anos e estuda incluir crianças de 2 a 11 anos, já que os dados mostram segurança nessa faixa.



