Alexsandro Pereira nasceu em São Bernardo do Campo (SP), em uma realidade onde luxo era privilégio de poucos. Desde cedo teve que arregaçar as mangas: aos 12 anos já trabalhava como ajudante de pedreiro, servente e engraxate para ajudar no sustento da família. E foi justamente em uma borracharia local que ele também descobriu outro caminho — o da bebida.
Durante anos, o álcool se tornou parte de sua rotina. O que parecia apenas um hábito acabou se tornando um vício que consumia sua energia, seus lucros e sua vida. Entre idas e vindas, ele tentava parar sozinho, mas acabava recaindo. Chegou a ficar até seis meses sem beber, mas a dependência era forte demais. Até que, aos poucos, ele encontrou no esporte uma possibilidade de salvação.
O ponto de virada: o esporte como renascimento
Em 2009, Alex decidiu dar uma guinada: ingressou no kickboxing, modalidade em que começou a construir sua disciplina e foco. Ele mesmo conta que foram quatro anos de luta constante contra a bebida até conseguir abandoná-la de vez.
Hoje, já são mais de 10 anos longe do álcool. Ele carrega essa história de dor e superação na pele, mas também com orgulho — pois ela alimentou sua determinação de entrar no mundo do MMA.
“Poatan” — o nome indígena que ressurgiu
Com o progresso nas lutas, Alex deixou para trás “Pereira” e adotou um nome que conecta passado e força: Poatan. O nome foi dado por seu primeiro treinador de kickboxing, Belocqua Wera, que o inspirou a resgatar sua ancestralidade indígena.
Ele descobriu que seus avós tinham raízes indígenas, algo quase esquecido na família. Poatan, no idioma tupi, significa “mão forte” ou “mão de pedra” — uma metáfora perfeita para sua habilidade de nocautear adversários.
Para marcar essa identidade, ele tatuou nas mãos pedras que simbolizam suas raízes.
Trajetória no ringue e no UFC
Poatan era destaque no kickboxing e venceu Israel Adesanya em duas oportunidades — algo curioso, já que Adesanya mais tarde se tornaria seu rival dentro do MMA.
Com esse histórico e sua força crescente, Alex migrou para o MMA, onde foi ganhando espaço até conseguir uma chance de disputar o cinturão dos médios (até 84 kg) no UFC 281, em 12 de novembro de 2022, contra Adesanya.
Na véspera do combate, ele falou com clareza sobre sua jornada:
“Trabalhava na borracharia desde os 12 anos… comecei a beber e só aumentou. Tentei parar sozinho várias vezes. O esporte foi o caminho que me salvou.” (UOL)
Ele reconhece que as vitórias passadas contra Adesanya no kickboxing não garantem nada no octógono, mas admite que no aspecto psicológico, ter vencido pode dar uma pequena vantagem mental.
Os desafios mais difíceis — segundo seu treinador
Belocqua Wera, que o acompanhou de perto desde o início, relatou que Alex chegou a consumir um litro de cachaça por dia em seus piores momentos.
Ele contou que usou remédios naturais e conhecimentos ancestrais para resgatar o lutador: chás, dieta com raízes indígenas e muito suporte psicológico.
Em um episódio marcante, Belocqua relata fazer um ritual de “morte simbólica” de Alex Pereira para que nascesse o “guerreiro Poatan” — uma reconstrução mental acompanhada de rituais, treinos intensos e trabalho com identidade.
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Legado e projeções
Hoje, Alex Poatan é mais do que um lutador: é símbolo de superação, identidade e força. Ele representa muitos que lutam contra vícios e buscam renascer.
Além disso, o registro de sua ancestralidade indígena e o uso do nome Poatan agregam valor simbólico forte — é uma forma de visibilidade para povos originários dentro de uma arena global como o UFC.
No octógono, ele se tornou figura de respeito e competência técnica. No Brasil e no mundo, sua história ressoa como exemplo para quem enfrenta batalhas invisíveis.
