Em plena escalada de tensão com os Estados Unidos, o governo da Venezuela recuperou uma figura bem conhecida da TV estatal: o “Super Bigode”, uma versão animada e heroica do presidente Nicolás Maduro. Criado em 2021 como peça de propaganda chavista, o personagem voltou ao centro da narrativa oficial justamente quando navios de guerra americanos se aproximam da costa venezuelana — e Donald Trump cogita uma operação militar para derrubar Maduro.
Super-herói com sotaque bolivariano
O desenho, exibido pela emissora estatal, mostra Maduro como um super-herói bigodudo que derrota conspirações, inimigos externos e até missões “imperialistas”. Em setembro, quando Trump autorizou ataques contra barcos suspeitos de tráfico na região, o Super Bigode apareceu em um episódio especial vestindo uniforme militar e brandindo uma espada, defendendo que a Venezuela não tem “cultura bélica”.
Apesar disso, o discurso do regime tem oscilado: ora pede calma e normalidade, ora convoca a população a se preparar para “qualquer cenário”.
Um país sem campanha de guerra nas ruas
Diferente de momentos anteriores de crise, Caracas não foi tomada por outdoors, faixas ou grafites conclamando apoio ao governo. Repórteres da CNN no país não viram mobilização visual típica de campanhas nacionalistas. A mensagem do regime, desta vez, se concentra na TV estatal e nos discursos — e não no espaço público.
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Maduro paz & amor, Cabello linha-dura
A comunicação oficial se divide em dois eixos:
• Maduro tenta se apresentar como pacificador.
Desde agosto, multiplicou aparições públicas, sempre cercado por forte aparato de segurança. Chegou a cantar Imagine, de John Lennon, pedindo a Trump um diálogo “cara a cara”.
• Diosdado Cabello assume o tom agressivo.
O ministro do Interior e apresentador do popular Con el Mazo Dando adota o estilo oposto: acusa opositores, provoca Washington e reforça a narrativa de que os EUA querem os recursos naturais da Venezuela — não combater o tráfico de drogas. Em seu programa, alterna piadas, ataques políticos e trechos de discursos de Hugo Chávez desafiando os americanos.
O contraste funciona como complemento estratégico. Segundo analistas, Cabello mantém a postura dura que agrada à ala mais radical do chavismo, enquanto Maduro tenta parecer moderado e “aberto ao diálogo”.
Militares entram na cena
Vídeos publicados pelas Forças Armadas venezuelanas também ajudam a compor o clima de tensão: soldados em treinamentos, estruturas antitanque em Caracas e milicianos armados, quase sempre ao som de trilhas dramáticas.
Ao mesmo tempo, o governo tenta evitar sensação de pânico interno — um equilíbrio difícil de manter.
O alvo preferido: Marco Rubio
Embora Maduro e Cabello evitem críticas muito diretas a Trump, um nome aparece com força na retórica oficial: Marco Rubio, secretário de Estado americano.
Cabello o chama de “Cubano Louco” e diz que o político tenta empurrar Trump para uma guerra que o presidente não quer. Para o regime, Rubio funciona como inimigo perfeito: figura influente, linha-dura contra governos de esquerda e com forte base cubano-americana na Flórida.
A estratégia, segundo especialistas, é clara: personalizar o “inimigo externo” para manter a base chavista mobilizada — algo muito presente em regimes autoritários.
Entre propaganda, ameaça e incerteza
Apesar do tom épico do Super Bigode, o governo venezuelano parece dividido entre elevar o nível da retórica e manter controle interno. O dilema é antigo: como reforçar a narrativa de resistência sem criar pânico nacional?
Enquanto isso, os EUA continuam pressionando e a presença militar no Caribe permanece.
Resta saber se, no próximo episódio, o Super Bigode vai seguir cantando John Lennon — ou finalmente desembainhar a espada.
