A imagem de dezenas de corpos enfileirados na Praça São Lucas, no Complexo da Penha (RJ), chocou o país na quarta-feira (29). Depois da megaoperação policial que deixou 119 mortos — sendo 115 civis e 4 policiais —, mães, irmãs e esposas se reuniram para chorar seus mortos e cobrar respostas do Estado.
Entre elas estava Elieci Santana, 58 anos, dona de casa, que recebeu uma mensagem do filho Fábio Francisco Santana, de 36, dizendo que iria se entregar. Pouco depois, soube da morte dele.
“Meu filho se entregou, saiu algemado. E arrancaram o braço dele no lugar da algema”, contou, em desespero.
“Eles estavam vivos, mas ninguém pôde subir”
Outra mãe, Tauã Brito, confeiteira, diz que o filho Wellington ainda estava vivo na mata quando a operação terminou:
“Fui no Hospital Getúlio Vargas pedir pra subirem e salvarem esses meninos. Ninguém podia subir. Eles estavam vivos.”
“A gente ficou lá, cada um caçando seus filhos, seus parentes. Isso tá certo pro governo?”, questionou.
Tauã, emocionada, afirmou que só queria tirar o corpo do filho da rua:
“Não vai dar em nada. Aqui tem um monte de gente chorando, mas lá fora tem um monte de gente aplaudindo. Isso foi uma chacina.”
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Corpos com sinais de execução
O advogado Albino Pereira, que acompanha parte das famílias, denunciou indícios de execuções e torturas.
“Tem corpo com marca de queimadura, tiros à queima-roupa e até decapitação. Isso foi um extermínio”, afirmou.
De manhã, equipes da Defesa Civil recolheram os corpos e os encaminharam ao IML. Imagens mostraram moradores ajudando a carregar as vítimas — uma cena que muitos classificaram como desumana.
“Segurança não se faz com sangue”
O fundador da ONG Rio da Paz, Antonio Carlos Costa, criticou a forma como o Estado atua nas favelas:
“O Estado não entra com saneamento, moradia, escola, hospital… só entra com fuzil. Por que a resposta tem que ser essa?”, questionou.
A professora Jacqueline Muniz, especialista em segurança pública da UFF, classificou a operação como uma “lambança político-operacional”.
A operação mais letal da história do Rio
Batizada de Operação Contenção, a ação das polícias Civil e Militar mobilizou 2,5 mil agentes e é considerada a mais letal do Rio em 15 anos.
Segundo o governo estadual, os mortos “reagiram com violência” e os que se entregaram “foram presos”. Ao todo, 113 pessoas foram detidas.
Mesmo assim, movimentos de favelas e organizações civis denunciaram o episódio como um massacre e voltaram a cobrar uma política de segurança baseada em inteligência e prevenção — não em mortes.
🧠 Contexto Jovem na Mídia
Essa operação escancara um problema antigo: enquanto o Estado insiste em entrar com bala, as comunidades seguem sem oportunidades, sem estrutura e sem voz.
A pergunta que fica é: até quando a paz vai ser tratada como guerra?



