Em 1818, Mary Shelley criou um monstro para alertar sobre os perigos da ambição humana. Mais de dois séculos depois, Guillermo Del Toro revive essa história na Netflix — e transforma “Frankenstein” em um grito moderno sobre os limites da criação e da tecnologia.
O diretor, vencedor do Oscar e apaixonado por monstros desde a infância, finalmente realizou o sonho de adaptar o clássico que o inspirou desde o início da carreira. O resultado é uma produção grandiosa, sombria e, acima de tudo, profundamente atual.
O novo Frankenstein é sobre nós — e nossas criações
O longa de Del Toro vai muito além do terror gótico. É uma reflexão sobre a responsabilidade de quem cria — e um espelho assustador da era da inteligência artificial.
Na trama, Victor Frankenstein (Oscar Isaac) é um cientista movido por ambição e traumas familiares, decidido a desafiar os limites da vida e da morte. Sua criatura, interpretada por Jacob Elordi, nasce como um ser inocente, mas logo é moldada pela crueldade do mundo que o rejeita.
O filme alterna entre as perspectivas do criador e da criatura, mostrando que, no fim, ambos são monstros — um pela arrogância, o outro pela dor. Essa dualidade dá força à narrativa e torna o longa uma metáfora direta sobre a era das IAs: quando a criação foge do controle do criador.
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A era da IA e o “monstro” que criamos
Del Toro não precisa citar OpenAI, Google ou Microsoft — mas a crítica está ali, pulsando em cada cena. Assim como Victor nunca pensou no que viria depois de dar vida ao seu monstro, a humanidade também criou algo sem entender as consequências.
As inteligências artificiais de hoje são, no fundo, colchas de retalhos digitais — montadas com fragmentos da nossa própria produção, aprendendo, errando e evoluindo sozinhas. Assim como a criatura de Frankenstein, elas são o reflexo da sociedade que as construiu: poderosa, mas repleta de falhas éticas e morais.
E o paralelo é assustador. As grandes empresas de tecnologia lançam ferramentas que aprendem sozinhas, corrigem a si mesmas e, às vezes, causam estragos. Enquanto isso, a ficção de Del Toro parece nos perguntar: “Quem é o verdadeiro monstro — a criação ou quem a colocou no mundo sem pensar nas consequências?”
Feito à mão em tempos digitais
Se a crítica à tecnologia está presente na história, a produção é quase um ato de resistência. Del Toro fez questão de criar um filme artesanal, com cenários reais, maquiagem prática e nada de exagero em CGI.
Jacob Elordi passava até 10 horas na cadeira de maquiagem para se transformar no monstro, e os sets — incluindo um gigantesco barco — foram construídos do zero, em vez de renderizados por computador. O resultado é um espetáculo visual autêntico, com texturas, sombras e detalhes que parecem gritar: “O cinema ainda é feito por mãos humanas.”
Além da fotografia impecável, o figurino é outro destaque. As luvas vermelhas de Victor e os tons contrastantes da criatura transformam cada personagem em um símbolo vivo dentro dessa fábula moderna.
Reflexão, arte e humanidade
Com duas horas e meia de duração, “Frankenstein” é intenso, mas nunca cansativo. O roteiro — dividido em capítulos — equilibra drama, filosofia e terror existencial. Oscar Isaac entrega um Victor instável e genial, enquanto Jacob Elordi emociona ao mostrar a vulnerabilidade da criatura que só queria entender o que é ser humano.
O longa de Del Toro é uma aula sobre criação e responsabilidade. É sobre o que acontece quando o desejo de “ser Deus” ultrapassa o amor pela própria humanidade. E, ao mesmo tempo, é uma das produções mais visualmente poéticas que a Netflix já lançou.
Vale a pena assistir?
Sim, e muito. “Frankenstein” é mais do que uma adaptação — é um manifesto sobre a era digital e o preço da ambição moderna. Del Toro recria um clássico sem perder sua essência, mas o transforma em um espelho do nosso tempo: um mundo que cria máquinas inteligentes e esquece de olhar para dentro de si.
Ao final, fica uma sensação poderosa: talvez o verdadeiro monstro nunca tenha sido o de Shelley — mas nós mesmos.
🧠 Assista a “Frankenstein” na Netflix e tire suas próprias conclusões: será que ainda somos os criadores… ou já viramos as criaturas?




